Um raio x do IPCA de janeiro


Coluna Econômica

Primeiro ponto de análise sobre a inflação de janeiro: IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) batendo em 0,86%: não se deixe impressionar por análises alarmistas ou por comparações indevidas com a Argentina. Nem pelo lobby dos que querem a volta dos juros altos.

A alta foi puxada por fatores pontuais, que não tendem a se repetir no tempo.

Vamos a um pequeno raio-x do índice.

Quando mencionar percentual (%), significa a elevação do preço referido; quando falar em ponto, significa o quanto aumentou ou diminuiu o índice final.

Esses 0,86% de aumento do IPCA se deveram aos seguintes produtos:
1. Alimentação e bebidas foram responsáveis por quase metade: 0,48 ponto.

Dentre os produtos que mais pressionaram, grande parte são alimentos diretamente afetados pelo clima, não pela demanda (como tomate, batata inglesa, cebola, hortaliças, feijão etc). Outro grupo foi o de derivados do trigo e o milho, cujas cotações internacionais foram afetadas pela seca nos Estados Unidos.
2. Despesas pessoais pressionaram o índice em 0,16 ponto.
Foi o segundo maior item de pressão. Mas só o cigarro significou um aumento de 0,09 no índice final. O reajuste foi devido ao aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). O outro fator de alta foi o crescimento no rendimentos dos empregados domésticos (aumentou 0,58% em janeiro contra 0,82% em dezembro) , refletindo, aí sim, melhoria de renda e da demanda.
3. Despesas com habitação reduziram o aumento em 0,08 ponto.
Aí também houve um fator pontual jogando para baixo: a redução da conta de luz. Houve aumento nas despesas com aluguel (1,56%), condomínio (1,18%) e mão de obra para pequenos reparos (0,70%), Mas a conta de energia elétrica caiu 3,91%, captando uma pequena parte da redução da conta de luz. A parte maior será no mês de fevereiro.
Por outro lado, o fim do desconto do IPI nos automóveis novos pressionou seus preços – 1,41% de aumento e pressão de 0,05 ponto no índice final.

Para fevereiro se terá, do lado positivo, om impacto maior da redução da conta de luz. Do lado negativo, o impacto do reajuste do preço da gasolina. Do lado dos alimentos, uma supersafra a caminho.

As características da inflação atual nada têm a ver com as loucuras que dominaram o país até o plano Real. Ainda é alta para os padrões globais, fruto de um conjunto de indexadores que ainda não saíram completamente nem dos contratos nem da memória atual.
No plano conjuntural, continuará refletindo as cotações internacionais de commodities (influenciando os preços internos), os movimentos fiscais de isenção ou aumento de imposto, um resto da inflação passada, na forma de indexação.

No plano estrutural, a entrada em cena da nova classe média provocará mudanças nos preços relativos, com serviços, produtos de limpeza, telefonia e TV a cabo pressionando cada vez mais o orçamento doméstico, enquanto produtos tradicionais perdem força.

O mais relevante da história é não utilizar essa alta pontual como álibi para elevação das taxas de juros, Nenhum dos itens de pressão tem a mais leve relação com os juros praticados no mercado.