Por Ricardo Kotscho
Passou despercebido na semana passada um detalhe da minirreforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff: mudou outra vez o regime de governo.
Após a breve experiência parlamentarista com o primeiro-ministro Antonio Palocci, que não chegou a completar cinco meses no cargo, e a nomeação de duas mulheres de sua confiança para as funções que ele desempenhava – a coordenação de governo e a articulação política – Dilma dividiu os poderes da Casa Civil e restituiu o presidencialismo no país.
Sem entrar no mérito das nomeações de Gleisi Hoffmann, para a Casa Civil, e de Ideli Salvatti, para as Relações Institucionais, mulheres de personalidade forte e perfil semelhante ao da presidente, anunciadas por Dilma sem qualquer negociação com o PT, o PMDB e os demais partidos da base, e sem consultar ninguém, a presidente de uma só tacada provou que:
1º – O país tem governo.
2º – O país não tem oposição.
“O governo é o nosso maior aliado, pelos erros e contradições”, gracejou o senador mineiro Aécio Neves, provável candidato tucano em 2014. Se esta é a única coisa que a oposição tem a dizer, é sinal que a crise política das últimas semanas não lhe serviu para nada.
Não que o governo não tenha cometido erros e apresentado contradições, mas usar este argumento chega a ser hilário para quem acompanha a fragmentação e o encolhimento de partidos como PSDB, DEM e PPS.
Claro que a reforma ministerial não vai parar por aí. Até o final do ano, muitas outras mudanças virão, na medida em que Dilma encontrar no mercado quadros mais afinados com o seu estilo e projeto de governo.
A presidente assumiu em 1º de janeiro com um time misto de 37 colaboradores na Esplanada, sendo apenas um décimo deles, no máximo, da sua confiança e cota pessoal. O restante foi resultado de acordos com o ex-presidente Lula, que emplacou vários ex-ministros seus no novo governo, e os partidos aliados, à frente o PT e o PMDB, que até hoje brigam pelos cargos de segundo escalão.
As circunstâncias em que Dilma foi eleita, com o decidido apoio de Lula, um presidente que chegou ao final do mandato com altos índices de popularidade, e o fato de ela não ter uma equipe própria, a levaram a montar o ministério possível e não o dos seus sonhos neste primeiro momento.
Lula levou mais de 20 anos formando um time para quando chegasse ao poder. Dilma nunca sonhou em disputar qualquer mandato, quanto mais o de presidente da República. Na noite em que ambos comemoraram a vitória no Palácio da Alvorada, apenas dois assessores acompanhavam a
presidente eleita; os demais convidados eram todos da “turma de Lula”.
Agora, com o poder centralizado nela e a caneta na mão, é natural que Dilma vá formando um ministério à sua imagem e semelhança.
Para o bem ou para o mal, ao decidir sozinha o desfecho da crise política desencadeada pelo ex-primeiro-ministro indicado por Lula, que já se arrastava fazia três semanas, Dilma Rousseff mostrou determinação e coragem _ duas qualidades importantes para quem senta na cadeira presidencial.
Vida que segue. Mais uma vez, o mundo não acabou
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