Carlos Chagas
A campanha não é cíclica porque é contínua. Permanente. Não se interrompe, apesar de apresentar-se com certos surtos mais agudos de histeria mesclada com malandragem. Fala-se da insistência dos privilegiados, indivíduos, empresas ou nações, em convencer-nos de que a vida resume-se na competição, que certo é o que vence e bom o que deixou os outros para trás. Vem de antes de Sócrates essa canhestra concepção ética.
Ainda agora, talvez para neutralizar os efeitos do imenso reconhecimento da Venezuela a Hugo Chávez, certos dinossauros voltam à carga em seus veículos de comunicação preferidos – que são quase todos. Sustentam a “livre” competição como ferramenta maior da vida, exaltando quantos pelo berço, a vigarice, a prepotência e às vezes até o trabalho, destacam-se na sociedade e no concerto mundial.
Ora, o final já sabemos quando vão “livre-competir” empresários aquinhoados com a fortuna, dispondo de informações privilegiadas presenteadas pelo pai a respeito da localização de jazidas de minerais ou com a falta de escrúpulos em corromper o poder público. Será o sucesso. Alguém duvida do resultado da disputa entre um pimpolho bem alimentado, que recebe carinho e amor da família, vai para os melhores colégios e começa a trabalhar gerindo fortunas, se vai enfrentar um favelado que, quando acorda, não sabe se vai almoçar, ignora quem foi seu pai e nem pode freqüentar a escola?
Vale o mesmo entre as nações. Os Estados Unidos vão “livre-competir” com Uganda ou Bangladesh, afirmando serem as mesmas as regras do jogo da competição?
FUNÇÃO DO ESTADO
Dizem a ética, a lógica e o bom-senso que, para no mínimo tentar equilibrar a disputa, deveria existir o poder público, o Estado, responsável por dar um mínimo de condições aos despojados e desprovidos. O diabo é que o Estado, quer dizer, o poder público, costuma ser formado e gerido pelos privilegiados. Exceções existem, Chávez arranhou a superfície dessa crosta de vergonha, assim como, no passado, algumas revoluções tentaram e não conseguiram.
Coisa igual verifica-se no plano internacional, mas faltam nele mais instrumentos do que nas relações sociais de cada país. Algum dia as Nações Unidas conseguirão impor ao menos um pouco de igualdade e solidariedade entre seus integrantes?
Mas tem mais, além dessa fajuta livre competição. Voltou a moda de dizer que os países desenvolvidos não ficaram ricos por ter explorado os países pobres. Quem assim afirma não conhece História. Ou finge desconhecer impérios como Roma e o Reino Unido. Ou o paraíso americano de nossos dias, praticante da mentalidade mercantilista que agora, por ironia, cresce na China.
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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