domingo, 2 de maio de 2010

EUA - México não é o Afeganistão.


Os Narcotraficantes, os Contras e o Nafta

EFE
Polícia mexicana prende grupo acusado de realizar sequestro
Polícia mexicana prende grupo acusado de realizar sequestro

Thomas Friedman
Do The New York Times

Este é um momento esquisito para as relações entre Estados Unidos e México. O governo mexicano emitiu (na semana passada) um comunicado alertando os mexicanos sobre viagens ao Arizona - onde poderiam ser detidos pela polícia sem nenhuma razão -, e o governo dos Estados Unidos emitiu um comunicado alertando os americanos sobre viagens ao norte do México - onde poderiam ser mortos pelos traficantes sem nenhuma razão. Enquanto isso, espera-se que a Wal-Mart do México abra 300 novas lojas no país neste ano, graças à crescente demanda mexicana por bens de consumo. E os cartéis de drogas do México provavelmente abrirão tantas novas rotas de tráfico nos Estados Unidos, graças à crescente demanda por maconha, cocaína e "crystal meth".

Nós tratamos a relação México-Estados Unidos como algo consolidado. Mas, com a guerra das drogas no México se transformando em tiroteio de Velho Oeste nas ruas da cidade e com nossa política de imigração se tornando mais dura, o que está acontecendo no México tornou-se muito mais crítico para a política externa americana e merece mais atenção de nossa parte. O México não é o Afeganistão, mas também não chegou a tudo o que esperava ser hoje. Parece haver algo entravado aqui.

Três grupos estão agora disputando para moldar o futuro do México. Eu os chamaria de os "Narcotraficantes", os "Contras" e os "Naftas". Torço pelos Naftas.

Os Narcotraficantes são os cartéis de drogas que agora estão audaciosamente se atacando em guerras territoriais e desafiando o estado pelo controle das cidades. O sucesso dos esforços americanos e colombianos para interditar o tráfico de drogas através do Caribe e do norte da Colômbia obrigou os cartéis a reposicionar suas principais atividades de tráfico através da espinha dorsal do México. O presidente Felipe Calderón está corajosamente tentando enfrentá-los, mas os Narcotraficantes têm armas maiores do que as do exército mexicano - a maior parte contrabandeada de lojas de armas dos Estados Unidos.

O diário mexicano Reforma informou na semana passada que "a recente onda de insegurança no México fez os negócios relacionados a segurança pública, blindagem de veículos, seguros, sistemas de posicionamento por satélite e coletes à prova de balas crescerem a um nível sem precedentes". As empresas no México, acrescentou o jornal, hoje investem entre 1% e 3% de sua receita de vendas em segurança. Em 2006, era apenas 0,5%.

Enquanto os Narcotraficantes são a má notícia em alta, a boa notícia em alta é a classe média nascente no México - algo desse tipo. O México tem duas classes médias. Uma vive do petróleo explorado e exportado pela estatal petrolífera Pemex, que financia 40% do orçamento do governo. Esse orçamento sustenta uma rede de salários e subsídios para sindicatos de professores, trabalhadores de companhias de energia elétrica nacionais, sindicatos de produtores rurais, funcionários públicos e trabalhadores da Pemex.

Eu chamaria esse grupo de "Contras" porque eles são a principal força de oposição a qualquer reforma que envolva privatizar empresas pertencentes ao estado, como a Pemex, abrir os setores de petróleo e energia elétrica a investidores estrangeiros ou à competição doméstica, ou trazer melhores práticas e responsabilidade final às escolas mexicanas, onde o controle dos sindicatos mantém a educação pública do México entre as piores do mundo.

Felizmente, porém, existe aqui uma outra classe média emergente, que o economista mexicano Luis de la Calle descreve como a "classe média meritocrática". São pessoas que vieram do interior do país para trabalhar em novas indústrias criadas pelo Nafta. Essa classe média emergente tem uma poderosa aspiração a escapar da pobreza. O México padronizou os testes escolares de aquisição de competências, portanto, você pode ver como as escolas em uma comunidade se comparam. Alguns dos melhores resultados, disse de la Calle, hoje podem ser encontrados em pequenas escolas particulares de bairros pobres da Cidade do México onde residem os "Naftas".

O que também impressiona, acrescentou ele, são os nomes das escolas particulares em alguns desses distritos pobres da Cidade do México, como Iztapalapa: "elas se chamam John F. Kennedy, Abraham Lincoln, Isaac Newton, Winston Churchill, Carlos Marx, Van Gogh e Instituto Wisdom". Por que esses nomes? Eles são um apelo às aspirações dos mexicanos, dos quais quase 40% vivem abaixo da linha de pobreza, mas 75% se identificam como "classe média" nas pesquisas.

De la Calle também estudou os 50 principais nomes de bebês mexicanos em 2008. Os mais populares para meninas, disse ele, incluíam "Elizabeth, Evelyn, Abigail, Karen, Marilyn e Jaqueline", e para meninos, Alexander, Jonathan, Kevin, Christian e Bryan". Não apenas Juans. "Nós temos duas classes médias", disse de la Calle. "Uma é formada pelos sindicatos de professores, pela Pemex e pelas companhias de energia, que exploram o governo mexicano. Esses são os conservadores da classe média e querem preservar o staquos quo. Mas há uma classe média emergente e muito maior surgindo do fundo, a qual envia suas crianças para o Instituto Wisdom e tem uma visão meritocrática do mundo".

Então, esta é a minha previsão: quando a invariavelmente decadente produção de petróleo do México conhecer a sua classe média meritocrática emergente, você verá uma verdadeira reforma política e econômica aqui. Isso será quando os "Contras" não tiverem mais os recursos para manter o status quo e quando os Naftas do Instituto Wisdom exigirem as reformas que lhes possibilitarão desenvolver o seu completo potencial.

Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times desde 1981. Foi correspondente-chefe em Beirute, Jerusalém, Washington e na Casa Branca (EUA). Conquistou três vezes o Prêmio Pulitzer, até que em 2005 foi eleito membro da direção da instituição. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.

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