Jô Moraes: "O governo Dilma enfrentará grandes desafios"
Em entrevista ao Portal Vermelho, a deputada Jô Moraes (PCdoB/MG) avalia como foi a sua primeira legislatura na Câmara, as conquistas da bancada e também conta como foi ser a primeira líder do Partido no Congresso Nacional.
Quais foram as principais conquistas deste primeiro mandato federal?
Chegar à Câmara Federal é descobrir o Brasil na sua dimensão global. Aqui se discute todos os problemas do país, dos mais importantes como a política macroeconômica até a penalização dos que abandonam os idosos. Aqui chegam as demandas dos mais diferentes setores. Nunca tinha havido uma mobilização tão ampla do empresariado como no dia da Comissão Geral que discutiu as "40 horas". Ao mesmo tempo realizou-se um seminário para debater a situação dos artistas circenses que, por viverem se deslocando, precisam garantir a transferência de seus filhos para as escolas de cada cidade entre outras coisas.
A senhora foi a primeira líder do PCdoB, como foi a experiência?
Ser líder de um partido numa casa em que as mulheres quase não têm visibilidade significou um grande desafio. Na primeira reunião do colégio de líderes, eu e a líder do Psol ficamos em pé a maior parte do tempo porque os funcionários não nos perceberam na condição de líderes e não colocaram as cadeiras ao redor da mesa. Mas a bancada do PCdoB é integrada por quadros competentes e experientes o que facilitou o trabalho. Ao me apresentar como líder da bancada comunista herdei, de imediato o respeito que a casa tem por toda a bancada.
Como a senhora avalia o crescimento do PCdoB na Câmara e no Senado?
O crescimento da representação parlamentar do PCdoB nas instâncias do Congresso corresponde ao atual estágio da luta social no país e ao sistema eleitoral vigente. A condição da disputa é muito desigual para um partido que distribui suas forças em todas as dimensões da luta transformadora e não apenas na ação institucional. No atual estágio do processo político eleitoral o poder econômico e as "máquinas" administrativas têm um papel decisivo. Daí a emergência da reforma política para assegurar a democratização das instâncias de representação no país.
O governo Dilma foi eleito com uma ampla base, como isso irá se refletir no Parlamento?
O governo Dilma, mesmo com uma base ampla, enfrentará grandes desafios. Terá ainda a "espada de Dâmocles" da crise internacional que ainda não foi superada. E deverá colocar ênfase nos investimentos em infra-estrutura e habitação e nas tarefas de distribuição de renda representado pelas demandas dos trabalhadores. Isso só será possível se fizer alterações na política macro-econômica. A base ampla do governo ainda não tem convicções em torno dessas questões. Quando se debate o Orçamento da União nunca se aborda o impacto da dívida pública sobre as contas do país. O anúncio de cortes é sempre no custeio. A redução de meio ponto percentual na taxa Selic daria uma resposta mais eficaz.
Quais os desafios da bancada nesta legislatura?
A bancada terá o desafio de investir na construção do Bloco de Esquerda, quer seja de ação parlamentar quer seja de articulação política para dar sustentação às bandeiras mais avançadas. Terá que defender a Reforma Política demarcando com os setores que querem realizar uma reforma restritiva; enfrentará o debate sobre a reforma tributária para retrirar o peso dos tributos sobre o consumo e a produção; e insistirá na agenda da redução da jornada de trabalho de uma nova política de valorização das aposentadorias e pensões, no modelo da política de valorização do salário mínimo.
Quais as principais metas de seu mandato nesta nova legislatura?
Meu mandato deve dedicar-se de forma especial ao debate com os trabalhadores e os desafios de sua organização e se aproximar mais das instituições universitárias onde o debate sobre as perspectivas progressistas para o país tende a se intensificar.
De Brasília,
Gustavo Alves
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