Sexo, uma areia movediça entre a política e o poder
Pedro do Coutto
O comportamento estúpido e insensato de Dominique Strauss-Kahn, diretor executivo do FMI, tentando manter relações sexuais à força com uma camareira do hotel em que se hospedava em Nova Iorque, é mais um episódio da série de outros que o antecederam e sempre terminam colocando o sexo como uma espécie de areia movediça entre a política e o poder. Aliás como destaquei no título. Não combinam. A ruptura da intimidade que deve envolver o primeiro leva à quebra da privacidade do segundo. Como um palco que se abre no teatro da vida sem que os atores estejam prontos para deixar as cortinas e aparecer sob a luz do espetáculo.
Me vêm logo à lembrança o caso do ministro inglês John Profumo, integrante do governo conservador de Macmillan, e próximo da família real, que se envolveu com Christine Keeler, profissional envolvida também com o adido naval da embaixada Soviética em Londres, Eugene Ivanov. Profumo teve que renunciar, não só pela repercussão da primeira fase do fato, mas em função da atmosfera da época. Era o tempo da espionagem alimentando e sendo alimentada pela guerra fria e pela dualidade capitalismo-comunismo.
O Senador Edward Kennedy era o nome mais forte do Partido Democrata para disputar a presidência da República em 1972 e enfrentar Richard Nixon que tentava a reeleição. Mas em 1969, em companhia da jovem Mary Joe Kopechne, quando retornavam de Chapaquidick para Boston, perdeu a direção do automóvel e ambos mergulharam no rio que cortava a cidade. Ted Kennedy conseguiu salvar-se. Mary Jo morreu. Foi condenado a dois anos de prisão por crime culposo. Obteve a condicional. Reelegeu-se senador até o fim de sua vida, em 2009. Mas deixou escapar a presidência dos EUA.
O senador Democrata pelo Colorado, Gary Hart, era forte candidato a enfrentar George Bush, pai, nas urnas de 88. Dominara as primeiras prévias partidárias. Mas no final de 87, teve um caso com a modelo Donna Rice. Na ausência de sua mulher passou a noite com Donna em sua residência de Washington. Lee Hart o defendeu como pode. Porém não conseguiu evitar o afundamento de sua candidatura. Em 1968, na sucessão de Lindon Johnson, o candidato Democrata Hubert Humfrey subia nas pesquisas empatando com Nixon. Mas quinze dias antes das eleições Jaqueline Kennedy, viúva do presidente John Kennedy, casou-se com Aristóteles Onassis. Computados os votos, a diferença foi de apenas um por cento. Jaqueline derrubou Humfrey.
Em maio de 74, o chanceler Willy Brandt, Premio Nobel da Paz, Social Democrata, responsável pela descompressão política na Alemanha, caiu em depressão quando veio à tona que em seu gabinete existia um espião comunista, Gunter Guillaume. Havia uma mulher entre os dois. Segredos não resistem à cama, onde, segundo meu amigo Nelson Rodrigues, se nasce, se ama e se a sorte ajudar, também se morre. Willy Brandt renunciou ao governo e à política.
O caso mais famoso entretanto foi o do presidente Bill Clinton que caiu no precipício armado por Mônica Levinsky. Escapou por pouco de sofrer impeachment. Foi salvo pela firmeza extraordinária de sua mulher, Hillary, hoje Secretária de Estado de Barack Obama e que para ele perdeu as prévias do Partido Democrata para disputar a Casa Branca.
Dominique Strauss-Kahn é mais um a submergir ao inserir o sexo na estrada política. Candidato forte do Partido Socialista Francês às eleições de maio de 2012, com sua atitude inconsequente terminou fora do páreo retirado do avião e preso pelo FBI. Deu adeus às armas. Mas acredito que o partido que está há 20 anos fora do poder, desde as reeleição de Mitterrand, encontrará o substituto. Sarkozy está enfraquecido. Marine Le Pen atinge o teto da extrema direita. A grande maioria do eleitorado aguarda a definição e união dos socialistas. Ela virá na véspera do poder.
Fonte:Tribuna da Imprensa.
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