sexta-feira, 20 de maio de 2011

MÍDIA - Derrota dos fascistas eletrônicos.

Os fascistas eletrônicos são derrotados mais uma vez

No dia 18 de abril, Andrew Breitbart, uma figura midiática da direita nos EUA, foi entrevistado no canal Fox News. Na entrevista declarou: “Vamos tratar do tema da educação, vamos atrás dos professores e dos sindicalistas”. Conheça a história de duas vítimas desse ataque.

Amy Goodman

Judy Ancel, professora da Universidade do Missouri, em Kansas City, estava ministrando este semestre a cadeira de história do movimento operário junto com um colega da sede St. Louis da mesma universidade. Nem Ancel nem seu colega podiam imaginar que filmagens de suas aulas se tornariam objeto de uma florescente prática de ataque encoberto da direita, que consiste em editar vídeos, deturpando as palavras de seus protagonistas.

Neste caso, como resultado desta prática e em meio a uma onda de intimidações e ameaças de morte, um dos professores acabou perdendo seu trabalho. Felizmente, a sensatez e os dados contundentes prevaleceram e os vídeos foram denunciados como o que realmente são: peças fraudulentas e enganosas editadas de forma irresponsável.

A figura midiática de direita, Andrew Breitbart, é um forte promotor dessa grande quantidade de vídeos que foram editados de forma enganosa para difamar indivíduos e instituições progressistas. Ele se ocupou de difundir os vídeos que pretendiam ter descoberto empregados da organização comunitária ACORN supostamente ajudando um casal a estabelecer uma rede de prostituição. Também exibiu o vídeo editado de Shirley Sherrod, uma empregada afroestadunidense do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, deturpando completamente o discurso da funcionária de maneira que ela parecia ter discriminado um agricultor branco. Como consequência da controvérsia, Sherrod foi demitida. Ataques similares foram realizados contra a Planned Parenthood (Federação de Planejamento Familiar).

Judy Ancel é diretora do Instituto de Estudos Laborais da Universidade de Missouri-Kansas City desde 1988. Mediante um hiperlink com um sistema de vídeo conferência na Internet, ela dá um seminário sobre história do movimento operário juntamente com o professor Don Giljum, que dá aula na Universidade de Missouri-St.Louis. O curso consiste em sete sessões interativas, realizadas ao longo do semestre, que são gravadas em vídeo e postas à disposição dos estudantes inscritos no seminário mediante um sistema protegido por uma senha. Um dos estudantes, Philip Christofanelli, copiou os vídeos e, segundo admitiu em uma das páginas de Breitbart na internet, “entregou-os na versão completa a vários de seus amigos”. Em determinado momento, uma série de versões das aulas, editadas de forma muito enganosa, foram publicadas na página de Breitbart. Foi então que as vidas de Ancel e Giljum se viram alteradas e começaram as ameaças de morte.

A página de Breitbart, BigGovernment.com resumia assim o vídeo: “Os professores não só defendem que a violência e a sabotagem industrial são, às vezes, necessárias, como apontam táticas específicas que podem ser utilizadas para este fim”. A professora Judy Ancel respondeu: “Me informaram que este vídeo estava publicado na página de Andrew Breitbart, BigGovernment, e quando vi fiquei horrorizada porque sabia que era eu quem falava, mas o que estava dizendo não era o que eu havia dito em aula”. Ancel relaciona o ataque contra ela e Giljum como parte de um ataque mais amplo que está ocorrendo contra instituições progressistas:

“Este tipo de ataque é um tipo de fascismo eletrônico. Geram tanto medo e estão tão diretamente dirigidos contra qualquer coisa que seja progressista – direito à educação, direitos dos sindicatos, direitos dos trabalhadores – que acredito serem parte de um ataque generalizado para silenciar as maiorias e gerar o tipo de clima de medo que permite que demos um salto muito abrupto para a direita. E isso é verdadeiramente aterrador”.

No vídeo do ataque se incluiu informação para contato com Ancel e Giljum. A professora Ancel recebeu uma chuva de correios eletrônicos cheios de ameaças. Giljum recebeu ao menos duas ameaças de morte por telefone. A Universidade de Missouri realizou uma investigação sobre as acusações que se desprendem dos vídeos, na qual colocaram policiais uniformizados e a paisana nas salas de aula. Giljum era um professor adjunto e tem outro trabalho como secretário geral da seção 148 do Sindicato de Engenheiros de Operação, em St. Louis. Logo após a publicação dos vídeos, o sindicato cedeu às pressões da Federação Estadunidense do Trabalho e Congresso de Organizações (AFL-CIO, na sigla em inglês) de Missouri, e pediu a renúncia de Giljum alguns dias antes do 1° de maio, quando se cumpria o prazo para sua aposentadoria após 27 anos trabalhando neste lugar.

Após a investigação, Gail Hackett, reitora da Universidade de Missouri-Kansas City, publicou uma declaração na qual absolve ambos os professores. Ela escreveu:

“Está claro que os vídeos editados e publicados na internet mostram as declarações dos professores de forma imprecisa e distorcida, ao tirar do contexto suas declarações e mudar a ordem em que elas foram feitas para mudar seu significado”.

A Universidade de Missouri-St.Louis chegou a conclusões similares e afirmou que Giljum podia seguir dando aulas ali.

No dia 18 de abril, Andrew Breitbart foi entrevistado no programa de Sean Hannity, na Fox News. Durante a entrevista declarou: “Vamos tratar do tema da educação, vamos atrás dos professores e dos sindicalistas”.

Parece que Ancel e Giljum foram tão somente os primeiros alvos do ataque.
Neste caso o ataque fracassou. Embora a ACORN tenha sido reabilitada por uma investigação do Congresso, o ataque teve duas sequelas: a organização perdeu financiamento e entrou em falência. O presidente Barack Obama e o secretário de Agricultura Tom Vilsack pediram desculpas a Shirley Sherrod e Vislack suplicou-lhe para que regressasse ao seu posto de trabalho. Sherrod está preparando um livro e entrou com uma ação na Justiça contra Breitbart.

Esperemos que este seja um sinal de que o engano, a intimidação e a influência da mídia da direita estejam em decadência.

(*) Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.

Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Agência Carta Maior.

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