Do Blog do Rovai
Quando Serra ainda era prefeito e refletia entre deixar a prefeitura para ser candidato a governador ou para presidente da República tive um encontro com um experiente analista político de São Paulo que me disse o seguinte: “o esperto dessa história toda é o Kassab, que já convenceu o Serra que ele tem que ser candidato a alguma coisa”.
A conversa foi se desenvolvendo e o meu interlocutor foi contando histórias do então vice-prefeito. De como tinha chegado, sem carisma, por exemplo, deputado federal e depois a vice de Serra, indicado, aliás, por Alckmin. E ao fim, disse: “se ele virar prefeito, como já está ficando claro, a Marta pode tirar o cavalo da chuva. Ele vai se reeleger”.
Achei a aposta muito arriscada, mas desde aquele dia comecei a prestar mais atenção em Kassab.
Ele de fato assumiu a prefeitura e deu continuidade ao governo de Serra, garantindo apoio no próprio PSDB à sua reeleição. Alckmin, que insistiu em ir para a disputa em 2008, acabou sendo cristianizado pelo seu partido e quase tem sua carreira política encerrada precocemente.
Depois de reeleito, Kassab se manteve fiel a Serra enquanto este era governador e foi tocando timidamente seu governo. Quando a tentativa do Zé da Mooca de ser presidente deu água e Alckmim se elegeu governador, ele surpreendeu a todos pulando fora do barco do DEM e lançando seu partido, o PSD, que não é nem de esquerda, nem de direita e nem de centro, e que conseguiu numa tacada se tornar a terceira força da Câmara dos Deputados, tendo menos deputados apenas do que o PT e o PMDB.
Ao mesmo tempo, dominou a Câmara de vereadores de São Paulo, se livrou das amarras do então Centrão e atraiu até os vereadores comunistas para a sua base. O PCdoB de tantas boas histórias foi para o colo do prefeito em troca de um cargo vinculado à Copa do Mundo.
O PT se manteve na oposição. E passou a ser o único partido que continuou batendo no governo dele, que, aliás, tem baixa aprovação popular. Enquanto isso, Kassab lançava suas fechas de amor eterno para o PSDB, tentando convencer o partido agora liderado por Alckmim a fechar um acordo incluindo 2014 no jogo.
Os tucanos apoiariam Afif e depois o PSD retribuiria apoiando Alckmim, que poderia ter o próprio Kassab de vice.
Alckmin enviava e continua enviando sinais de que não considerava o prefeito alguém confiável. Até porque depois de tê-lo indicado como vice de Serra, tomou um olé do próprio.
Quando Kassab percebeu que estava sendo sinucado pelo governador, de maneira muito inteligente fez uma nova jogada de mestre. Disse a Lula que aceitaria indicar o vice na chapa de Fernando Haddad. E num passe de mágica, conseguiu fazer com que o único foco de oposição da cidade se tornasse um meio foco. Boa parte dos vereadores petistas e das lideranças locais acha que o prefeito já não é assim tão ruim quanto era até a visita que fez a Lula. E alguns têm dito sem nenhuma cerimônia que se ele vier a indicar um candidato a vice razoável, tem jogo.
Como não é bobo nem nada, Kassab já está até enviando sinais de quem é o seu nome para compor chapa. Ele indicaria Alexandre Schneider, seu atual secretário de Educação, pessoa da sua extrema confiança. Quanto a Henrique Meirelles, diz que o banqueiro não aceita a tarefa.
O PSDB, evidentemente, ficou atordoado com essa nova movimentação do prefeito paulistano. E suas lideranças nacionais estão todas neste momento pressionando Alckmin a negociar com ele.
Kassab conseguiu fazer com que os petistas baixassem a guarda e que os tucanos voltassem a se esparramar em elogios a ele. Ou seja, voltou a ter o controle da sua sucessão.
Vai ficar muito ruim para os petistas que estão sinalizando aceitar um acordo com o prefeito se daqui a uns 30, 40 dias ele conseguir o que na verdade quer. Ou seja, ter o apoio dos tucanos para Afif. Ou ainda se Serra vier a ser candidato e o prefeito anunciar seu apoio a ele.
O pior cenário numa disputa é esse, iniciar a campanha refém do possível apoio de um adversário histórico. O PT que começou bem a construção de uma candidatura em São Paulo evitando as prévias, agora está sem saber se vai fazer uma campanha de oposição ou onde não vai poder criticar o atual governo municipal. O meu interlocutor tinha razão, o esperto dessa história toda é o Kassab.
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