terça-feira, 14 de dezembro de 2010

POLÍTICA - Dilma conseguiu enquadrar o PMDB.

Apesar da Vice, PMDB sai menor na composição do ministério Dilma


Uma rebelião do baixo clero no PMDB da Câmara levou o desconhecido deputado maranhense Pedro Novais ao Ministério do Turismo, talvez a Pasta com maiores possibilidades de investimento político, dentre as quatro destinadas ao partido no governo Dilma Rousseff. A indicação entrou como vitória na contabilidade do senador José Sarney (AP). Em véspera de Copa do Mundo, o Turismo cai bem às relações familiares dos Sarney com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Perderam o vice-presidente eleito, Michel Temer (SP), o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder da bancada na Câmara, mas sobretudo o PMDB, que entra no governo Dilma menor do que termina no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

A reportagem é de Raymundo Costa e publicada pelo jornal Valor, 13-12-2010.

A rebelião do baixo clero pemedebista foi contra o que se convencionou chamar de "Grupo do Temer", que entre esses parlamentares fora batizado de "panelinha". Além de Temer e Henrique, fazem parte da turma os deputados Eliseu Padilha (RS) e Geddel Vieira Lima (BA) e o ex-deputado Moreira Franco. O deputado Eduardo Cunha (RJ) opera numa faixa própria, mas conectado ao grupo. Na eleição, Padilha ficou apenas com a primeira suplência no Rio Grande do Sul, Geddel perdeu a eleição para o governo da Bahia e Moreira nem se candidatou.

Temer falava em cinco ministérios para o PMDB porque queria abrigar no governo, além de Wagner Rossi na Agricultura, o deputado Mendes Ribeiro (RS), a fim de abrir a vaga para Eliseu Padilha na Câmara, e o ex-deputado Moreira Franco. Além disso, havia a expectativa de acomodação de Geddel na Infraero. No baixo clero, o desenho estava mais que claro: era a reconstituição da panelinha. Ameaçado no cargo, Henrique Alves recuou diante da ameaça de rebelião e acomodou-se de uma vez por todas depois que o PT concordou em fazer o acordo de revezamento entre os dois partidos na presidência da Câmara.

Temer ainda conseguiu nomear Moreira para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), um cargo sem o menor "sex appeal" para a classe política, mas não teve como abrir espaço para Padilha. Geddel, por enquanto, continua no limbo, e o grupo, que era a fonte de poder do vice-presidente eleito no PMDB, está momentaneamente desarticulado. O PMDB, com suas antigas diferenças - o "grupo" vetou uma indicação do governador Sérgio Cabral Filho para o Ministério da Saúde -, jogou contra os próprios interesses. Mas a negociação de Dilma Rousseff com o partido também não foi institucional. A presidente eleita negociou com os grupos que compõem a "confederação" que é o PMDB.

A avaliação em geral do PMDB é que o partido saiu "diminuído" da negociação sobre a composição do novo governo. Tomando-se por base a dotação orçamentária autorizada para 2010, os investimentos dos quatro ministérios que o PMDB reconhece como seus (Minas e Energia, Comunicações, Integração Nacional e Agricultura) soma R$ 9,4 bilhões. Se for acrescentado o Ministério da Saúde, o total chega a R$ 14 bilhões. Os investimentos dos quatro ministérios destinados ao partido (Minas e Energia, Agricultura, Turismo e Previdência), este ano, mal ultrapassam os R$ 5 bilhões.

"Isso acaba com aquela história da fome pantagruélica do PMDB", diz Michel Temer. "O que nós estamos interessados é em ter um programa para o país. A SAE será a face programática do PMDB". Pode ser. Mas um dos ministros do PMDB já anunciados tem uma avaliação mais pragmática da negociação para o partido: "O resultado foi muito ruim".

Na opinião deste futuro ministro, Temer deve fazer uma avaliação cautelosa sobre a experiência dos dois papéis que viveu nos últimos dias - como governo (na condição de vice-presidente eleito) e presidente do PMDB - e tomar uma decisão sobre seu futuro no partido. Sob pressão dos senadores, por enquanto, Temer decidiu apenas pedir uma licença da presidência do PMDB. "Não que haja necessidade, mas acho mais adequado", diz Temer. Neste caso, assume em seu lugar o senador Valdir Raupp (RO). Mas há quem julgue que esse é um movimento que enfraquece, em vez de fortalecer a sigla em negociações próximas.

A rigor, não há nenhuma incompatibilidade estatutária que impeça Michel Temer de continuar à frente do PMDB. Líderes do MDB histórico defendem essa solução. Argumentam que a sigla ganharia mais peso numa mesa de negociação em que um dos atores, o PT, acha que a Vice-Presidência já foi uma grande concessão ao PMDB e trava uma renhida batalha por ocupação de espaço no governo Dilma. O exemplo recorrente é o de Ulysses Guimarães, que no governo José Sarney (1985-1990) exerceu simultaneamente as funções de vice-presidente da República, presidente da Assembleia Nacional Constituinte e presidente da Câmara dos Deputados.

O poder de Ulysses era tão grande que ele chegou a escolher e anunciar um dos ministros da Fazenda de Sarney. É improvável que Temer acumule no PMDB a força que Ulysses teceu na oposição ao regime militar, no antigo MDB, e que não bastou para segurar o partido nas eleições presidenciais de 1989, quando teve a votação de candidato nanico. O senador Raupp, que assumirá o mandato de Temer - que vai até março de 2012 -, defende a opção (licença) do vice-presidente eleito: "Se houvesse renúncia, eu teria que convocar eleição em 60 dias para preencher a vaga". Ou seja, uma disputa interna justamente no período em os demais escalões do governo estarão sendo preenchidos.

Fonte:IHU

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