"Bancões americanos vivem melhor fase, engordados por dinheiro público que falta para serviços sociais", escreve Vinícius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 14-12-2010.
Segundo ele, "essa história de socialização de prejuízos dos "mercados eficientes" é recorrente, já se repetiu em farsa, em pastelão e, agora, é reapresentada com cinismo desmedido. Espantosamente, quase ninguém liga".
Eis o artigo.
Por que os governos de países ricos do Ocidente estão quebrados, superendividados e passando a conta para os pagantes comuns de impostos e usuários de serviços públicos? Por obra da grande bandalheira das finanças da primeira década deste século, como bem se sabe, em conluio com os funcionários públicos e parlamentares que deveriam ao menos conter seus exageros e piratarias mais imediatamente nocivos. Porém, tais funcionários estavam comprados, literalmente, "capturados" ou são simplesmente membros da mesma casta.
Mas os maiores bancos norte-americanos com atividades de banco de investimento vão completar em 2010 seu melhor biênio da história, segundo levantamento da agência de notícias e serviços financeiros Bloomberg. Sim, trata-se de nossos velhos conhecidos: Goldman Sachs, JPMorgan, Bank of America, Citigroup e Morgan Stanley.
Alguns bancos faliram? Sim. Mas seus maiores executivos e acionistas não estão na fila da seguridade social. Ficaram "mais pobres"? A pergunta não faz sentido, pois envolve a palavra "pobre". Um ou outro menos cotado talvez tenha vendido o Bentley para fazer pose de tempos bicudos; talvez não promovam mais corrida de lagostas (sic) ou qualquer outra imagem sarcástica barata que se imagine.
Mais importante é lembrar que o dinheiro feito sobre pirâmides, contabilidade esconsa, precificação alucinada de papéis e fraudes, criminosas ou não, não foi confiscado. O sujeito pode quebrar o planeta, dizer que "sofreu muito" na crise, mas não perde o dinheiro todo que fez durante os anos da farra. Não foram muitos os acionistas que perderam os pedaços de bancos que tinham. Os credores desses bancos, quase todos, por sua vez, foram salvos pelo Estado, pelos governos.
Houve estatizações a fim de impedir quebras. Houve empréstimos a juros de pai para filho a fim de impedir quebras e calotes. Talvez mais importante, o governo americano comprou ou garantiu papéis que, na praça do mercado, não valiam mais nada. Ou seja, tudo se passou como se o governo comprasse um carregamento de banana podre a fim de impedir a falência de feirantes.
Caso tais papéis continuassem no mercado, que não lhes dava preço ou deles tinha nojo, a banca e seus credores estariam todos quebrados. Mas só que essa operação "compra a xepa" de banana custou mais de trilhão de dólares.
Em suma, o setor mais sofisticado e rico da finança mundial, Wall Street e agregados, investiu de modo irracional e incompetente, quando não abertamente picareta, e quebrou. O governo bancou seus prejuízos, direta ou indiretamente. A fim de evitar uma depressão brutal, os Estados tiveram de gastar mais dinheiro, de fazer dívida a fim de bancar os "pacotes de estímulo fiscal". Dívida a ser paga com impostos.
A banca, agora, sorri balofa como numa gravura expressionista. Os governos, por sua vez, agora começam a apertar o cinto. Reduzem a duração do seguro-desemprego, cortam serviços de saúde, aumentam o preço das mensalidades de universidades públicas.
Essa história de socialização de prejuízos dos "mercados eficientes" é recorrente, já se repetiu em farsa, em pastelão e, agora, é reapresentada com cinismo desmedido. Espantosamente, quase ninguém liga.
Fonte:IHU
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