Fonte: Agência Petroleira de Notícias
Autor: Fatima Lacerda
Sinedino: uma
voz da cidadania na direção da Petrobrás
Eleito para o Conselho de
Administração da Petrobrás com o apoio da Federação Nacional dos Petroleiros
(FNP), Sindipetro-RJ, Fenasp, Aepet, dentre outras entidades, o petroleiro
Silvio Sinedino realiza, nesta quinta (13), a segunda plenária de prestação de
contas de seu mandato. Será no Clube de Engenharia, a partir das 17 horas. A
plenária é aberta a todos os petroleiros e à população.
Sinedino,
primeiro representante eleito pelo voto direto dos trabalhadores para compor o
órgão diretivo máximo da Petrobrás, se considera “um representante da cidadania”
e acredita que a sua participação no CA só faz sentido se for legitimada por um
mandato participativo. Entrevista concedida a Fátima Lacerda, da Agência
Petroleira de Notícias (APN). Foto: Maíra Santafé.
APN - Já são oito meses
de atuação no Conselho de Administração da Petrobrás. Como está sendo essa
experiência?
Silvio Sinedino – É uma
novidade para os dois lados. Sou o único conselheiro que não foi colocado lá
pelo governo. Fui eleito pelos trabalhadores. Isso é um diferencial. Minha
posição é independente e destoa dos demais. Sou um em 10, o que não deixa espaço
para ilusões no sentido de que a gente pode mudar as decisões tomadas. Por outro
lado, esse lugar não existia e passou a existir. Temos que cavar nosso espaço.
Somos formuladores e questionadores. Acho que a gente funciona como um espelho,
consegue dar transparência às ações do CA. E muitas coisas deixam de ser feitas
com a nossa presença. Casos como o da Refinaria de Pasadena, no Texas, talvez
fossem evitados.
Aquilo foi um escândalo.
É uma denúncia seríssima.
- A ideia inicial até que
não era má. Na implementação é que mora o perigo. A proposta era comprar uma
refinaria nos Estados Unidos, próxima aos centros de consumo, para refinar o
óleo pesado de Marlim que é barato. Assim estaríamos agregando valor ao nosso
óleo. A de Pasadena era uma refinaria velha, precisando de muito investimento.
Mas a logística era excelente. A Petrobrás pagou 360 milhões de dólares por 50%
de uma refinaria que havia custado, um ano antes, inteira, apenas 46 milhões de
dólares para um grupo belga. Mas isso é só o começo. Compramos a refinaria com a
intenção de adaptá-la para receber o óleo pesado de Marlim. O sócio deveria
saber disso. Mas na hora de fazer as adaptações o sócio não concordou. Se
retirou e deixou a Petrobrás sozinha. Na época, em 2006-2007, o CA chegou a
examinar uma carta da Petrobrás em que ela se dispunha a arcar sozinha com o
custo das obras. Mas havia uma segunda parte dessa carta que não chegou ao CA e
que eu considero ainda mais grave. Nela, além de arcar com as obras, a companhia
assumia o compromisso de uma rentabilidade
anual de 6,9% ao tal sócio. Essa é uma proposta que não se faz nem pra nossa
mãe.
Como foi a história da
compra dos outros 50% da refinaria pela Petrobrás?
- O sócio
teria mandado uma carta à Petrobrás, oferecendo a sua parte por 400 milhões de
dólares. A Petrobrás admite que teria respondido “ciente” e não “de acordo”.
Então, o tal sócio entrou na justiça para receber o dinheiro, entendendo que a
Petrobrás havia concordado com a compra. E começou a batalha judicial. Esse
processo tem mais de cinco volumes. Estou estudando, mas ainda falta muito para
compreender a história toda. Em seguida a Petrobrás teria feito uma nova
proposta ao sócio, pagando mais 820 milhões de dólares para retirar o caso da
justiça e liquidar o processo, ficando com 100% da
refinaria. É embasbacante.
É possível
responsabilizar quem fez essas operações?
Isso é o que
eu estou cobrando lá no CA. Ora, se você é meu empregado e me engana, assinou em
meu nome o que não devia, vou cobrar de você. Levantei esse questionamento lá e
a resposta foi “isso já foi muito discutido aqui”. Parece que as pessoas
envolvidas já não estão nem mais na Petrobrás. Mas a Câmara dos Deputados deverá marcar uma audiência pública,
com a intenção de examinar esse caso. Pior é que a Refinaria de Pasadena está no
plano de desinvestimento da Petrobrás. Mas, se for vendida, ela deve valer em
torno de 100 milhões de dólares, no máximo, com muito boa vontade, 200 milhões
de dólares. Nessa operação a Petrobrás amargaria um prejuízo de cerca de 1, 1 bilhões de dólares, considerando os
investimentos que fez. A essa altura, vender é o pior negócio. O péssimo já foi
feito. Quem sabe, mantendo a refinaria, algum dia a gente ainda consiga fazer
uma limonada desse limão, mesmo que seja aguada?
Qual é a sua principal
crítica à atuação do Conselho?
Uma das principais
críticas que eu tenho é quanto a pouca efetividade do Conselho. Vou dar um
exemplo:: sou conselheiro da Petros. Lá a gente gasta pelo menos um dia inteiro
por mês discutindo. Às vezes ainda fazemos encontros extraordinários. No CA da
Petrobrás, que é o órgão diretivo estratégico da empresa, nunca chegamos sequer
a quatro horas de reunião. O que se alega é quanto ao tempo do Ministro Guido
Mantega. Mas o ministro poderia delegar a uma representação de sua inteira
confiança essa função, alguém que acompanhe a Petrobrás no Ministério, para que
no CA cumpra melhor o seu papel. O Conselho funciona hoje para corroborar as
decisões que já vêm prontas. Apresenta-se uma questão que é debatida em menos
de uma hora e vota-se. A gente questiona, mas
como disse, o único voto independente é o meu.
Algumas questões que
seriam estratégicas, como o ajuste no preço da gasolina, a decisão passa pelo
Conselho?
- Isso é debatido no CA.
A própria presidente Graça está sempre trazendo essa questão. A Petrobrás está
muito sufocada. Essa é uma discussão permanente lá. Mas o ministro Mantega já
disse que o fórum de decisão sobre o preço da gasolina é outro. Se fosse uma
empresa privada, a lógica seria diferente: o consumo desse bem está muito
grande, eu aumento o preço e reduzo o consumo. Mas não é o caso. A Petrobrás não
tem esse poder. O presidente do Conselho é o ministro e ele já disse para a
Graça: a senhora sabe muito bem que não é nesse fórum que se decide o preço dos
combustíveis. Isso seria impensável numa empresa privada, mas a Petrobrás é uma
estatal e o combustível tem influência direta
na inflação. Duas coisas atacam diretamente a inflação: o preço do combustível e
o dos alimentos, sendo que o preço dos combustíveis também afeta o preço dos
alimentos. A gente tem que entender. O papel da Petrobrás é estratégico para o
país.
Nós somos de esquerda e
estamos sempre defendendo o papel social e estratégico da Petrobrás. Como a
gente lida com essas contradições?
O paradoxo foi criado
pelo próprio governo que criou medidas para estimular a indústria
automobilística, com o objetivo de aquecer a economia. Em conseqüência, aumentou
consideravelmente a venda de automóveis e o consumo de gasolina, obrigando a
Petrobrás a importar gasolina ao preço internacional e a repassar ao consumidor
ao preço tabelado. A Petrobrás não estava preparada para isso. Estava preparada
para um crescimento normal do consumo. Quando a gente refina o combustível, a
gente agüenta a pressão do preço baixo.
Mas a companhia não pode
ter prejuízo líquido. A situação hoje é extremamente delicada. O plano de
investimentos da empresa é ousado. Ela se propõe a investir no pré-sal 46
bilhões de dólares por ano. Para isso, contava com o dinheiro de uma
capitalização que já foi feita; com o seu próprio caixa e com empréstimos. Mas o
caixa que a companhia gera caiu duplamente: porque o preço está controlado e
aumentou o preço do combustível no mercado internacional; e porque temos sido
forçados a comprar mais combustível lá fora. Além disso, o dólar subiu, o que
aumenta o valor e os juros dos empréstimos. A companhia está se
descapitalizando. Então, pega mais empréstimos. Mas já estamos muito
“alavancados”. Pegar mais empréstimos nesse cenário não é bom. O mercado reduz o
nosso grau de confiabilidade para investimentos e os juros sobem, criando um
círculo vicioso.
Qual é a saída?
Globalmente, o governo
deveria investir mais em transporte coletivo, o que também gera emprego e
aliviaria o trânsito nas grandes cidades que está um caos. Mas a mudança de um
modelo de crescimento não se dá de um dia para o outro. A curto prazo, o que
gente está defendendo é uma nova capitalização da Petrobrás. Eu disse isso na
última reunião do CA. Eles contra-argumentaram que mercado não vai aceitar isso,
porque as ações estão com preço muito baixo. Mas eu não estou propondo abrir
essas ações para especulador que está interessado no lucro imediato da
Petrobrás. É uma capitalização para quem acredita na Petrobrás. É para o BNDESPAR, a Previ, a Petros, a Funcef. O governo ajuda a tantas indústrias,
através do BNDESPAR, então, tem a obrigação de
ajudar também à Petrobrás. A Petros não está investindo em Belo Monte? Contra a nossa vontade, diga-se de
passagem. Defendo uma capitalização popular, chamando a população para defender
a Petrobrás. A empresa só vai suportar se houve uma capitalização.
Nesse cenário, retomar os
leilões do petróleo pode ser um complicador a mais. Afinal, a Petrobrás é a
operadora de todo o Pré-sal.
Como pode o governo, que
é o dono da Petrobrás, falar em leilão, quando a empresa não tem dinheiro para
tocar os atuais projetos? É querer destruir a empresa. Hoje a companhia não
teria condições de disputar os campos, como nos leilões anteriores. O plano de
desinvestimento, para conseguir dinheiro através de venda de ativos, é
conseqüência dessa crise. A empresa está se desfazendo do seu patrimônio. Essa é
outra questão séria.
O coordenador da
secretaria-geral do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella, defende a revisão dos
percentuais de lucro que compõem o preço final da gasolina. É possível mexer com
esses “lobbies”?
- Isso é o que todos nós
defendemos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a
parcela de Distribuição e Revenda é de 9%. Aqui é de 18%. No caso da
distribuição, aqui no Brasil nem sei se seria não difícil assim, já que a
principal distribuidora é a BR. Outra coisa importante é democratizar a
comunicação. A Cristina está apanhando na Argentina, não está fácil, mas está
enfrentando. Até nos Estados Unidos, quem é dono de televisão não pode ter rádio
nem jornal. Mas no Brasil, essa concentração na mídia praticamente inviabiliza
ações em favor dos interesses da população. A Dilma está encontrando muita
dificuldade na proposta de redução do preço da energia elétrica. Toda a mídia
burguesa se mobiliza contra.
Já que tocou na
comunicação, o seu contato com os trabalhadores da empresa é facilitado ou
dificultado?
Não é fácil. Fiz um
pedido formal à empresa, dizendo que queria mandar mensagem a todos os
trabalhadores. Isso foi negado. Recebi como resposta que o relacionamento dos
conselheiros era com a direção executiva da Petrobrás. Entendo que tenho que me
comunicar com aqueles que represento. Consegui uma listagem, mandei uma mensagem
e foi bloqueada. Como alternativa, ofereceram-me um blog. Nesse caso o
trabalhador tem que ir lá procurar a informação. Não
tem a mesma facilidade de uma mensagem direta. Mas acredito que a maioria
dos representados iria se interessar em receber uma prestação de contas
dos nossos atos.
Você enfrenta a
Graça?
A Graça tem fama de
brava, mas naquele espaço ela é tão conselheira quanto eu. Aliás, sou dos que
mais questionam. Por natureza sou curioso e gosto de entender as coisas. É
importante fazer essa troca com a base. Precisamos realizar mais plenárias. O
ideal seria uma por mês, antes das reuniões do CA. Assim, levaríamos as
preocupações da base para o Conselho. Eu já faço isso, porque recebo muitas
sugestões e contribuições. Mas essa relação pode melhorar.
Fonte:
Agência Petroleira de Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário