Carlos Chagas
Sobrou politicamente o quê para Brasília, na semana paulista que passou, comprimida entre a Passeata com Jesus e a Parada de Orgulho Gay, cada qual com dois milhões de participantes? Por conta das festas de São João e do feriado religioso na quinta-feira, a resposta seria não ter sobrado nada, não fosse… Não fosse a entrevista concedida por Gilberto Carvalho ao Portal G-1, divulgada ontem, verdadeira exposição explícita da arte de usar as palavras para esconder a realidade.
Disse o Secretário-Geral da presidência da República que em 2014 o Lula jamais será candidato a voltar ao palácio do Planalto, e que 2018 está muito longe. Para ele, trata-se de uma conseqüência natural a candidatura de Dilma Rousseff a um segundo mandato. Também falou do relacionamento entre o antecessor e a sucessora, rotulando como coincidência a vinda do ex-presidente para reunir-se com o PT e, depois, com senadores do PMDB na residência de José Sarney, em meio à crise de rebelião da base parlamentar do governo contra o palácio do Planalto, sem esquecer o episódio Antônio Palocci, então em plena efervescência. O Lula não teria vindo à capital federal para apagar incêndios, mas, apenas, por ter agendado previamente esses encontros.
Ficou em cima do muro ao referir-se à nomeação de Gleise Hoffmann para a Casa Civil e de Ideli Salvatti para a Coordenação Política. Carvalho declarou que não apenas soube, mas participou dessas escolhas, sendo que o Lula foi participado e opinou, sem tê-las indicado.
Com todo o respeito e reconhecimento pela habilidade do Secretário-Geral em misturar fatos e intenções, a verdade parece um pouco diferente. Começa que Dilma jamais manifestou o desejo de disputar a reeleição, coisa que tanto Fernando Henrique quanto o Lula começaram a preparar antes mesmo de terem assumido o primeiro mandato. A presidente tem os pés no chão e sabe ser impossível conter a avalancha que já a partir do próximo ano envolverá qualquer aparição pública do ex-presidente. A campanha do “volta!” será espontânea, independentemente do desempenho do atual governo. Em momento algum Dilma remará contra a maré, ainda mais porque o Lula, mesmo se procurasse esconder-se, não conseguiria. E sabe muito bem que 2018 está mesmo longe, mas 2014 tão perto em termos de sucessão presidencial que a ninguém será dado adiar suas preliminares. Seria como imaginar Mano Meneses armando um time sem pensar na Copa do Mundo daquele ano.
Sendo assim, pelo fato de o Lula ser candidato, a consequência é de que Dilma não será, para tristeza de Aécio Neves, dos tucanos e de qualquer outro pretendente fora do PT.
A gente se pergunta o que pretendeu Gilberto Carvalho com a cortina de fumaça virtual lançada ontem. Agradar a presidente Dilma ele não precisa. Tem a confiança dela até por tratar-se do elemento de ligação entre o passado e o presente. Assustar o PT e o PMDB com oito anos de permanência ao sol e ao sereno em termos de nomeações, participação no governo e nas grandes decisões administrativas, também não. Sendo assim, a conclusão é de que o Secretário-Geral abriu a temporada sucessória afirmando precisamente o contrário do que pensa e sabe: o Lula será candidato em 2014…
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