segunda-feira, 16 de maio de 2011

POLÍTICA - Bancada Rural e o PC do B.

Quem são mais oportunistas e carreiristas? Ruralistas ou comunistas? Os donos das terras que “receberam” de Deus, aplaudiam, entusiasmados, o líder do PC do B.

Helio Fernandes

São interesses colossais, o que justifica que reacionarissimos donos de fazendas, aplaudam, “entusiasmados” o dono do PC do B, Aldo Rebelo. Nenhum constrangimento de lado a lado.

Em 1945, o PCB lançou para o Senado, o grande pintor Portinari. Ele não queria, insistiram, teve que aceitar. Ainda eram só duas vagas, uma seria para Portinari. Tentariam conquistar a outra. Portinari abriu uma grande frente, estava eleito.

Ainda não havia o PC do B, só o PCB, chamado de “partidão”. Dissidência sempre houve, tanto que ficou clássica a constatação: “Os comunistas só se entendem e se unem na cadeia”. Isso se confirmou em todos os tempos.

Depois, expulsariam Luiz Carlos Prestes, o único e verdadeiro comunista e o maior líder do partido. Criaram o PC do B, perdão, o “aldorebelismo”, que agora é patrocinado pelos ruralistas e vice-versa.

O empresário Roberto Simonsen (nada a ver com o Ministro da Fazenda de Geisel), em terceiro, já derrotado. Mas teve conversa “salvadora” com a direção do PCB, ultrapassou Portinari. Este até ficou satisfeito. Muito amigo do repórter, muitas vezes íamos tomar um café na Praça Serzedello Correia, onde eu morava na época.

Isso está narrado no livro sobre Nelson Rodrigues, escrito pelo repórter Ruy Castro. Portinari então me disse, sem nenhuma hostilidade, falando sobre os comunistas: “Não fiquei aborrecido, eles estão sempre precisando de dinheiro”. E numa afirmação-interrogação: “Nem sei o que iria fazer no Senador?” Total sinceridade.

Os comunistas continuaram “precisando de dinheiro” e negociando apoio. Ficaram com Juscelino nessa base. E isso era tão público, que no inquérito para a cassação do já ex-presidente, a principal acusação era “de que Juscelino pertencia ao PCB”. Valia tudo, podiam até acusar o candidato de ter “recebido apoio pago”. Mas chamar JK de “comunista”? Absurdo total.

(Mais inacreditável do que isso, só o Ministro do Exercito, Silvio Frota, chamando o “presidente” Geisel de comunista. Na sua biografia, com revelações interessantes, esteve sempre por dentro de tudo), afirma em determinado momento: “Eu sabia, eu sabia há muito tempo que Ernesto Geisel era comunista”.

Silvio Frota, ministro por acaso, pela morte do titular, não perdoava nem esquecia o que Geisel fizera com ele em 12 de outubro de 1977. Tentou derrubar o “presidente”, e ficar no seu lugar, foi estraçalhado. Não se recuperou, não havia mais tempo. O “golpe” de 64 estava praticamente no fim, não referendariam outro “golpe” dentro do “golpe”.

Aconteceram muitos nos bastidores, raros vieram a público. No Poder os generais agiam como os civis e imitavam os comunistas. Isso é outra história.

Como Portinari (e muita gente mais) sabia, “os comunistas estavam sempre precisando de dinheiro”. Tinham que procura-lo ou aceita-lo, queriam se manter, sem examinar a fonte dos recursos.

Na sucessão de Lacerda, em 1965, Golbery coordenou tudo na Guanabara e em Minas. Vetou Sebastião Paes de Almeida, preferiu Israel Pinheiro, proprietário do órgão mais corrupto que já existiu no Brasil, a Novacap. Um “deserto”, distribuído aos que interessava, entre eles os comunistas.

Na Guanabara, os dois Geisel, vetaram o general Lott, havia o “perigo” dele vencer, era incontrolavel e incorruptível. Lançou então Negrao de Lima, com o apoio “gratissimo” dos comunistas, que criaram a palavra de ordem: “Votem em Negrão com um lenço no nariz, mas votem”.

Negrao de Lima e Israel venceram, qual era o interesse de Golbery? Apenas isto: “mostrar ao Exercito que toda vez que houvesse eleição direta, a oposição, com apoio dos comunistas, venceria”.

Aí, o proprio Golbery liderou um movimento para que Israel e Negrão não tomassem posse. Era a parte final do plano. Mas foi derrotado por Costa e Silva, daí o seu grande ódio (dele e de Ernesto Geisel) ao ministro do Exercito.

Mostrando sua grande liderança e prestigio, Costa e Silva foi à Vila Militar, acomodou os militares (e incomodou Golbery), garantindo que os “eleitos têm que tomar posse, ou ficaremos desmoralizados”. Isso Golbery não podia esquecer, começou a trabalhar para Costa e Silva não ser o sucessor de Castelo Branco.

Sempre derrotados, Golbery e Geisel tiveram que fugir. Golbery se “escondendo” no Tribunal de Contas, Ernesto Geisel no STM (Superior Tribunal Militar). A salvação dos dois foi o derrame cerebral de Costa e Silva. Considerado “incapacitado” em 1969, logo os dois voltariam à ativa.

E Geisel chegou a “presidente”, regatando o veto anterior ao irmão Orlando. Veto que não aborreceu o mínimo que fosse o irmão que pretendia e foi mesmo “presidente”.

***

PS – A participação dos comunistas, não é nem condenável. Mas o “apoio” deles a candidatos “divergentes”, sempre nos bastidores.

PS2 – Inteiramente diferente do espetáculo circense, montado pelos ruralistas. E Aldo Rebelo, chamado por eles de “Grande Aldo”, e depois “Aldo, o maior brasileiro”, era inacreditável.

PS3 – Aldo, “iluminado” pelos reacionários e inconsequentes ruralistas, foi derrotado pelo governo que apóia. Não houve nem haverá votação a respeito do Código Florestal.
Fonte: Tribuna da Imprensa.

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