terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

POLÍTICA - O jihadismo é de esquerda?




  • Berna (Suiça) - Conta a mitologia grega que a primeira mulher criada por Zeus, chamada Pandora, dele recebeu um jarro (com o tempo se passou a dizer caixa) com a advertência de nunca abri-lo.

    Mas tão desobediente ou curiosa como a outra primeira mulher, Eva, da lenda ou mitologia cristã, que comeu uma fruta proibida (depois virou maçã), provocou o fim de sua vida no Paraíso e introduziu o pecado, Pandora roía as unhas de tanta vontade por saber o conteúdo do jarro.
    Até ceder enfim à sua curiosidade, destampando o jarro. Imediatamente jorraram para fora todos os males ali dentro comprimidos, restando nele apenas a esperança.

    Quando George W. Bush, alegando implantar a democracia mas, na verdade, atraído pelos lucros do petróleo, inventou a mentira das armas destruidoras no Iraque, para justificar a guerrra contra Sadam Hussein, agiu como Pandora.

    Conta a mitologia ser impossível recolocar no jarro os males dele saídos. A guerra contra o Iraque equivaleu à abertura da caixa ou do jarro de Pandora, pois ainda hoje os males provenientes continuam incontroláveis.
    O ditador Sadam Hussein era, como todos os ditadores, terrível, malvado, perigoso e cruel. E era assim impondo o medo que mantinha seu país, o Iraque, em paz, embora nele vivessem religiosos muçulmanos sunitas e xiitas prontos a se matarem, e curdos ávidos de independência.

    Quando Bush, ignorante e mal assessorado pela CIA, destruiu Sadam e colocou suas democráticas tropas invasoras no Iraque, desequilibrou o precário equilíbrio no Oriente Médio. Algo parecido tinha ocorrido após a morte de Tito na Iugoslávia. Em pouco tempo, as facções contidas retornaram aos seus ódios antigos.

    Bush, o tolo, provocou um terremoto com efeitos justamente contrários aos previstos por seus ambiciosos mas incompetentes assessores. Sem a presença do bicho-papão Sadam, ateu de formação marxista, estourou o tampão por ele instalado na região contra a predominância religiosa muçulmana, do qual as mulheres eram as principais beneficiárias.

    Acabou-se o Iraque laico e de dentro da caixa de Pandora ressurgiram os ódios religiosos e o coranismo contra o capitalismo, sutil miragem política cujas perigosas nuances até hoje não são vistas por certas esquerdas. Na verdade, não se trata de uma oposição capaz de favorecer a luta contra o neoliberalismo, por se tratar, na verdade, de um retrocesso, anterior ao Iluminismo e à Revolução francesa.

    O desequilíbrio instaurado no Oriente Médio não liberou apenas os males do anacronismo religioso, mas permitiu aos jovens a esperança de uma modernização política com o fim de seculares sistemas de dominação do povo e de velhas ditaduras. Entretanto, as revoluções da primavera árabe já foram recuperadas pelos religiosos muçulmanos e o retorno da política ao livro e textos sagrados é sinônimo de um regresso histórico.

    Como se não bastasse a caixa de Pandora aberta por Bush, o tolo, houve outra caixa aberta com a pretendida libertação da Líbia, do ditador Kadafi, dessa vez por franceses e ingleses ansiosos por instaurar na África um neocolonialismo. De novo, a morte do tirano não favoreceu aos africanos e, de repente, ventos medievais levaram ao Mali guerreiros pregadores da guerra santa, instaurando na região a chariá, a dura lei corânica e a lei de talião.

    Os invasores jihadistas, prontos a fazerem do Mali um outro Afganistão, onde em matéria de direitos humanos e das mulheres o retrocesso seria ao século XII, acabam de ser expulsos por invasores franceses, menos afeitos à cultura religiosa e mais interessados nas riquezas locais, para satisfação dos laicistas e iluministas de todos os matizes, que não vêem revolução de esquerda no coranismo, como também não viram nem Nasser, nem Sadam Hussein e nem Kadafi.

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