UE baixa a cabeça para os EUA. Única reação forte partiu de Dilma
Eduardo Febbro
Paris - Que susto! Os europeus por pouco se enojaram dos Estados Unidos, mas no final se acalmaram. Os espiões de Washington podem dormir tranquilos. As galinhas põem ovos, a União Europeia um punhado de palavras onde fica retratada sua assombrosa, pusilânime e temerosa posição ante os Estados Unidos. Os serviços de inteligência norte-americanos interceptaram na França mais de 70 milhões de comunicações entre dezembro e janeiro de 2013, grampearam o telefone celular da chanceler alemã Angela Merkel, além de outras incontáveis interceptações de todos os tipos de que foram alvo os demais membros da União Europeia.
No entanto, ao final da cúpula realizada em Bruxelas entre os 28 chefes de Estado e o governo da UE não saiu mais do que uma “preocupação” e uma proposta franco-alemã para negociar, no prazo de um ano, um acordo de boa conduta e de cooperação entre os serviços de inteligência norte-americanos, franceses e alemães. Os demais países da UE que quiserem poderão se somar à iniciativa. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, foram os mais firmes em suas posições. Ao lado do silêncio e da covardia dos outros membros do grupo, Hollande e Merkel tinham uma auréola de subversivos.
“A confiança foi seriamente danificada e precisa ser reconstruída”, disse a chanceler alemã quando começou a cúpula. Paris e Berlim haviam anunciado uma iniciativa conjunta para acabar com a espionagem e esta se plasmou agora na proposta de uma negociação. O presidente francês, François Hollande, explicou que se trata de “estabelecer regras para o futuro”. Esta linha consensual não impediu que ele se dirigisse com dureza aos norte-americanos: “Há comportamentos e práticas que são inaceitáveis”, disse Hollande. Diferentemente de outros dirigentes - como David Cameron, primeiro ministro da Grã-Bretanha -, Hollande julgou que as revelações feitas pelo ex-agente da NSA, eram “úteis”. Merkel, por sua vez, destacou que “enterramos juntos nossos soldados no Afeganistão. Não é possível que tenhamos que nos preocupar que nossos aliados nos espionem”.
Para além do abundante palavrório, a estratégia consiste em aplacar as tensões e evitar o confronto. Para aqueles que pediam uma reação mais forte e medidas de retaliação contra Washington, Hollande respondeu: “não se trata de criar mais problemas do que os que já existem, mas sim de resolver problemas”. No princípio da crise desatada pela espionagem, o presidente francês esteve a favor de que se suspendesse o início das negociações sobre um acordo de livre comércio entre a UE e os Estados Unidos. Seus parceiros europeus não o respaldaram. A crise cresceu de magnitude com as sucessivas revelações ao mesmo tempo em que os europeus se escondiam e baixavam o tom.
O enfoque dos 28 euro-dirigentes deixa as coisas como estavam. A declaração da cúpula é de uma prosa infantil e medrosa onde se ressalta “as grandes preocupações que a espionagem suscita na população europeia”. Que ousadia, que valentia verbal! O Big Brother deve estar tremendo de rir. O problema, contudo, é enorme. Ninguém conta com os elementos para se opor à superpotência norte-americana, nem política nem tecnologicamente. Éric Denécé, diretor do centro de investigações sobre a inteligência (dos serviços secretos), CFR2, resumiu ao semanário Le Point o paradoxo desta situação de dominador-dominado: “ninguém tem os meios de controlar as atividades de espionagem dos EUA. Se os norte-americanos quiserem seguindo ser a primeira potência mundial e manter um avanço considerável em relação aos demais, seguirão mantendo essa prática”.
A única medida forte tomada até agora e a única proposta global que existe partiram da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. A mandatária anulou sua visita oficial aos Estados Unidos quando se descobriu que Washington espionava a Petrobras e suas próprias comunicações. Na quinta-feira, Dilma propôs a organização de um fórum mundial para regulamentar o uso da internet e evitar a espionagem. O fórum poderia ser realizado no Brasil, em abril de 2014. Os norte-americanos certamente estarão na primeira fila do encontro. Com tanta gente importante reunida em um mesmo momento e lugar, usando internet e celulares ao mesmo tempo, há muito o quê espionar para seguir dominando o mundo.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
No entanto, ao final da cúpula realizada em Bruxelas entre os 28 chefes de Estado e o governo da UE não saiu mais do que uma “preocupação” e uma proposta franco-alemã para negociar, no prazo de um ano, um acordo de boa conduta e de cooperação entre os serviços de inteligência norte-americanos, franceses e alemães. Os demais países da UE que quiserem poderão se somar à iniciativa. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, foram os mais firmes em suas posições. Ao lado do silêncio e da covardia dos outros membros do grupo, Hollande e Merkel tinham uma auréola de subversivos.
“A confiança foi seriamente danificada e precisa ser reconstruída”, disse a chanceler alemã quando começou a cúpula. Paris e Berlim haviam anunciado uma iniciativa conjunta para acabar com a espionagem e esta se plasmou agora na proposta de uma negociação. O presidente francês, François Hollande, explicou que se trata de “estabelecer regras para o futuro”. Esta linha consensual não impediu que ele se dirigisse com dureza aos norte-americanos: “Há comportamentos e práticas que são inaceitáveis”, disse Hollande. Diferentemente de outros dirigentes - como David Cameron, primeiro ministro da Grã-Bretanha -, Hollande julgou que as revelações feitas pelo ex-agente da NSA, eram “úteis”. Merkel, por sua vez, destacou que “enterramos juntos nossos soldados no Afeganistão. Não é possível que tenhamos que nos preocupar que nossos aliados nos espionem”.
Para além do abundante palavrório, a estratégia consiste em aplacar as tensões e evitar o confronto. Para aqueles que pediam uma reação mais forte e medidas de retaliação contra Washington, Hollande respondeu: “não se trata de criar mais problemas do que os que já existem, mas sim de resolver problemas”. No princípio da crise desatada pela espionagem, o presidente francês esteve a favor de que se suspendesse o início das negociações sobre um acordo de livre comércio entre a UE e os Estados Unidos. Seus parceiros europeus não o respaldaram. A crise cresceu de magnitude com as sucessivas revelações ao mesmo tempo em que os europeus se escondiam e baixavam o tom.
O enfoque dos 28 euro-dirigentes deixa as coisas como estavam. A declaração da cúpula é de uma prosa infantil e medrosa onde se ressalta “as grandes preocupações que a espionagem suscita na população europeia”. Que ousadia, que valentia verbal! O Big Brother deve estar tremendo de rir. O problema, contudo, é enorme. Ninguém conta com os elementos para se opor à superpotência norte-americana, nem política nem tecnologicamente. Éric Denécé, diretor do centro de investigações sobre a inteligência (dos serviços secretos), CFR2, resumiu ao semanário Le Point o paradoxo desta situação de dominador-dominado: “ninguém tem os meios de controlar as atividades de espionagem dos EUA. Se os norte-americanos quiserem seguindo ser a primeira potência mundial e manter um avanço considerável em relação aos demais, seguirão mantendo essa prática”.
A única medida forte tomada até agora e a única proposta global que existe partiram da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. A mandatária anulou sua visita oficial aos Estados Unidos quando se descobriu que Washington espionava a Petrobras e suas próprias comunicações. Na quinta-feira, Dilma propôs a organização de um fórum mundial para regulamentar o uso da internet e evitar a espionagem. O fórum poderia ser realizado no Brasil, em abril de 2014. Os norte-americanos certamente estarão na primeira fila do encontro. Com tanta gente importante reunida em um mesmo momento e lugar, usando internet e celulares ao mesmo tempo, há muito o quê espionar para seguir dominando o mundo.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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