Ricos da AL vão muito bem, obrigado
As famílias brasileiras e da América Latina, em geral,
atravessaram bem o período da crise financeira de 2008. É o que mostra a
quarta edição de um relatório sobre a riqueza global do grupo
financeiro e segurador Allianz, com dados sobre 52
países. No fim de 2012, os ativos financeiros brutos totais da região
atingiram o recorde de € 2,7 trilhões, um avanço de 13% sobre o ano
anterior - e acima dos 8,1% de crescimento registrado pelos ativos
financeiros no mundo no ano passado, que somaram € 111,2 trilhões. Em
ritmo de expansão maior que a média global, a América Latina ampliou sua
fatia no bolo dos ativos globais, de menos de 1% no início dos anos
2000 para 2,4% no ano passado.
A reportagem é de Alessandra Bellotto e publicada pelo jornal Valor, 30-10-2013.
Do total dos ativos da América Latina, a fatia de Brasil equivale a € 1,3 trilhão e a do México, a € 867 bilhões - juntos, os dois países concentram 80% da riqueza da região, e 70% da população da região, de 315 milhões pessoas. Se levado em consideração o endividamento das famílias brasileiras, que alcançou € 732 bilhões no ano passado, o Brasil fica atrás do México em termos de riqueza na região, com € 540 bilhões em ativos financeiros líquidos.
A dívida do brasileiro vem crescendo a uma taxa anual de 18,2% ao ano desde 2000, em ritmo maior que os 16,6% de aumento médio verificado na América Latina no mesmo intervalo. E acima também da expansão dos ativos totais de sua população. A partir de 2007, segundo a pesquisa, o Brasil registrou uma desaceleração no crescimento dos ativos brutos das famílias, que passou de 16% no período de 2003 a 2007 para quase 12% entre 2008 e 2012.
Apesar de o Brasil figurar como o segundo país mais "rico" da América Latina pelo indicador ativos financeiros líquidos de dívida, quando analisados em termos per capita, os valores revelam uma grande desigualdade: a riqueza líquida de um brasileiro médio é de € 2.730, bem abaixo dos € 6.110 do México e dos € 10.970 do Chile. Na América Latina, a média é de € 3.640, com a Argentina na mínima, de € 1.200, e o Chile, no topo da região. Na escala global, em que a média é de € 16.240, o Brasil figura na 41ª posição. Abaixo de € 4.900 per capita, o país é considerado de "baixa riqueza".
O relatório da Allianz destaca que as taxas de pobreza na região da América Latina ainda são altas, há muita desigualdade, apesar do sucesso das políticas adotadas. No Brasil, por exemplo, a taxa de pobreza caiu de 37,5% em 2000 para 20,9% em 2011.
Como mostram os dados da pesquisa, tanto o Brasil quanto a região da América Latina vêm em uma tendência de aumento da dívida pessoal acima do crescimento dos ativos. E isso deve ser observado de perto, segundo o economista-chefe da Allianz, Michael Heise, para que a região não cometa os mesmos erros de europeus e americanos, marcados por um crescimento alimentado com dívida. "O nível de endividamento hoje no Brasil não é alarmante, mas é preciso monitorar de perto", disse Heise, que esteve no país na semana passada. A dívida per capita no país é de € 3.670. Isso significa que para cada euro emprestado, o brasileiro conta com € 1,7 em ativo. Para Heise, as políticas públicas deveriam incentivar a população a poupar e não a se endividar, já que as pessoas terão de ter recursos para a fase de aposentadoria, para gastos com saúde e outras necessidades que o governo possivelmente não terá como garantir.
Com um endividamento na casa de € 1,063 trilhão, a América Latina também bateu o recorde em termos de ativos financeiros líquidos, ao registrar crescimento de 11,7% no ano passado, para € 1,7 trilhão. "Isso significa um aumento de mais de 40% se comparado ao ápice de 2007", afirma Heise. Ele lembra ainda que as regiões ricas, como a América do Norte e Europa, superaram no ano passado o nível anterior à crise, mas por uma pequena margem.
Em termos globais, os ativos financeiros líquidos, se descontados os passivos, tiveram crescimento de dois dígitos no ano passado: de 10,4%, para € 78,8 trilhões. Uma taxa bem acima da média anual registrada desde 2000, de 4,2%. Na América Latina, desde 2000, o aumento médio anual é de 11,6%, o que coloca a região atrás apenas da Ásia (excluindo Japão), com taxa de 14%. Nos últimos 12 anos, os ativos financeiros líquidos do Leste Europeu avançaram a uma taxa média anual de 11%.
Levando em conta o indicador bruto, conforme a pesquisa da Allianz, todas as regiões experimentaram ainda um crescimento forte dos ativos financeiros totais no ano passado. O maior avanço, de cerca de 16%, foi registrado pela Ásia (com exceção de Japão), seguida por Oceania (14,4%). A América Latina (13%) aparece logo depois, seguida pelo Leste Europeu (10,2%). América do Norte, Europa Ocidental e Japão registraram expansão de um dígito.
Do lado dos passivos, a pesquisa da Allianz mostrou que a dívida, em termos globais, permaneceu controlada pelo quarto ano consecutivo após a quebra do Lehman Brothers, ao avançar 2,9% em 2012, para € 32,4 trilhões. O índice da dívida global (passivo expresso como porcentagem do PIB) caiu mais um ponto percentual, para 65,9% - o recorde, de 71,6%, foi alcançado em 2009. A média, contudo, mostra pouco a realidade.
Em regiões mais ricas, como a América do Norte, o ritmo de crescimento da dívida caiu substancialmente. Nos anos anteriores à crise, os passivos cresciam a uma taxa média anual de 10,2%. Desde o fim de 2007, contudo, a taxa média caiu para 0,4% ao ano. No ano passado, foi registrado um aumento no ritmo de crescimento da dívida, mas para apenas 0,7%.
O Leste Europeu seguiu na liderança, com a dívida crescendo 25,4% ao ano, desde 2000. A alta, contudo, já foi maior, de 36% anuais, entre 2003 e 2007. Não há sinais, conforme a pesquisa, de que fenômeno similar esteja acontecendo em outras regiões emergentes como América Latina e Ásia (excluindo Japão), uma vez que não foram tão atingidas pela crise, como o Leste Europeu. Na América Latina, mostrou a Allianz, o crescimento médio anual da dívida tem se mantido em torno de 17%, antes e depois da crise.
Na Ásia, excluindo o Japão, a taxa média de expansão anual da dívida pessoal passou de 12,3% no período anterior à crise (de 2003 a 2007) para 15,8% de 2008 até o ano passado. Em compensação, a taxa média per capita de dívida na região - de € 1.290 - é a menor na comparação global, seguida do Leste Europeu (€ 1.880) e América Latina (€ 2.330).
A reportagem é de Alessandra Bellotto e publicada pelo jornal Valor, 30-10-2013.
Do total dos ativos da América Latina, a fatia de Brasil equivale a € 1,3 trilhão e a do México, a € 867 bilhões - juntos, os dois países concentram 80% da riqueza da região, e 70% da população da região, de 315 milhões pessoas. Se levado em consideração o endividamento das famílias brasileiras, que alcançou € 732 bilhões no ano passado, o Brasil fica atrás do México em termos de riqueza na região, com € 540 bilhões em ativos financeiros líquidos.
A dívida do brasileiro vem crescendo a uma taxa anual de 18,2% ao ano desde 2000, em ritmo maior que os 16,6% de aumento médio verificado na América Latina no mesmo intervalo. E acima também da expansão dos ativos totais de sua população. A partir de 2007, segundo a pesquisa, o Brasil registrou uma desaceleração no crescimento dos ativos brutos das famílias, que passou de 16% no período de 2003 a 2007 para quase 12% entre 2008 e 2012.
Apesar de o Brasil figurar como o segundo país mais "rico" da América Latina pelo indicador ativos financeiros líquidos de dívida, quando analisados em termos per capita, os valores revelam uma grande desigualdade: a riqueza líquida de um brasileiro médio é de € 2.730, bem abaixo dos € 6.110 do México e dos € 10.970 do Chile. Na América Latina, a média é de € 3.640, com a Argentina na mínima, de € 1.200, e o Chile, no topo da região. Na escala global, em que a média é de € 16.240, o Brasil figura na 41ª posição. Abaixo de € 4.900 per capita, o país é considerado de "baixa riqueza".
O relatório da Allianz destaca que as taxas de pobreza na região da América Latina ainda são altas, há muita desigualdade, apesar do sucesso das políticas adotadas. No Brasil, por exemplo, a taxa de pobreza caiu de 37,5% em 2000 para 20,9% em 2011.
Como mostram os dados da pesquisa, tanto o Brasil quanto a região da América Latina vêm em uma tendência de aumento da dívida pessoal acima do crescimento dos ativos. E isso deve ser observado de perto, segundo o economista-chefe da Allianz, Michael Heise, para que a região não cometa os mesmos erros de europeus e americanos, marcados por um crescimento alimentado com dívida. "O nível de endividamento hoje no Brasil não é alarmante, mas é preciso monitorar de perto", disse Heise, que esteve no país na semana passada. A dívida per capita no país é de € 3.670. Isso significa que para cada euro emprestado, o brasileiro conta com € 1,7 em ativo. Para Heise, as políticas públicas deveriam incentivar a população a poupar e não a se endividar, já que as pessoas terão de ter recursos para a fase de aposentadoria, para gastos com saúde e outras necessidades que o governo possivelmente não terá como garantir.
Com um endividamento na casa de € 1,063 trilhão, a América Latina também bateu o recorde em termos de ativos financeiros líquidos, ao registrar crescimento de 11,7% no ano passado, para € 1,7 trilhão. "Isso significa um aumento de mais de 40% se comparado ao ápice de 2007", afirma Heise. Ele lembra ainda que as regiões ricas, como a América do Norte e Europa, superaram no ano passado o nível anterior à crise, mas por uma pequena margem.
Em termos globais, os ativos financeiros líquidos, se descontados os passivos, tiveram crescimento de dois dígitos no ano passado: de 10,4%, para € 78,8 trilhões. Uma taxa bem acima da média anual registrada desde 2000, de 4,2%. Na América Latina, desde 2000, o aumento médio anual é de 11,6%, o que coloca a região atrás apenas da Ásia (excluindo Japão), com taxa de 14%. Nos últimos 12 anos, os ativos financeiros líquidos do Leste Europeu avançaram a uma taxa média anual de 11%.
Levando em conta o indicador bruto, conforme a pesquisa da Allianz, todas as regiões experimentaram ainda um crescimento forte dos ativos financeiros totais no ano passado. O maior avanço, de cerca de 16%, foi registrado pela Ásia (com exceção de Japão), seguida por Oceania (14,4%). A América Latina (13%) aparece logo depois, seguida pelo Leste Europeu (10,2%). América do Norte, Europa Ocidental e Japão registraram expansão de um dígito.
Do lado dos passivos, a pesquisa da Allianz mostrou que a dívida, em termos globais, permaneceu controlada pelo quarto ano consecutivo após a quebra do Lehman Brothers, ao avançar 2,9% em 2012, para € 32,4 trilhões. O índice da dívida global (passivo expresso como porcentagem do PIB) caiu mais um ponto percentual, para 65,9% - o recorde, de 71,6%, foi alcançado em 2009. A média, contudo, mostra pouco a realidade.
Em regiões mais ricas, como a América do Norte, o ritmo de crescimento da dívida caiu substancialmente. Nos anos anteriores à crise, os passivos cresciam a uma taxa média anual de 10,2%. Desde o fim de 2007, contudo, a taxa média caiu para 0,4% ao ano. No ano passado, foi registrado um aumento no ritmo de crescimento da dívida, mas para apenas 0,7%.
O Leste Europeu seguiu na liderança, com a dívida crescendo 25,4% ao ano, desde 2000. A alta, contudo, já foi maior, de 36% anuais, entre 2003 e 2007. Não há sinais, conforme a pesquisa, de que fenômeno similar esteja acontecendo em outras regiões emergentes como América Latina e Ásia (excluindo Japão), uma vez que não foram tão atingidas pela crise, como o Leste Europeu. Na América Latina, mostrou a Allianz, o crescimento médio anual da dívida tem se mantido em torno de 17%, antes e depois da crise.
Na Ásia, excluindo o Japão, a taxa média de expansão anual da dívida pessoal passou de 12,3% no período anterior à crise (de 2003 a 2007) para 15,8% de 2008 até o ano passado. Em compensação, a taxa média per capita de dívida na região - de € 1.290 - é a menor na comparação global, seguida do Leste Europeu (€ 1.880) e América Latina (€ 2.330).
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