terça-feira, 17 de janeiro de 2012

POLÍTICA - Crack já é tema central da campanha.

Blog do Ricardo Kotscho.

Gilberto Kassab pode não ser um grande prefeito _ sua administração é aprovada por apenas 20% da população, segundo o último Datafolha _ mas que é um craque na sortida política partidária brasileira, isso ninguém pode negar.

Na largada da campanha eleitoral de 2012 que vai eleger seu sucessor, ao cortejar os dois maiores partidos, o PT e o PSDB, para fazer uma aliança com o seu recém-criado PSD, o prefeito paulistano conseguiu deixar sua administração fora dos primeiros embates entre os principais candidatos.

Estão todos só discutindo políticas de combate ao crack, assunto que já se transformou no tema central da campanha, apoiando ou criticando as ações do governo estadual deflagradas há duas semanas.

Dono do terceiro maior partido do país e fiel da balança na disputa paulistana, Kassab deu um golpe de mestre ao oferecer a Lula um vice do PSD para compor a chapa com Fernando Haddad.


Deixou o PT numa sinuca de bico, já que o partido está há mais de sete anos na oposição à administração Serra-Kassab com sua bancada de vereadores fazendo duras críticas ao atual prefeito. Em caso de aceitar a aliança, vai falar o que na campanha, que se enganou?

De outro lado, depois de propor a Geraldo Alckmin uma chapa tendo na cabeça o vice-governador Guilherme Afif, do PSD, com um vice tucano, Kassab colocou o PSDB na defensiva.

No poder em São Paulo desde 1995, quando Mário Covas foi eleito governador (com Alckmin de vice), o PSDB corre o risco de ficar isolado na eleição paulistana.

Isto ficou claro no segundo debate promovido nesta segunda-feira, em Santo Amaro, entre os quatro pré-candidatos tucanos. Deixaram o prefeito Kassab e sua administração de lado para se concentrar nos ataques a Fernando Haddad e à ex-prefeita Marta Suplicy, acusando o PT de disseminar o crack na capital.

A guerra político-eleitoral em torno da Cracolândia começou no último domingo. Em entrevistas publicadas pela Folha, o candidato do PT qualificou a operação policial na Cracolândia de "desastrada" e "desarticulada", enquanto os quatro pré-candidatos do PSDB defendiam a ação do governo paulista.

"O crack foi consolidado no governo do PT e foi crescendo e crescendo", disparou Andrea Matarazzo, secretário estadual de Cultura, um dos quatro pré-candidatos logo ao chegar a Santo Amaro.

Na mesma linha, o deputado Ricardo Tripoli, outro pré-candidato, responsabilizou o PT pela entrada da droga no Brasil:

"Eles estão há nove anos no governo e não fizeram nada para que os entorpecentes não entrassem pela Bolívia. Agoravêm aqui dar palpite na política de São Paulo".

Os dois são os que têm menos chances nas prévias tucanas marcadas para março. Completam a lista José Anibal, secretário estadual de Energia, que tem o controle da máquina partidária, e Bruno Covas, secretário de Meio Ambiente, que foi lançado como o preferido de Alckmin.



Anibal deixou claro que o PSDB pretende utilizar na campanha uma frase infeliz do candidato petista Fernando Haddad, durante a ocupação policial da Cidade Universitária, em novembro passado, quando ele afirmou não se poder tratar a USP como se fosse a Cracolândia e a cracolândia como se fosse a USP: "Haddad fala abobrinha sobre muitos assuntos".

Por trás do fogo cruzado entre tucanos e petistas, está o controle dos programas de combate ao crack, envolvendo as três esferas de governo. O Ministério da Saúde lançou em dezembro um plano nacional com a presença da presidente Dilma Rousseff, mas não foi avisado da Operação Cracolândia iniciada pelo governo estadual no começo de janeiro, assim como o prefeito Kassab também só foi informado quando a tropa da PM já estava nas ruas.

Limpeza urbana, esportes públicos, caos no trânsito, medidas de prevenção contra enchentes, saúde, educação e outros temas permanentes nas campanhas eleitorais em São Paulo foram até agora esquecidos pelos candidatos, como se a Cracolândia fosse o único problema grave enfrentado pelos paulistanos.

Com uma questão que é nacional no centro da discussão, e que deveria envolver as áreas de saúde, assistência social e segurança pública dos três níveis de governo trabalhando juntos, mas foi transformada numa disputa política provincial, Kassab a tudo assiste de camarote, esperando a melhor hora para definir a opção eleitoral do seu PSD.

Sem trocadilho: é ou não é um craque?

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