quinta-feira, 16 de junho de 2011

LÍBIA - Povo líbio criou milícias armadas para defender Kadafi.

Afinal, por que EUA e seus aliados não conseguem derrubar Kadafi? Por que o povo líbio criou milícias armadas e insiste em defender o ditador?

Carlos Newton

A impressionante resistência do povo da Líbia é facilmente justificável, mas a imprensa ocidental não dá explicação alguma, limita-se a fazer uma espécie de diário da guerra, citando os pontos bombardeados pela aviação americana, inglesa, francesa e italiana, relacionando o número de vítimas etc., e estamos conversados. Esta é a cobertura da mídia.

Nenhum jornal ou televisão explica que a união do povo líbio em torno de Muhamar Kadafi é fruto de sua própria forma de governo, bem diferente dos demais países árabes que exportam petróleo. Segundo o jornal britânico “Financial Times”, até o início da guerra civil alimentada pelo Ocidente, os líbios tinham o rendimento per capita mais alto de África, com 14.900 dólares por ano. Você sabia?

Além disso, há muitas outras informações que ardilosamente são ignoradas pela imprensa ocidental. Por exemplo, o fato de que o regime de Kadafi vinha utilizando a riqueza petrolífera do país para construir uma ampla rede de escolas, hospitais e clínicas públicas. Assim, dezenas de milhares de estudantes líbios de baixos rendimentos receberam bolsas para estudar no seu país e no estrangeiro. Ao mesmo tempo, as infraestruturas urbanas estavam sendo foram modernizadas, a agricultura era subsidiada e os pequenos produtores e fabricantes recebiam créditos do governo.

Ao contrário de outros ditadores árabes, Kadafi não se preocupou apenas em enriquecer a sua própria família/clã, promovendo também programas eficazes de desenvolvimento, mas agora está tudo em risco, com os bombardeios diários e com os ataques dos rebeldes, que são bancados e incentivados pelo Ocidente.

Na verdade, os rebeldes e os seus mentores estão destruindo a Líbia, arrasando toda a economia, bombardeando importantes cidades e destruindo a infraestrutura do país e tudo o mais. Ao mesmo tempo, bloqueiam a entrega de alimentos subsidiados e assistência aos pobres, provocam o fechamento das escolas e forçam milhares de profissionais, professores, médicos e trabalhadores especializados estrangeiros a fugir do país.

A imprensa ocidental não explica que os líbios, mesmo os que se opunham à prolongada permanência de Kadafi no poder, encontram-se agora perante a escolha entre apoiar um estado de bem-estar social, evoluído e que funcionava, ou apoiar uma aventura militar manobrada por estrangeiros. Compreensivelmente, muitos deles escolheram ficar do lado do regime.

O fracasso das forças rebeldes apoiadas pelo Ocidente, apesar da sua enorme vantagem técnico-militar, deve-se à destruição insensata desse sistema de bem-estar social que vinha beneficiando milhões de líbios desde duas gerações.

A incapacidade de os rebeldes avançarem, apesar do apoio maciço do poder ocidental aéreo e marítimo, significa que a “coligação” EUA-França-Inglaterra-Itália terá que reforçar sua intervenção e desembarcar as tropas, invadindo o país em desrespeito às determinações das Nações Unidas, se é que realmente pretendem ganhar a guerra e dominar a produção de petróleo, sejamos francos.

Na verdade, a intervenção estrangeira exacerbou a consciência nacionalista dos líbios, que passaram a entender sua confrontação com os rebeldes anti-Kadafi como uma luta para defender sua pátria do poderio estrangeiro aéreo e marítimo e das tropas terrestres fantoches – um poderoso incentivo para qualquer povo ou exército. E o raciocínio oposto também é verdadeiro para os rebeldes, cujos líderes abdicaram da sua identidade nacional e dependem inteiramente da intervenção militar ocidental para chegarem ao poder.

Mas a tendência é de enfraquecimento das tropas rebeldes, porque muitos jovens líbios devem acabar abandonando a luta contra seus compatriotas, ao perceberem que o que fazem é tentar colocar o país sob um domínio neocolonialista, contra a vontade do povo, a pretexto de derrubarem Kadafi.

Enquanto isso, na Síria, no Iêmen e em outros países árabes o banho de sangue também continua, unindo cada vez mais os islamitas contra os ditadores apoiados pelo Ocidente, transformando aquela riquíssima região numa gigantesca bomba-relógio que um belo dia vai explodir, marcando o tempo da guerra santa com que os muçulmanos tanto sonham.
Fonte: Tribuna da Imprensa.

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