Por Mauro Santayana
Voltam alguns tucanos paulistas a insistir na pressão sobre o ex-governador Aécio Neves para que aceite compor a chapa de seu partido, como candidato a vice-presidente de José Serra. Agem como se a vitória do paulista fosse questão de salvação do país, diante de uma catástrofe, e como se essa vitória dependesse apenas da aquiescência do mineiro em ser o segundo na postulação. Com todo o respeito, essa insistência revela menosprezo pela inteligência política do neto de Tancredo Neves.
Em primeiro lugar, por mais méritos tenham os dois candidatos, a eleição é sempre incerteza. Se Aécio fosse decisivo para a vitória da oposição, o correto teria sido caber a ele a cabeça de chapa. O partido, sem embargo, não quis correr o risco de consultar as bases. Confiou, com suas informações e razões, em que o candidato José Serra, com a força das bases eleitorais e econômicas de São Paulo, poderia desprezar a etapa das prévias e impor-se à nação. Foi uma escolha que Aécio, ao pressenti-la, não contestou, preferindo – como anunciou em dezembro – dedicar a Minas todas as suas preocupações. O raciocínio pode parecer presunçoso, mas se funda na experiência histórica: o Brasil precisa de Minas, como o eixo de sua razão política e alicerce de sua soberania. Quando falta à República o bom-senso de Minas, todos os desacertos são possíveis. Por isso mesmo – ou seja, para oferecer ao Brasil a solidez das montanhas – os mineiros, de um modo geral, dão tanta atenção à Presidência da República quanto a dão ao governo do estado. Os homens públicos mineiros consideram indispensável passar pelo Palácio da Liberdade, antes de postular a Presidência da República. Assim o fizeram todos os mineiros que chefiaram o Estado nacional, como foram Affonso Pena, Wenceslau Braz, Artur Bernardes, Juscelino Kubitschek e – de forma transcendental – Tancredo Neves.
A candidatura de José Serra não será beneficiada se Aécio a ela se dedicar como postulante à Vice-Presidência, em prejuízo de sua indispensável presença em Minas, cujo eleitorado decidirá, como fiel da balança, os resultados de outubro. Será no decorrer de sua postulação, já anunciada, ao Senado Federal que o mineiro ajudará o candidato de seu partido. E, como senador, sua influência no Congresso garantirá a Serra, se ele se eleger, suporte muito mais importante do que a sua presença na aprazível residência vice-presidencial do Jaburu.
O homem público ideal é aquele que concilia a natural ambição de realização pessoal com suas convicções. Sem ideias políticas sólidas, as ambições pessoais militam no vazio e, quase sempre, conduzem a governos desastrados. Por outro lado, as ideias, para que se realizem no poder, pedem o empenho que só a expectativa da glória impõe ao candidato.
Aécio já trafegou grande parte do caminho político para contentar-se com a Vice-Presidência. Os dois casos em que mineiros se elegeram vice-presidentes, dentro do processo atual, de vinculação automática ao candidato à Presidência, são atípicos. Itamar, como tantos outros brasileiros honrados, sentiu-se atraído pela disputa ao lado de Collor, diante de seu (falso, como vimos) programa de moralização do Estado. Mas soube legitimar-se no momento em que as circunstâncias o levaram à chefia do Estado, com desempenho ético singular. José Alencar se tornou, realmente, a presença necessária ao lado de Lula, a fim de retirar do candidato a pecha de revolucionário alucinado.
Serra não precisa de quem o avalize. Suas posições são conhecidas e não ameaçam o mercado como, de resto, também não o ameaça a candidatura situacionista. Ninguém, de bom-senso, renuncia ao que já tem. Aécio, de acordo com todas as evidências, tem garantida a sua eleição para o Senado. A eleição de Serra é possível, mas não é certa. Cabe-lhe, isso sim, esforçar-se para conduzir o processo eleitoral mineiro, a fim de eleger sucessor que saiba respeitar os velhos compromissos de Minas.
No Senado, o ex-governador terá a oportunidade de lutar pelo compromisso que os mineiros assumiram, desde a Inconfidência, com a Federação, ou seja, o de buscar a rigorosa isonomia de direitos de todos os Estados brasileiros, contra a hegemonia política de algumas regiões sobre as outras.
Voltam alguns tucanos paulistas a insistir na pressão sobre o ex-governador Aécio Neves para que aceite compor a chapa de seu partido, como candidato a vice-presidente de José Serra. Agem como se a vitória do paulista fosse questão de salvação do país, diante de uma catástrofe, e como se essa vitória dependesse apenas da aquiescência do mineiro em ser o segundo na postulação. Com todo o respeito, essa insistência revela menosprezo pela inteligência política do neto de Tancredo Neves.
Em primeiro lugar, por mais méritos tenham os dois candidatos, a eleição é sempre incerteza. Se Aécio fosse decisivo para a vitória da oposição, o correto teria sido caber a ele a cabeça de chapa. O partido, sem embargo, não quis correr o risco de consultar as bases. Confiou, com suas informações e razões, em que o candidato José Serra, com a força das bases eleitorais e econômicas de São Paulo, poderia desprezar a etapa das prévias e impor-se à nação. Foi uma escolha que Aécio, ao pressenti-la, não contestou, preferindo – como anunciou em dezembro – dedicar a Minas todas as suas preocupações. O raciocínio pode parecer presunçoso, mas se funda na experiência histórica: o Brasil precisa de Minas, como o eixo de sua razão política e alicerce de sua soberania. Quando falta à República o bom-senso de Minas, todos os desacertos são possíveis. Por isso mesmo – ou seja, para oferecer ao Brasil a solidez das montanhas – os mineiros, de um modo geral, dão tanta atenção à Presidência da República quanto a dão ao governo do estado. Os homens públicos mineiros consideram indispensável passar pelo Palácio da Liberdade, antes de postular a Presidência da República. Assim o fizeram todos os mineiros que chefiaram o Estado nacional, como foram Affonso Pena, Wenceslau Braz, Artur Bernardes, Juscelino Kubitschek e – de forma transcendental – Tancredo Neves.
A candidatura de José Serra não será beneficiada se Aécio a ela se dedicar como postulante à Vice-Presidência, em prejuízo de sua indispensável presença em Minas, cujo eleitorado decidirá, como fiel da balança, os resultados de outubro. Será no decorrer de sua postulação, já anunciada, ao Senado Federal que o mineiro ajudará o candidato de seu partido. E, como senador, sua influência no Congresso garantirá a Serra, se ele se eleger, suporte muito mais importante do que a sua presença na aprazível residência vice-presidencial do Jaburu.
O homem público ideal é aquele que concilia a natural ambição de realização pessoal com suas convicções. Sem ideias políticas sólidas, as ambições pessoais militam no vazio e, quase sempre, conduzem a governos desastrados. Por outro lado, as ideias, para que se realizem no poder, pedem o empenho que só a expectativa da glória impõe ao candidato.
Aécio já trafegou grande parte do caminho político para contentar-se com a Vice-Presidência. Os dois casos em que mineiros se elegeram vice-presidentes, dentro do processo atual, de vinculação automática ao candidato à Presidência, são atípicos. Itamar, como tantos outros brasileiros honrados, sentiu-se atraído pela disputa ao lado de Collor, diante de seu (falso, como vimos) programa de moralização do Estado. Mas soube legitimar-se no momento em que as circunstâncias o levaram à chefia do Estado, com desempenho ético singular. José Alencar se tornou, realmente, a presença necessária ao lado de Lula, a fim de retirar do candidato a pecha de revolucionário alucinado.
Serra não precisa de quem o avalize. Suas posições são conhecidas e não ameaçam o mercado como, de resto, também não o ameaça a candidatura situacionista. Ninguém, de bom-senso, renuncia ao que já tem. Aécio, de acordo com todas as evidências, tem garantida a sua eleição para o Senado. A eleição de Serra é possível, mas não é certa. Cabe-lhe, isso sim, esforçar-se para conduzir o processo eleitoral mineiro, a fim de eleger sucessor que saiba respeitar os velhos compromissos de Minas.
No Senado, o ex-governador terá a oportunidade de lutar pelo compromisso que os mineiros assumiram, desde a Inconfidência, com a Federação, ou seja, o de buscar a rigorosa isonomia de direitos de todos os Estados brasileiros, contra a hegemonia política de algumas regiões sobre as outras.
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