''Parecia que estávamos em uma guerra'', diz ativista preso por Israel | |
Então será a palavra de um contra a de outro. As autoridades israelenses tiveram 24 horas para desenvolver sua versão do ataque sangrento dos comandos da marinha contra a flotilha internacional para Gaza, na manhã de segunda-feira (31). Agora a palavra é dos ativistas detidos a bordo dos navios e que, expulsos por Israel, começaram a voltar a seus respectivos países na terça-feira (1º). A reportagem é do jornal Le Monde e publicada pelo portal Uol, 03-06-2010. Em pelo menos um ponto as declarações do exército israelense batem com as dos passageiros: a inspeção da maioria dos barcos da flotilha aconteceu sem violência física excessiva. O ataque só virou tragédia no Mavi Marmara, navio turco que transportava centenas de passageiros. Enviada de volta a Istambul na terça-feira, Nilüfer Certin, que estava a bordo com seu filho de um ano, Kaan, foi a primeira a poder se manifestar. Quando o Mavi Marmara passou por cima das ordens israelenses de parar, “eles iniciaram o ataque. Usaram bombas de gás lacrimogêneo antes de descerem até o convés do navio”, contou. “O barco virou um lago de sangue”, garantiu, falando em confrontos “muito duros e violentos”. A jovem disse ter se refugiado com seu filho no banheiro de sua cabine. Ela não deu detalhes sobre o desenrolar dos confrontos que culminaram na morte de nove passageiros, assassinados à bala. “Parecia que estávamos em uma guerra”, disse na terça-feira a deputada alemã Annette Groth (Die Linke, esquerda). “As pessoas a bordo não esperavam tanta violência e brutalidade por parte do comando”, declarou Inge Höger, outra deputada do Die Linke. “As pessoas a bordo não recorreram à violência, elas não teriam tido nenhuma chance contra os soldados israelenses”, disse o ex-deputado Norman Paech. O capitão turco de outro navio, Huseyin Tokalak, garantiu na noite de terça-feira que os comandos israelenses “começaram a atirar diretamente no Mavi Marmara. Eles não procuraram saber se era a proa ou a popa do barco”. Eram esperados para quarta-feira (2) outros depoimentos sobre esse ponto crucial e controverso do ataque, em especial os dos feridos. “Foi como um filme de guerra, com comandos descendo de helicópteros e botes infláveis, ouvíamos explosões, tiros, granadas ensurdecedoras”, contou na terça-feira, em Atenas, Aris Papadokostopoulos, um grego que estava em outro navio. “Vimos bem o que aconteceu (no Mavi Marmara), pois o barco estava muito iluminado e a tripulação usava holofotes para tentar se defender do ataque. Mas isso era de se esperar, achamos que era só uma demonstração de força”. Nos cinco outros navios inspecionados, os comandos israelenses rapidamente venceram a resistência passiva imposta pelos passageiros. “Nós tínhamos planejado subir um em cima do outro para impedi-los de terem acesso à sala de máquinas, e proteger a cabine do capitão com nossos corpos, sem armas”, contou em Paris, na terça-feira, Youcef Benderbal, porta-voz do Comitê de Solidariedade e Apoio aos Palestinos (CBSP, sigla em francês), ao qual pertence a maioria dos franceses detidos na segunda-feira. Ele enfrentou um soldado israelense gritando em inglês “somos pacifistas”, antes de ser preso. Ele relatou que outro ativista, Ahmed Oumimoun, teria levado “um golpe violento no maxilar” e teria sido “ameaçado com um fuzil”. “Nós fizemos uma barreira com nossos corpos no convés, uma resistência passiva”, contou na terça-feira um outro grego, Dimitrios Gelalis, que estava a bordo de uma embarcação grega. “Estávamos preparados, mas eles logo assumiram o controle, atirando com balas de borracha e tasers, atingindo dois gregos nas pernas. Eram cerca de vinte deles, mandaram a gente sentar, e depois nos manteve durante umas dez horas sentados, ameaçando-nos com armas. Nós podíamos ir ao banheiro, comer e beber, mas sempre sob vigília e ameaça de armas. Havia uma forte violência psicológica, eles também nos filmavam regularmente”. Esse relato do modus operandi dos comandos é corroborado por outros depoimentos, especialmente dos suecos, assim como a ausência de armas a bordo. Uma vez colocados sob controle dos soldados israelenses, os passageiros foram todos levados ao porto israelense de Ashdod, situado ao norte da Faixa de Gaza. “Em Ashdod, eles pegaram tudo que era nosso, máquinas fotográficas, computadores, documentos, celulares...”, contou Dimitrios Gelalis. “De mim só não tomaram meu dinheiro”, disse, “e só pude recuperar meus remédios pouco antes de partir, e meu passaporte só quando desci do avião. Havia uma violência física e psicológica permanente, era uma espécie de confusão organizada, eles tentavam nos fazer assinar um documento dizendo que havíamos entrado ilegalmente. Fomos separados, e eles faziam com que passássemos de sala em sala sem dizer nada, sem responder a nossas perguntas, fui revistado mais de dez vezes. Me liberaram sem que eu assinasse nada, só falo grego e aparentemente naquele momento eles não tinham ninguém à disposição para mim”. O deputado do Partido Verde sueco Mehmet Kaplan, que voltou na terça-feira a Göteborg, se encontrava em um barco sueco e garantiu que, uma vez em terra, o presidente da associação Judeus pela Paz entre Israel e Palestina, Dror Feiler, “foi jogado ao chão de forma brutal, com uso exagerado da violência. Eles se sentaram sobre ele e o mantiveram com a cabeça no chão. Ele foi arranhado no rosto por dois soldados fortemente armados, que o amarram e levaram”. “Foi um ato de pirataria”, resumiu na terça-feira o escritor sueco Henning Mankell. “Israel transformou seus marinheiros em piratas. E a partir do momento em que nos levaram a Israel, também fomos sequestrados. Simples assim”. |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
TERRORISMO DE ESTADO - "Parecíamos que estávamos em uma guerra".
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