A compaixão e a esperança
Por Mauro Santayana
Os católicos evocaram ontem o Corpo de Cristo. O corpo de Jesus, ofendido e torturado, é o símbolo do corpo de todos os homens ofendidos e torturados, ao longo da História da espécie. A grande mensagem cristã é a mensagem da compaixão. Cristo teve compaixão pelos que sofriam, e é na compaixão que temos pelo seu sofrimento que se funda grande parte da nossa fé. O grande líder budista Tenzin Gyatso, que o mundo conhece como o 14º. Dalai Lama, publicou importante artigo na edição de 24 de maio do New York Times, sob o título de Many faiths, one truth. Ele se insurge, de forma clara, contra a intolerância entre as grandes religiões do mundo, mostrando que todas elas têm um fundo comum muito mais importante do que as suas divergências.
Gyatso lembra o seu encontro com Thomas Merton, pouco antes da morte do americano, em 1968, e da conversa que tiveram sobre o cristianismo e o budismo. Os dois encontraram no sentimento de compaixão pelos homens a ponte entre as duas grandes confissões religiosas do mundo. Eles se disseram impressionados com as lições comuns do cristianismo e do budismo.
O Dalai não poderia ter encontrado interlocutor cristão melhor do que Merton. O monge trapista, morto acidentalmente aos 53 anos, em Bangcoc, fora um modelo de pecador mundano, até os 26 anos, quando se converteu ao catolicismo e decidiu tornar-se monge trapista. No período de adaptação, os superiores lhe pediram que escrevesse sobre sua vida até então. O livro – A montanha dos sete patamares – se tornou um êxito editorial, vendendo imediatamente mais de 600 mil exemplares. Merton foi um dos mais expressivos pensadores cristãos do século 20, e exerceu forte influência no Brasil, mediante intensa correspondência com pensadores e religiosos brasileiros, entre eles Alceu Amoroso Lima, dom Helder Câmara, dom Timóteo Amoroso Anastácio e dom Estevão Bettencourt.
Mas o líder religioso budista também se refere aos seus encontros com líderes judeus, protestantes e islamitas, para concluir que, se há muitas manifestações da fé, há uma só verdade, e essa verdade é a da compaixão. A compaixão, podemos concluir, é a mais profunda manifestação de solidariedade, porque ela expressa a igualdade essencial entre os seres humanos. Amar o próximo como a si mesmo é com ele identificar-se na alegria da esperança e na partilha do sofrimento.
O Dalai Lama lamenta que o conflito entre as religiões, tão antigo quanto elas, não tenha sido amainado pela História, mesmo com as trocas culturais de nosso tempo. Ao analisar a intolerância contemporânea, o Dalai fala de seus encontros com um chefe muçulmano na Índia e de sua convicção de que a compaixão está no núcleo do islamismo, uma vez que quase sempre os capítulos do Corão começam invocando o nome de Alá como o “Compadecido e Misericordioso”.
“A harmonia entre as mais importantes manifestações da fé se tornou o mais importante fator da coexistência pacífica em nosso mundo. Nessa perspectiva – termina o texto de Gyatso – o entendimento mútuo entre essas tradições não é mero assunto dos fiéis, é matéria para a felicidade da humanidade como um todo”.
Na edição datada de 10 de junho, e antecipada online, a New York Review of Books publica importante artigo de Peter Beinart, sob o título de The failure of american jewish establishment, mostrando que os jovens judeus norte-americanos, de formação liberal, se distanciam do Estado de Israel e do sionismo. Beinart examina os resultados inesperados de uma pesquisa encomendada, ainda em 2003, por líderes da comunidade judaica a um pesquisador de opinião pública ligado aos republicanos, Frank Luntz, para saber o que os jovens estudantes judeus pensavam de Israel. Os jovens, em sua imensa maioria, não se sentiam ligados ao Estado de Israel: referiam-se aos judeus de Israel como “eles”, e não como “nós”. Nessa mudança de atitude da nova geração de judeus norte-americanos podemos identificar uma chance para a paz. Como podemos identificar outra oportunidade na Aliança das Civilizações, que teve seu último encontro agora, no Rio de Janeiro.
Os muçulmanos palestinos, confinados em Gaza, só podem contar com a ativa compaixão do mundo.
Os católicos evocaram ontem o Corpo de Cristo. O corpo de Jesus, ofendido e torturado, é o símbolo do corpo de todos os homens ofendidos e torturados, ao longo da História da espécie. A grande mensagem cristã é a mensagem da compaixão. Cristo teve compaixão pelos que sofriam, e é na compaixão que temos pelo seu sofrimento que se funda grande parte da nossa fé. O grande líder budista Tenzin Gyatso, que o mundo conhece como o 14º. Dalai Lama, publicou importante artigo na edição de 24 de maio do New York Times, sob o título de Many faiths, one truth. Ele se insurge, de forma clara, contra a intolerância entre as grandes religiões do mundo, mostrando que todas elas têm um fundo comum muito mais importante do que as suas divergências.
Gyatso lembra o seu encontro com Thomas Merton, pouco antes da morte do americano, em 1968, e da conversa que tiveram sobre o cristianismo e o budismo. Os dois encontraram no sentimento de compaixão pelos homens a ponte entre as duas grandes confissões religiosas do mundo. Eles se disseram impressionados com as lições comuns do cristianismo e do budismo.
O Dalai não poderia ter encontrado interlocutor cristão melhor do que Merton. O monge trapista, morto acidentalmente aos 53 anos, em Bangcoc, fora um modelo de pecador mundano, até os 26 anos, quando se converteu ao catolicismo e decidiu tornar-se monge trapista. No período de adaptação, os superiores lhe pediram que escrevesse sobre sua vida até então. O livro – A montanha dos sete patamares – se tornou um êxito editorial, vendendo imediatamente mais de 600 mil exemplares. Merton foi um dos mais expressivos pensadores cristãos do século 20, e exerceu forte influência no Brasil, mediante intensa correspondência com pensadores e religiosos brasileiros, entre eles Alceu Amoroso Lima, dom Helder Câmara, dom Timóteo Amoroso Anastácio e dom Estevão Bettencourt.
Mas o líder religioso budista também se refere aos seus encontros com líderes judeus, protestantes e islamitas, para concluir que, se há muitas manifestações da fé, há uma só verdade, e essa verdade é a da compaixão. A compaixão, podemos concluir, é a mais profunda manifestação de solidariedade, porque ela expressa a igualdade essencial entre os seres humanos. Amar o próximo como a si mesmo é com ele identificar-se na alegria da esperança e na partilha do sofrimento.
O Dalai Lama lamenta que o conflito entre as religiões, tão antigo quanto elas, não tenha sido amainado pela História, mesmo com as trocas culturais de nosso tempo. Ao analisar a intolerância contemporânea, o Dalai fala de seus encontros com um chefe muçulmano na Índia e de sua convicção de que a compaixão está no núcleo do islamismo, uma vez que quase sempre os capítulos do Corão começam invocando o nome de Alá como o “Compadecido e Misericordioso”.
“A harmonia entre as mais importantes manifestações da fé se tornou o mais importante fator da coexistência pacífica em nosso mundo. Nessa perspectiva – termina o texto de Gyatso – o entendimento mútuo entre essas tradições não é mero assunto dos fiéis, é matéria para a felicidade da humanidade como um todo”.
Na edição datada de 10 de junho, e antecipada online, a New York Review of Books publica importante artigo de Peter Beinart, sob o título de The failure of american jewish establishment, mostrando que os jovens judeus norte-americanos, de formação liberal, se distanciam do Estado de Israel e do sionismo. Beinart examina os resultados inesperados de uma pesquisa encomendada, ainda em 2003, por líderes da comunidade judaica a um pesquisador de opinião pública ligado aos republicanos, Frank Luntz, para saber o que os jovens estudantes judeus pensavam de Israel. Os jovens, em sua imensa maioria, não se sentiam ligados ao Estado de Israel: referiam-se aos judeus de Israel como “eles”, e não como “nós”. Nessa mudança de atitude da nova geração de judeus norte-americanos podemos identificar uma chance para a paz. Como podemos identificar outra oportunidade na Aliança das Civilizações, que teve seu último encontro agora, no Rio de Janeiro.
Os muçulmanos palestinos, confinados em Gaza, só podem contar com a ativa compaixão do mundo.
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