O advogado Joaquim Palhares, editor do site Carta Maior,
me convidou para ser colunista de política. Todas as sextas, a Carta
publica um texto meu feito exclusivamente para ela. Sexta passada, foi
publicado o texto abaixo:
São
reveladoras do “pluralismo” da Folha as novas aquisições anunciadas
pelo jornal para sua cobertura de política. São elas: Reinaldo Azevedo,
Demétrio Magnolli e Ricardo Melo. Os três terão uma coluna semanal na
Folha.
Faça
uma conta simples. É um pluralismo em que dois terços são de direita e
um de centro. Reinaldo Azevedo é de extrema direita, Magnolli é de
direita e para dourar Melo a Folha, em seu anúncio, buscou no passado
remoto a informação de que ele foi da Libelu.
Já
sugeri uma vez, e sugiro de novo: a Folha poderia trocar seu slogan em
nome da verdade. Sai “um jornal a serviço do Brasil” e entra “um jornal a
serviço de si mesmo e seus amigos”.
Entre
os amigos figura a Globo. Algum tempo atrás, diante do escândalo
documentado da sonegação bilionária da Globo na compra dos direitos da
Copa de 2002, perguntei pelo Facebook ao editor executivo da Folha,
Sérgio Dávila, se aquilo não era notícia.
A
Folha não tinha dado nada. Ponderei a Dávila que o UOL, da própria
Folha, tinha dado uma matéria na qual a Globo admitia sua encrenca com a
Receita Federal e reconhecia haver recebido uma multa.
Dávila
ficou tocado com meu argumento, imagino. No dia seguinte, ou um depois,
apareceu no site da Folha uma matéria (raquítica) sobre o caso. Em
outros países, seria manchete: a Globo não apenas sonegou como trapaceou
ao, contabilmente, dizer que estava fazendo um investimento no
exterior, e não comprando os direitos da Copa.
Mas
pelo menos a informação veio. Em meu inexpugnável otimismo, imaginei
que seria o início de uma investigação profunda de um assunto de
colossal interesse público pelo “jornal a serviço do Brasil”.
Foi
o triunfo da esperança. Não saiu mais nada. Repito: nada. Novos
vazamentos mostraram que a Globo, ao contrário do que afirmara em nota,
não pagou multa nenhuma. Na internet, onde se pratica o verdadeiro
jornalismo livre no Brasil, se propagou uma conclamação bem-humorada à
Globo: “Mostra o Darf”.
Não mostrou.
Bem,
passados alguns dias, voltei a falar com Dávila. Ele tergiversou. E
sumiu. Se conheço a vida nas redações, ele pediu a matéria no calor de
nossa conversa e, depois, recebeu um calaboca da família Frias, sócia da
Globo no Valor.
Se
conheço os barões, um telefonema partido do Jardim Botânico para a
Barão de Limeira resolveu e encerrou a questão. Não bastasse a
solidariedade fraternal de classe, alguém do Jardim Botânico poderia ter
lembrado ao interlocutor na Barão de Limeira que ninguém ali tem
exatamente um comportamento de freira no quesito pagamento de impostos
devidos.
Esta
é a nossa brava “mídia livre”. Que em dez anos de PT não tenha sido
feito nada para moralizar – esta a palavra melhor: moralizar – a mídia
mostra quanto o partido tem sido tímido, medroso até, para enfrentar
privilégios do chamado 1%. (A senhora Kirchner é bem mais combativa.)
Há
um território enorme, decisivo vital na grande mídia vedado a quem não
seja acionista. Reinaldo Azevedo disse que o combinado é que ele poderá
escrever sobre o que queira na Folha, mas quem acredita nisso acredita
em tudo, para usar a máxima de Wellington.
Nada
ilustra melhor este movimento da Folha do que o comentário postado no
blog de Azevedo por um leitor. Transcrevo tal como está escrito: “Única
mídia que confio e sigo é VEJA ABRIL! A folha em um tempo atrás era
ligado com grupos Comunistas! Espero que não seja uma armadilha
Reinaldo! Cuidado!”
Nelson Rodrigues certa vez escreveu que mídia obtusa e leitores obtusos se justificam e mutuamente se absolvem.
Pois é.
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