quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

MÍDIA - Os donos do PIG não admitem nem debater o assunto.

on Diário do Centro do Mundo

Palmas para Llosa: “Não existe democracia digna deste nome com concentração de mídia”

by Paulo Nogueira

Vargas Llosa, um dos queridinhos da mídia brasileira por suas posições quase sempre conservadoras, deve sumir dos jornais e revistas do país, a partir de agora.
É que Llosa disse, numa entrevista, uma coisa que a mídia não quer que se discuta: que a concentração é uma real ameaça à democracia.
“Nenhuma democracia digna deste nome permite monopólio de mídia”, afirmou Llosa.
Liberdade de imprensa só é liberdade de imprensa, de verdade e não de mentirinha, quando há uma diversidade de opiniões que só a desconcentração da propriedade permite.
É óbvio.
Mas no Brasil esta é discussão que a mídia, pela voz de seus fâmulos, não quer que se trave porque não é de seu interesse.
A atitude mais comum, quando se levanta o assunto, é dizer que se está procurando “censurar” a imprensa.
É quando o cinismo se encontra com a vigarice.
Cristina Kirchner, na Argentina, foi valente o bastante para enfrentar – e afinal derrotar – o monopólio do Clarin.
O Clarin sempre recorreu ao mais surrado lugar comum para atacar Cristina: que ela estava tentando calar uma “voz crítica”.
Ora, quem acredita nisso, nos bons propósitos do Clarin, acredita em tudo.  Um grupo predador foi simplesmente enquadrado, no que provavelmente é a maior realização de Cristina.
Mas no Brasil da governabilidade as coisas são diferentes.
As quatro ou cinco famílias que controlam a mídia não são importunadas, para infortúnio da sociedade, que paga um preço elevado por isso.
FHC era aliado delas, mas e Lula e Dilma?
Eles jamais colocaram na agenda nacional uma questão vital para o desenvolvimento social do Brasil.
A desculpa é sempre a mesma: não há condições políticas. Como enfrentar, por exemplo, a ira da Globo?
Sejamos mais modestos: como lidar com Sarney, que seria fortemente atingido por uma lei que limitasse a propriedade de mídia?
Há no PT a tese de que Sarney teria salvado Lula do impeachment em determinado momento do mensalão.
Ora, é apenas uma especulação. Diferente da falta de apoio popular, político e social de Collor, Lula tinha força e alta capacidade de mobilização. Tentar tirá-lo no grito no Congresso, como se fez com Collor, era uma manobra de altíssimo risco.
O país poderia entrar em convulsão, com protestos de sindicatos e de estudantes,  e os golpistas talvez terminassem mal.
Mas ainda que Lula tenha uma dívida com Sarney. É uma dívida dele e, no máximo, do PT – e não do país.
Não é aceitável que coisas essenciais como uma reforma da mídia não andem porque Sarney – ou os Marinhos, ou quem for – não podem ser aborrecidos.
Cristina Kirchner teve cojones, e não me venham dizer – outra justificativa clássica e tíbia – que as circunstâncias eram diferentes.
Tudo é sempre diferente, de país para país, e este não pode e não deve ser um fator que imobilize.
Vargas Llosa tem razão: não existe democracia decente com concentração de mídia.
E no Brasil ela, a concentração, é simplesmente abjeta.

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