O MANUAL DO GOLPE DE ESTADO
Mauro Santayana
(HD)- Cúrzio Malaparte escreveu, em 1931, seu livro
político mais importante, Técnica del
colpo di Stato: envenenamento da opinião pública, organização de quadros,
atos de provocação, terrorismo e intimidação, e, por fim, a conquista do poder. Malaparte escreveu sua obra quando
os Estados Unidos ainda não haviam aprimorado os seus serviços especiais, como
o FBI - fundado sete anos antes - nem criado a CIA, em 1947. De lá para cá, as coisas mudaram, e
muito. Já há, no Brasil, elementos para a redação de um atualizado Manual do Golpe.
Quando o golpe parte de quem ocupa o governo,
o rito é diferente de quando o golpe se desfecha contra o governo. Nos dois
casos, a ação liberticida é sempre justificada
como legítima defesa: contra um governo arbitrário (ou corrupto, como é mais freqüente), ou do governo contra os inimigos da pátria. Em nosso caso, e de
nossos vizinhos, todos os golpes contra o governo associaram as denúncias de
ligações externas (com os países comunistas)
às de corrupção interna.
Desde a destituição de Getúlio, em 29 de outubro de
1945, todos os golpes, no Brasil, foram orientados pelos norte-americanos, e
contaram com a participação ativa de grandes jornais e emissoras de rádio. A
partir da renúncia de Jânio, em 1961, a televisão passou também a ser usada.
Para desfechá-los, sempre se valeram das forças armadas.
Foi assim quando Vargas já havia
convocado as eleições de 2 de dezembro de 1945 para uma assembléia nacional
constituinte e a sua própria sucessão. Vargas, como se sabe, apoiou a
candidatura do marechal Dutra, do PSD, contra Eduardo Gomes, da UDN. Mesmo
deposto, Vargas foi o maior vitorioso daquele pleito.
Em 1954, eleito pelo povo Vargas venceu-os, ao
matar-se. Não obstante isso, uma vez eleito Juscelino, eles voltaram à carga, a
fim de lhe impedir a posse. A posição de
uma parte ponderável das Forças Armadas, sob o comando do general Lott, liquidou-os
com o contragolpe fulminante. Em 1964, contra Jango, foram vitoriosos.
A penetração das ONGs no Norte do
Brasil, e a campanha de coleta de assinaturas entre a população dos 7 Grandes -
orientada, também, pelo Departamento de Estado, que financiava muitas delas –
para que a Amazônia fosse internacionalizada, reacenderam os brios
nacionalistas das Forças Armadas. Assim, os norte-americanos decidiram não mais
fomentar os golpes de estado cooptando os militares, porque eles passaram a ser
inconfiáveis para eles, e não só no Brasil.
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