Atores
da Globo, uns mais conhecidos que outros, fizeram um vídeo chamado
“Grito da Liberdade”. Convocavam para uma manifestação no dia 31 de
outubro no Rio de Janeiro. Wagner Moura, Leandra Leal, Marcos Palmeira,
Mariana Ximenes, entre outros, falaram, de maneira difusa, da violência
policial.
O
vídeo foi postado aqui no DCM. Está em outros lugares. A reação não tem
sido positiva. Por que duvidamos das intenções e do endosso desses
artistas?
Primeiro
porque existe um certo cheiro de oportunismo. O apoio de uma
celebridade pode fazer bem ou mal a uma causa. Se ele, ou ela, é atuante
e tem um histórico ligado a determinado assunto, não provoca
estranhamento. Quando Mariana Ximenes fala para o pessoal aparecer num
protesto porque ele vai ser lúdico (tipo tomar tiro de bala de borracha?
Dançar com um cacetete?) e terá intervenções artísticas, dá uma
complicada.
Bono
foi convidado a ser um dos rostos da campanha ONE, contra a miséria na
África. A adequação era clara. Ele já era uma voz no combate à AIDS.
Trouxe doações e ajudou a popularizar o tema. Madonna no Mali virou uma
dor de cabeça para ela e para o país.
Globais
gravaram, em 2011, um vídeo em protesto à construção da usina de Belo
Monte. Virou piada. O que Bruno Mazzeo poderia contribuir ao debate?
Depois foram as cinco atrizes da novela das 9 numa foto tétrica contra o
voto do ministro Celso de Mello no mensalão. Um clássico.
No
"Grito da Liberdade", há dois nomes que têm alguma atuação na política.
Marcos Palmeira, dono de uma fazenda de produtos orgânicos, teria sido
sondado pelo PSB para concorrer ao governo no Rio. Wagner Moura militou a
favor de Marcelo Freixo e se empenha em passar uma imagem contrária à
do policial fascista que interpretou em “Tropa de Elite”.
Eu
falei recentemente no humorista inglês Russell Brand. Brand foi receber
um prêmio da revista de moda GQ. Subiu ao palco e lembrou que o
patrocinador, Hugo Boss, produzia os uniformes dos nazistas. Foi expulso
da festa. Tem insistido que haverá uma “revolução”. É bem informado,
articulado e tem uma bandeira. Hoje é ouvido, respeitado e seguido.
Ninguém duvida das intenções dos globais. Mas ninguém esquece de onde eles são. Um trecho do “manifesto” diz o seguinte:
“Somos
a rede social trazendo a contra-narrativa, já que a mídia comprada pelo
poder atua como polícia para esvaziar as ruas e silenciar o clamor
popular”.
Mídia
comprada pelo poder é o Jornal Nacional? Wagner Moura vai dizer isso?
Camila Pitanga vai parar de dar entrevistas para o “Fantástico”?
Peraí, né? Aí já é querer demais.
E
os manifestantes continuarão confiando mais numa convocação feita por
um anônimo no Facebook do que em celebridades que detonam o “sistema” na
sexta-feira e, no domingo, estão no Faustão vendendo a nova novela das
7.
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