Igrejas foram instrumento político a favor do golpe
Para dar conta da tarefa de levantar dados sobre a ditadura militar,
principal foco da Comissão Nacional da Verdade (CNV), seus
membros passaram a coordenar grupo de pesquisadores. Um desses grupos dedica-se
exclusivamente à relação entre as igrejas e o movimento golpista. Ele é composto
por especialistas em questões religiosas, coordenado por Anivaldo Padilha.
A reportagem é do sítio ALC, 04-02-2013.
Padilha é membro da Igreja Metodista, atua em Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço, e integra o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). Nos anos de chumbo, ele militou na organização Ação Popular (AP), foi perseguido, preso, torturado e obrigado a se exilar. A primeira tarefa da comissão é revisar a documentação sobre o tema em arquivos públicos para, em seguida, coletar depoimentos.
Parte importante da literatura arquivada mostra o papel da resistência da Igreja Católica à ditadura, mas isso se torna consistente após o AI-5 (Ato Institucional número 5). A primeira parte da história, até 1968, ainda tem lacunas nas quais os pesquisadores se concentram. A Igreja Católica rompe com a ditadura quando a tortura foi institucionalizada e padres começaram a ser presos e sofreram perseguições, sobre o qual existe muita pesquisa e informação.
O grupo pesquisa ainda o apoio e colaboração dos protestantes, chamados evangélicos, nesse período histórico, desde que “ajudaram a preparar o clima político que levou ao golpe militar de 1964″. Padilha observa que a CNV tem pouca coisa sobre a resistência entre os protestantes. Informações sobre essa questão serão buscadas pelo grupo.
“Houve um período em que as igrejas apoiaram. Esse apoio aparece de forma evidente no material sobre a preparação do golpe militar de 1964”. Padilha explica que, devido ao clamor anticomunista, as igrejas foram utilizadas como instrumento político a favor do golpe - ingênua ou deliberadamente - ajudando a criar o ambiente que levou à derrubada do governo e do qual a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” é parte da legitimidade religiosa.
Os dados indicam que logo após o golpe não houve diferença entre as ações das igrejas protestantes e da católica, observa Anivaldo, “Todas continuaram contribuindo para a legitimação da ditadura. Por meio de pronunciamentos e atos oficiais, bispos e cardeais apoiaram os golpistas até o final de 1968, com a promulgação do Ato Institucional n.º 5 e a institucionalização da tortura como método sistemático de interrogatório”. A prisão de padres e a implantação do estado de terror foi o limite a partir do qual a hierarquia católica reagiu firmemente contra a ditadura.
Já no caso protestante, as principais lideranças continuaram apoiando o regime, mesmo após o AI-5. Depois de certo momento, na década de 1970, começou o fortalecimento da oposição em setores protestantes, a partir de sua aproximação com os católicos. Padilha não reluta ao afirmar que “de maneira geral, tanto os católicos quanto os evangélicos, em termos de instituição, tiveram posições dúbias em relação à ditadura”.
O líder ecumênico enfatiza que “não se deve ignorar, porém, que desde antes do golpe existia um setor ecumênico que apoiava as reformas de base que vinham sendo discutidas no Brasil e que se opunha à intervenção militar. É preciso aprofundar a análise de todos esses aspectos”. Ele admite que o campo de pesquisa é amplo e que o grupo não terá condições de cobrir o universo, do ponto de vista geográfico e temático. "Faremos escolhas, os casos emblemáticos", informa Padilha.
Ele participa do movimento ecumênico desde a década de 50 do século passado. Padilha discutiu reformas políticas, defendeu as reformas de base em 1964. Ao ser preso em 1970 por causa das posições políticas e da militância na AP, permaneceu um ano na prisão. Libertado, viveu na clandestinidade sendo obrigado a sair do Brasil, com o cerco se fechando. Viveu no Uruguai, Argentina, Chile. Mudou-se para os Estados Unidos, onde viveu oito anos e, com o apoio do mundo ecumênico, foi para o Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, Suíça.
A reportagem é do sítio ALC, 04-02-2013.
Padilha é membro da Igreja Metodista, atua em Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço, e integra o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). Nos anos de chumbo, ele militou na organização Ação Popular (AP), foi perseguido, preso, torturado e obrigado a se exilar. A primeira tarefa da comissão é revisar a documentação sobre o tema em arquivos públicos para, em seguida, coletar depoimentos.
Parte importante da literatura arquivada mostra o papel da resistência da Igreja Católica à ditadura, mas isso se torna consistente após o AI-5 (Ato Institucional número 5). A primeira parte da história, até 1968, ainda tem lacunas nas quais os pesquisadores se concentram. A Igreja Católica rompe com a ditadura quando a tortura foi institucionalizada e padres começaram a ser presos e sofreram perseguições, sobre o qual existe muita pesquisa e informação.
O grupo pesquisa ainda o apoio e colaboração dos protestantes, chamados evangélicos, nesse período histórico, desde que “ajudaram a preparar o clima político que levou ao golpe militar de 1964″. Padilha observa que a CNV tem pouca coisa sobre a resistência entre os protestantes. Informações sobre essa questão serão buscadas pelo grupo.
“Houve um período em que as igrejas apoiaram. Esse apoio aparece de forma evidente no material sobre a preparação do golpe militar de 1964”. Padilha explica que, devido ao clamor anticomunista, as igrejas foram utilizadas como instrumento político a favor do golpe - ingênua ou deliberadamente - ajudando a criar o ambiente que levou à derrubada do governo e do qual a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” é parte da legitimidade religiosa.
Os dados indicam que logo após o golpe não houve diferença entre as ações das igrejas protestantes e da católica, observa Anivaldo, “Todas continuaram contribuindo para a legitimação da ditadura. Por meio de pronunciamentos e atos oficiais, bispos e cardeais apoiaram os golpistas até o final de 1968, com a promulgação do Ato Institucional n.º 5 e a institucionalização da tortura como método sistemático de interrogatório”. A prisão de padres e a implantação do estado de terror foi o limite a partir do qual a hierarquia católica reagiu firmemente contra a ditadura.
Já no caso protestante, as principais lideranças continuaram apoiando o regime, mesmo após o AI-5. Depois de certo momento, na década de 1970, começou o fortalecimento da oposição em setores protestantes, a partir de sua aproximação com os católicos. Padilha não reluta ao afirmar que “de maneira geral, tanto os católicos quanto os evangélicos, em termos de instituição, tiveram posições dúbias em relação à ditadura”.
O líder ecumênico enfatiza que “não se deve ignorar, porém, que desde antes do golpe existia um setor ecumênico que apoiava as reformas de base que vinham sendo discutidas no Brasil e que se opunha à intervenção militar. É preciso aprofundar a análise de todos esses aspectos”. Ele admite que o campo de pesquisa é amplo e que o grupo não terá condições de cobrir o universo, do ponto de vista geográfico e temático. "Faremos escolhas, os casos emblemáticos", informa Padilha.
Ele participa do movimento ecumênico desde a década de 50 do século passado. Padilha discutiu reformas políticas, defendeu as reformas de base em 1964. Ao ser preso em 1970 por causa das posições políticas e da militância na AP, permaneceu um ano na prisão. Libertado, viveu na clandestinidade sendo obrigado a sair do Brasil, com o cerco se fechando. Viveu no Uruguai, Argentina, Chile. Mudou-se para os Estados Unidos, onde viveu oito anos e, com o apoio do mundo ecumênico, foi para o Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, Suíça.
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