AS CONVICÇÕES E AS CUECAS
Em 2009, o relator do Inquérito 2280, que corre no Supremo Tribunal, Ministro Joaquim Barbosa, emitiu parecer a favor de seu desmembramento. Convicto, baseou sua decisão nos seguintes termos:
“No caso em análise, o
motivo relevante que, a meu ver, autoriza o desmembramento, é o número
excessivo de acusados, dos quais somente um – o senador da República
Eduardo Azeredo – detém prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal”.
A decisão de Barbosa foi lastreada no Art.80 do CPP, que diz:
“Será facultativa a separação dos processos, quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando
pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão
provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a
separação.”
O INQ 2280 contava, à época, com 42 volumes principais além
de outros tantos apensos, e 15 denunciados. Entre eles, Marcos
Valério, além do Senador da República Eduardo Azeredo
(PSDB-MG), único parlamentar acusado.
O INQ2280 é diferente da AP470. No primeiro, onde os réus
são do PSDB, o relator Joaquim Barbosa usou a Constituição Federal enquanto no
segundo, o mesmo princípio foi flagrantemente esquecido. Porque os réus são do
PT ou porque as convicções são voláteis?
A AP470 tinha 42 denunciados e volume três vezes maior de documentos
O advogado Márcio Tomás Bastos, que defende um dos acusados
na AP470, pediu desmembramento do processo diante do excessivo número de
acusados sem foro privilegiado. Joaquim Barbosa negou!
Sua justificativa foi a de que constava desta denúncia o
crime de formação de quadrilha,
enquanto na ação do Mensalão Tucano não havia este tipo de crime.
O motivo
relevante, citado no despacho de Barbosa, parece tão ou mais válido
para a AP470, mas sua capacidade de buscar uma justificativa para,
meramente, condenar, o levou a produzir um equívoco jurídico monstruoso,
uma obra de realização de um desejo individual, ilegal e contraditório.
Cercear o direito à defesa, em pleno regime democrático, é
grave e a sociedade deve estar atenta. Soa como perseguição política. Pior,
quando se mudam convicções como se fossem cuecas ao invés de julgar dentro dos parâmetros que a lei e
a Constituição obrigam.
Amanhã, medidas autoritárias sugeridas por um único ser
humano, investido de cargo que o autorize, poderemos ter a liberdade ameaçada.
A liberdade que nos custou tão caro, tantas vidas, tantos anos de submissão
pela força.
***
“Minhas cuecas, as
troco todos os dias.”
By Sandálias do
Pirata
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