domingo, 26 de junho de 2011

GRÉCIA - A ditadura do mercado.

DO BLOG DEMOCRACIA&POLÍTICA


Por Clovis Rossi, na 'Folha':

Agora, exige-se que, até a oposição respalde o novo pacote de dor; "todos devem aceitar ou os dissidentes serão os irresponsáveis"

“A União Europeia deu mais um passo no rumo da ditadura dos mercados: exige que todos os partidos gregos respaldem o pacote de austeridade (o segundo em um ano) a ser votado em princípio no dia 28.

A chanceler alemã Angela Merkel teve o descaramento de dizer ao líder oposicionista grego Antonis Samaras, conservador como ela, que a oposição deveria "honrar sua responsabilidade histórica".

Traduzindo: ou todo o mundo abaixa a cabeça e aceita a imposição do novo pacote ou os dissidentes serão irresponsáveis.

Fico imaginando a gritaria [da oposição e da sua mídia brasileiras] se a presidente Dilma Rousseff exigisse que a oposição apoiasse, digamos, o sigilo eterno para [determinados e sensíveis] documentos oficiais [de política externa] e/ou o sigilo [para as empreiteiras antes da definição da vencedora] para os orçamentos das [obras da] Copa e da Olimpíada. Mas sobre a exigência equivalente dos mercados, silêncio ensurdecedor.

O leitor pode estranhar que eu diga exigência dos mercados quando ela foi formulada pelos governos dos 27 países da União Europeia (o grego incluído).

Acontece que eles estão apenas cedendo à chantagem dos mercados sobre a Grécia, que toma a forma de juros cada vez impossíveis de pagar, o que cria o risco de calote, que, por sua vez, afetaria bancos europeus, especialmente da Alemanha e da França, os países que têm voz de comando na UE.

A oposição grega reagiu com lógica. "Me pedem que apoie uma medicação para alguém que está morrendo por culpa dessa mesma medicação", disse Samaras.

Bingo: a situação na Grécia só fez piorar desde que foi adotado, há um ano, o primeiro programa de austeridade. O desemprego, por exemplo, aumentou 50%, para os obscenos 16% atuais.

Em linha com Samaras, a revista "The Economist" ironiza: "A União Europeia parece ter adotado uma nova regra: se um plano não está funcionando, agarre-se a ele".

Mais do que agarrar-se a ele, dobra a aposta: depois de uma inspeção, que durou até a madrugada de anteontem, exigiu adicionais €$ 5,5 bilhões de cortes/aumentos de impostos, o que dá cerca de 20% mais de dor no pacote de €$ 28 bilhões, a ser votado no dia 28.


Que a Grécia precisa fazer um ajuste duro, ninguém nega. Mas há pontos no programa que parecem responder mais à inércia ideológica do que a busca de resultados. Exemplo: cortar 150 mil dos 700 mil empregos públicos. Que deve haver inchaço, deve. Em todos os países há. Mas um relatório ontem divulgado pela OCDE, o clubão dos 33 países mais ricos do mundo (o Brasil só não está porque não quer), mostra que a Grécia tem uma das taxas mais baixas de emprego público: só 7,9% de sua força de trabalho está no setor estatal, quando a média da OCDE é de 15%.

Bem feitas as contas, o bom senso nesse caso está com o sindicalismo, o suspeito de sempre de defender o gasto público: "O sindicalismo europeu também considera necessário, como é óbvio, reduzir os níveis da dívida e do déficit públicos. A diferença está nos prazos, nos instrumentos e na repartição social do peso [do ajuste]. É inaceitável que toda a carga fique com os trabalhadores e os setores sociais de menor renda", diz o espanhol Ignacio Fernández Toxo, presidente da Confederação Europeia de Sindicatos.”

FONTE: escrito por Clóvis Rossi e publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2506201107.htm) [imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

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