"Fundo Monetário faz alerta com argumentos sem fundo a respeito de crise nos bancos da América Latina", constata Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 08-01-2012.
Segundo ele, "o Brasil é a galinha dos ovos dourados do Santander. Se o banco para de emprestar e lucrar aqui, a matriz vai à breca".
Eis o artigo.
O ridículo moral e intelectual do FMI parece infinito. O diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo "alertou" na semana passada que a baderna europeia pode afetar a América Latina porque, "na média", os bancos da eurozona detêm 25% dos ativos bancários nos maiores países da região. Uhm.
Para quase todos os efeitos, o conceito de "América Latina" é besteira. Mas passemos, e entremos pelas bobagens ainda piores.
1) Qual a relevância de se tratar de "média" quando o assunto em questão é o peso dos bancos da eurozona em cada economia (na média, um país pode ter zero de ativos na mão de bancos europeus e outro pode ter 50%)? Crises não acontecem "na média": são específicas;
2) A "média" não dá conta do peso de cada economia na região. Crise no Brasil é uma coisa, outra na Argentina, uma terceira na Colômbia, para nem falar do Uruguai;
3) A "média" não dá conta do fato de que o México vive num universo econômico e o Brasil em outro;
4) Mais importante, a "média" nada diz sobre as diferenças regulatórias, de financiamento dos bancos e da concorrência dos mercados bancários de cada país. No Brasil, a regulação é razoavelmente sólida; 42,8% do estoque de crédito é de banco estatal. Para o bem ou para o mal, isso inexiste "na média" da "América Latina".
Para fazer "hedge", esse diretor do Fundo, Nicolás Eyzaguirre, ex-ministro da Economia do Chile, toma a cautela pífia de dizer no seu comentário que os bancos europeus na "América Latina" têm a prudência de se financiar com depósitos em moeda local. Logo, do que trata esse "alerta" do Fundo? De nada.
Quando se considera o caso brasileiro, a coisa fica ainda mais tola.
Os bancos estrangeiros, nem todos da eurozona, têm 17,3% do estoque de crédito (dinheiro emprestado), o grosso no Santander.
Quanto a ativos totais, o Santander é o maior banco da eurozona no Brasil. Tem 8,4% do bolo brasileiro. A seguir, vem o Deutsche Bank, com diminutos 0,66%. Itaú, BB (mais Votorantim), Bradesco, CEF e BNDES têm 70% dos ativos.
Se os bancos estrangeiros tivessem sido abduzidos por aliens em novembro de 2010, a expansão do estoque de crédito no país em 12 meses teria caído de 18,2% para 15,2%.
Nem essa hipótese ufológica daria em tragédia, mas o argumento é ainda mais absurdo porque o Brasil é a galinha dos ovos dourados do Santander. Se o banco para de emprestar e lucrar aqui, a matriz vai à breca. Além do mais, se os bancos estrangeiros jogarem na retranca, vão é perder mercado no Brasil.
Enfim, é óbvio que um desastre europeu nos causará problema gravíssimo, mas não devido ao peso dos bancos eurozoneados no Brasil.
O "alerta" do FMI é mais besteirol dessa instituição fracassada e inepta, capitã-do-mato dos donos do dinheiro grosso. Uma instituição para a qual a crise já visível em 2007 era fragilidade "circunscrita a certas áreas do mercado 'subprime' (...) e provavelmente não constitui séria ameaça sistêmica. Testes de estresse feitos por bancos de investimento mostram que, mesmo em cenários de queda nacional e sem precedentes dos preços de imóveis, a maioria dos investidores expostos às hipotecas 'subprime' por meio de derivativos não sofrerá perdas". Um vexame terminal, mas sem fim.
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