Do blog do Luis Nassif
No padrão de redação convencional, cabe ao repórter sair atrás dos dados e a retaguarda - editores, redatores - filtrar eventuais excessos ou distorções, especialmente no modelo brasileiro que coloca na reportagem jornalistas mais jovens e na retaguarda os mais experientes.
O repórter da matéria abaixo cumpriu sua missão. Entrevistou o tal amigo do Lula que vendeu a fazenda para o INCRA e trouxe uma informação adicional relevante: a fazenda vizinha foi vendida por preço maior ainda e não consta que o fazendeiro tivesse qualquer relação de amizade com Lula.
A partir daí, fica rompido qualquer relação de causalidade entre a amizade de Lula e a operação.
Mas o neoEstadão não perdoa. O título da matéria tenta a fórceps incluir Lula como peça central.
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Inquérito apura compra de fazenda de amigo de Lula
Avaliadas em R$ 14 milhões, terras de José Carlos Bumlai foram comprada pelo Incra por R$ 21 milhões
16 de junho de 2011 | 0h 00
João Naves de Oliveira - O Estado de S.Paulo
O Ministério Público Federal (MPF) instalou inquérito ontem para investigar se houve superfaturamento na compra da Fazenda São Gabriel, do empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Segundo o MPF, a fazenda foi negociada por R$ 21 milhões com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas era avaliada em R$ 14 milhões. O imóvel foi comprado em 2005, mas a aquisição é contestada desde o ano passado.
Em setembro, a Justiça Federal determinou a suspensão dos pagamentos de TDAs (Título da Dívida Agrária), da compra da fazenda. Segundo o procurador do Incra-MS, Antônio Augusto de Barros, "a ação civil pública do MPF foi contestada com farta documentação, mostrando que a negociação foi perfeitamente legal, sem superfaturamento. Alegamos que o MPF está cerceando nosso direito de contestação, com investidas contra o Incra sobre o caso."
O inquérito do MPF deve apurar em que circunstâncias o Incra produziu os documentos que tentam reverter a decisão judicial. O órgão ressalta que "o Incra pagou mais de R$ 14 milhões, até a suspensão dos pagamentos pela Justiça. Os peritos do MPF concluíram que o valor real da fazenda, na época da compra (2005), era de pouco mais de R$ 13 milhões."
O MPF afirmou ainda que não economiza recursos para tentar reverter decisão judicial, que suspendeu o gasto irregular de R$ 7,5 milhões. Para o procurador Barros, o MPF fez nova avaliação do imóvel comparando-o com fazendas de áreas alagadas. "Esse levantamento está furado, errado e feito por pessoas não habilitadas. O Ministério Público diz que o Incra fez despesa para a contestação com levantamentos na área, é mentira. Avião, fotógrafo e outras despesas foram pagas pelos dois técnicos do Incra, acusados no processo."
Para um dos parentes próximos da família Bumlai, "o promotor que pediu a instauração do inquérito quer aparecer. Porque o MPF não contestou a compra feita pelo Incra, por exemplo, da Fazenda Santa Mônica, vizinha da São Gabriel e adquirida na mesma ocasião com preço bem acima do que foi pago pela São Gabriel. Existe alguma ligação com a amizade da família com o ex-presidente?", contesta.
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