Paulo Moreira Leite
Confesso que será difícil encontrar piores exemplos de degradação moral. Depois das imagens de tortura no Iraque, a internet exibe um vídeo que mostra soldados americanos urinando em cadáveres no Afeganistão.
Por que isso acontece?
Embora o custo das duas guerras seja estimado em trêsa trilhões de dólares, é obrigatório registrar que os Estados Unidos não sairam vitoriosos em nenhuma delas. A bandeira americana foi arriada no Iraque depois que o país foi destruído e centenas de milhares de cidadãos — não há sequer números confiáveis sobre o conflito — foram mortos.
Ainda não se sabe para que. O pretexto, falso, era impedir a construção de armas de destruição em massa. O saldo real foi a prisão e morte de Saddam Hussein, episódio que só pode ser aceitável caso se considere que a Casa Branca tem um mandato para perseguir tiranos pelo mundo afora.
(Sempre se pode perguntar: o que vai acontecer no dia em que se considerar que o próximo tirano não mora num país árabe?)
O Afeganistão foi invadido logo após o 11 de setembro. Numa falha da inteligencia americana, acreditava-se que Ozama Bin Laden estivesse escondido por lá. Na verdade, ele só seria encontrado dez anos mais tarde, depois que uma operação de inteligência — não de guerra — foi capaz de localizá-lo no Paquistão.
Eu acho que é por essa razão que soldados americanos urinam e torturam. É um ato de desrespeito. Mas também é uma autodesmoralização e uma tentativa de vingança.
Verdade que os casos de tortura já ocorriam em outras guerras. Existem imagens de guerrilheiros vietcongs sendo vítimas da tortura por afogamento na Guerra do Vietnã. Não era Abu Ghraib e suas imagens medonhas mas era aquela forma covarde de violência.
As guerras, todas, produzem cenas vergonhosas e inaceitáveis, atos bestiais e vergonhosos.
Mas essas cenas mostram que se avançou um limite. São as guerras inúteis, a carnificina em estado bruto. Quem vai se importar com urina?
http://colunas.revistaepoca.globo.com/ofiltro/2012/01/12/eua-investigam-video-em-que-soldados-urinam-em-corpos-de-afegaos/
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