Uma
questão tem sido virtualmente ignorada -- ou deliberadamente distorcida
-- no controvertido leilão do campo de libra: a presença da China.
É a chamada boa notícia.
Torcemos
para que a China ganhe. É o melhor parceiro que se pode ter hoje. Em
seu excelente livro “The Winner Take All”, que relata a corrida
organizada e bem-sucedida chinesa para garantir recursos naturais que
garantam seu futuro, a economista Dambisa Moyo mostra como a China
rompeu o paradigma ocidental nessa área.
Tradicionalmente,
o ocidente promoveu guerras para tomar posse de áreas ricas em recursos
naturais. Por meio das bombas, estabeleceu relações que eram
absurdamente desfavoráveis para os países ricos em recursos. Veja o que
os Estados Unidos fazem há anos no Oriente Médio, por exemplo, para
assegurar petróleo.
A
China, por ter uma natureza diferente, foi por outro caminho, demonstra
Dambisa. Busca recursos naturais tendo por base uma relação em que
ambas as partes ganhem.
O
papel da China na África ilustra perfeitamente isso. Dambisa,
economista de prestígio internacional, está familiarizada com o quadro: é
natural da Zâmbia.
Em
2002, conta ela, a China deu 1,8 bilhão de dólares para países pobres
africanos. O dinheiro foi empregado em coisas como o treinamento de 15
000 profissionais africanos, a construção de 30 hospitais e 100 escolas e
o aumento de bolsas de estudo para estudantes. “Dois anos antes, a
China perdoara dívidas de 1,2 bilhão de dólares de países africanos”,
narra Dambisa. “Em 2003, perdoou mais 750 milhões de dólares.”
O comércio bilateral entre a China e a África subiu de 10 bilhões de dólares em 2000 para 90 bilhões em 2009.
“A
China oferece uma alternativa à África ao assistencialismo”, disse
Dambisa numa entrevista recente à revista Época. “Estimula o comércio e o
empreendedorismo, e cria empregos nas regiões em que está presente. É
uma troca ou simbiose. A China é muito melhor para a África do que os
Estados Unidos ou a Europa.”
Dambisa
Não
é à toa que os países africanos, como mostram pesquisas, prefiram
amplamente as parcerias com a China, e não com os americanos ou as
potências europeias.
No
Brasil, como se vê no livro de Dambisa, a China já é também um parceiro
fundamental. Nos seis primeiros meses de 2010, a China multiplicou por
10 seus investimentos no Brasil e os elevou para 20 bilhões de dólares.
Com isso, os chineses se tornaram os principais investidores
internacionais no Brasil, à frente dos Estados Unidos. A China é hoje,
além disso, o principal parceiro comercial do Brasil.
Faltam
ao Brasil recursos para explorar rapidamente o petróleo de Libra? Pena.
Que se busquem parceiros, e entre estes não poderia haver ninguém
melhor que os chineses.
É
patética, obtusa e demagógica a reação de líderes como Serra. “Agora
vamos ficar numa relação de uma quase colônia da China, um
neocolonialismo do Brasil em relação aos chineses, o que me parece
incrível”, disse Serra esta semana.
O
que diria ele se a parceria estivesse prestes a ser travada com os
americanos? Você pode imaginar. Incrível mesmo é alguém ainda dar
ouvidos para o bestialógico neonacionalista de Serra.
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