terça-feira, 4 de maio de 2010

ECONOMIA - Que saudade do maldito socialismo.

Do site ESQUERDA.NET
Europa Oriental: Desempregados como os pais criar PDF versão para impressão enviar por e-mail
04-Mai-2010
A Europa Oriental tem os índices de desemprego mais altos do  OcidenteUma geração de meninos e meninas da Europa oriental será pobre quando chegar à idade adulta devido ao prolongado desemprego dos seus pais. Por Pavol Stracansky, da IPS.

Bratislava, 4/5/2010 - O alerta é de sociólogos e economistas. Dezenas de milhares de crianças com pais que, em alguns casos, há dez anos estão sem trabalhar, não adquirem o conceito de trabalho assalariado e consideram "normal" ser pobre e depender de uma magra assistência social. "É uma tendência alarmante, que ajuda a perpetuar o círculo vicioso de desemprego e pobreza. A sociedade civil e o governo devem dar atenção ao problema", disse à IPS Monika Cambalikova, socióloga da Academia de Ciências Eslovaca, de Bratislava.

A Europa Oriental tem os índices de desemprego mais altos do Ocidente. Os últimos prognósticos indicam que 20% da população economicamente activa não trabalhará este ano na Letónia, 14% na Eslováquia e 10% na Hungria e na Roménia. Há grandes bolsas de população onde o desemprego alcança 90% da população economicamente activa, dizem economistas. Os trabalhadores não qualificados com pouco estudo e sem possibilidades de acesso a uma melhor educação ou capacitação por sua situação económica não podem ingressar no mercado de trabalho.

"Há crianças que crescem sem ver os seus pais levantarem-se pela manhã, ir trabalhar e ganhar um salário", disse Cambalikova. "O estilo de vida que conhecem é depender da assistência social", acrescentou. "Chega um momento em que os menores deixam de desprezar essa situação, que passa a ser algo normal e aceite. Perdem a vontade ou o desejo de que as coisas sejam diferentes, e aceitam a situação como uma estratégia para sobreviver. Perdem toda a ambição e motivações para viver e trabalhar", acrescentou.

A partir de certa idade, é difícil romper o círculo de pobreza em que estão porque não podem conseguir trabalho, explicou Peter Havlik, subdirector do Instituto Internacional de Estudos Económicos. "O papel da família para inculcar inclinação ao trabalho nos filhos é extremamente importante", acrescentou. O prolongado desemprego, que leva uma família à pobreza e aumenta em 15% o risco de baixo rendimento escolar, pode afectar de modo significativo a memória no curto prazo e ter consequências devastadoras sobre a motivação na escola e na vida, segundo um estudo divulgado no mês passado pelo não governamental Centro sobre Famílias Contemporâneas, dos Estados Unidos.

Os menores também têm mais possibilidades de apresentar comportamentos problemáticos. As crianças que empobrecem durante uma recessão têm três vezes mais possibilidades do que as demais de serem adultos pobres. O problema é muito sério para uma das etnias mais desfavorecidas e pobres da Europa, os ciganos, uma das maiores minorias. Em algumas das suas comunidades, o desemprego chega a 90% da população economicamente activa, segundo especialistas.

Os ciganos denunciam discriminação no trabalho. A escassa escolaridade faz com que não haja muitos trabalhadores qualificados. Entretanto, "não se trata de um problema étnico e ocorre em outros sectores sociais. O desemprego representa maior ameaça para o futuro, pois pode propagar-se e ameaça ampliar a brecha entre ricos e pobres", disse Cambalikova. "O problema não é apenas na Eslováquia, e afecta famílias e comunidades pobres noutros lugares", acrescentou.

O governo deve tomar medidas especiais para facilitar o acesso à educação de menores de famílias pobres, disse Cambalikova. Porém, segundo Havlik, não existem soluções rápidas. "Nos países com alto índice de desemprego, como na região dos Balcãs, algumas pessoas não trabalham há anos", disse. "O problema é que a situação se prolonga há anos, é sistemático e o desemprego de longo prazo, de certa forma, é aceite, o que em si mesmo é um grave problema social", acrescentou. "Não existe uma solução simples. Podem ser criadas políticas para impulsionar o crescimento económico, mas com a crise actual seria muito difícil colocá-las em prática", ressaltou.

IPS/Envolverde

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