A pirâmide da riqueza global
por Credit Suisse Research Institute [*]
Este capítulo aborda o padrão da propriedade de riqueza
entre indivíduos, examinando não só os escalões de topo dos possuidores de
riqueza como também as, muitas vezes esquecidas, secções média e baixa da
pirâmide de riqueza. Dois terços dos adultos do mundo têm riqueza inferior a
US$ 10 mil e em conjunto representam meramente 3% da riqueza global, ao passo
que os 32 milhões de milionários em dólares possuem 41% de todos os activos.
Figura 1. Disparidade de riqueza
A riqueza pessoal varia entre os adultos por muitas razões.
Alguns indivíduos com pouca riqueza podem estar nas etapas iniciais das suas
carreiras, com pouca oportunidade ou motivação para acumular activos. Outros
podem ter sofrido contratempos nos negócios ou infortúnios pessoais, ou viverem
em partes do mundo onde oportunidades para a criação de riqueza são severamente
limitadas. No outro extremo do espectro, há indivíduos que adquiriram uma
grande fortuna através de uma combinação de talento, trabalho árduo ou
simplesmente por estar no lugar certo no momento certo.
A pirâmide de riqueza na Figura 1 mostra estas diferenças
com notável pormenor. Ela tem uma grande base de possuidores de baixa riqueza,
mais acima camadas ocupadas por cada vez menos pessoas. Em 2013 estimámos que
3,2 mil milhões de indivíduos – mais de dois terços dos adultos do mundo – têm
riqueza inferior a US$10.000. Uma nova camada acima com mil milhões (23% da
população adulta) cai dentro da amplitude dos US$10.000 – US$100.000. Se bem
que a riqueza média possuída seja modesta nos segmentos da base e médios da
pirâmide, sua riqueza total monta a US$40 milhões de milhões (trillion),
destacando o potencial para produtos de consumo original e serviços financeiros
inovadores destinados a este segmento muitas vezes menosprezado.
Os remanescentes 393 milhões de adultos (8% do mundo) têm
valor líquido acima dos US$100.000. Eles incluem 32 milhões de milionários em
dólares, um grupo compreende menos do que 1% da população adulta mundial, ainda
que colectivamente possua 41% da riqueza familiar global. Dentro deste grupo
estimamos que 98.700 indivíduos possuem mais dos US$50 milhões e 33.900 possuem
mais de US$100 milhões.
A base da pirâmide
Figura 2. Os diferentes estratos de riqueza têm distintas
características. Embora aqueles ao nível da base estejam amplamente dispersos
por todas as regiões, a representação na Índia e na África é
desproporcionadamente elevada, ao passo que a Europa e a América do Norte estão
correspondentemente sub-representadas (ver Figura 2). A camada da base tem na
maior parte a mesma distribuição entre regiões e países, mas é também a mais
heterogénea, abarcando um vasto conjunto de circunstâncias familiares. Em
países desenvolvidos, apenas cerca de 30% da população cai dentro desta
categoria e para a maior parte destes indivíduos, a pertença é um fenómeno
transitório ou de ciclo de vida associado à juventude, idade avançada ou
períodos de desemprego. Em contraste, mais de 90% da população adulta na Índia
e na África estão situadas dentro desta base. Em alguns países de baixo
rendimento da África, a percentagem da população nesta amplitude de riqueza
está próxima dos 100%. Para muitos residentes em países de baixo rendimento, a
pertença por toda a vida na camada da base é a norma ao invés da excepção.
Riqueza da classe média
Os mil milhões de adultos situados na amplitude dos
US$10.000 – 100.000 constituem a classe média no contexto da riqueza global. A
riqueza média possuída está próxima da média global para todos os níveis de
riqueza e o patrimônio líquido total de US$33 milhões de milhões proporciona a
este segmento considerável poder económico. Esta é a camada cuja composição
regional acompanha mais de perto a distribuição regional de adultos no mundo,
embora a Índia e a África estejam sub-representadas e a China esteja
super-representada. O contraste entre a China e a Índia é particularmente
interessante. A Índia abriga apenas 4% da classe média global e a sua
participação tem estado a elevar-se bastante vagarosamente nos últimos anos. A
participação da China, por outro lado, tem estado a crescer rapidamente a agora
representa mais de um terço da pertença global, quase dez vezes mais elevada do
que a da Índia.
O segmento de alta riqueza da pirâmide
Figura 3. A composição regional altera-se significativamente
quando se chega aos 393 milhões de adultos do mundo todo que compõem o segmento
elevado da pirâmide de riqueza – aqueles com valor líquido de mais de
US$100.000. A Améríca do Norte, a Europa e a região da Ásia-Pacífico (omitindo
a China e a Índia) em conjunto representam 89% da pertença global a este grupo,
com a Europa sozinha abrigando 153 milhões de membros (39% do total). Isto
compara-se com 2,8 milhões de membros adultos na Índia (0,7% do total global) e
um número semelhante em África.
O padrão de pertença altera-se mais uma vez quando a atenção
se volta para os milionários em dólares no topo da pirâmide. O número de
milionários em qualquer país dado é determinado por três factores: a dimensão
da população adulta, a riqueza média e a desigualdade de riqueza. Os Estados
Unidos têm classificação elevada em todos os três critérios e têm de longe o
maior número de milionários: 13,2 milhões, ou 42% do total mundial (ver Figura
3). Há poucos anos o número de milionários japoneses não estava muito longe do
número dos Estados Unidos. Mas o número de milionários em dólar tem subido
gradualmente assim como o número de milionários japoneses tem caído –
especialmente este ano. Em consequência, a proporção de milionários globais do
Japão afundou abaixo dos 10% pela primeira vez em 30 anos ou mais.
Os onze países remanescentes com mais de 1% do total global
são encimados pelos países europeus do G7, França, Reino Unido e Itália, todos
os quais têm proporções na amplitude dos 5-7%. A China está pouco atrás com uma
pertença de 4% e parece provável que ultrapasse os principais países europeus
dentro de uma década. A Suécia e Suíça tem populações relativamente pequenas,
mas as suas altas riquezas médias elevam-nas às lita dos países que têm pelo
menos 300.000 milionários, o número exigido para 1% do total mundial.
Alteração de pertença do grupo milionário
Alterações nos níveis de riqueza desde meados de 2012
afectaram o padrão da sua distribuição. A ascensão em riqueza média combinada
com um aumento de população elevaram o número de adultos com pelo menos
US$10.000, dos quais só os Estados Unidos representam 1,7 milhão de novos
membros (ver Tabela 1). Pode parecer estranho que a Eurozona tenha adquirido
tantos novos milionários no ano passado, mais notavelmente a França (287.000),
Alemanha (221.000), Itália (127.000), Espanha (47.000) e Bélgica (38.000), mas
isto simplesmente compensa em parte a grande queda no número de milionários
experimentada um ano atrás. A Austrália, Canadá e Suécia também reduziram o
número de milionários em 2011-2012 e agora surgem entre os dez principais
ganhadores. O Japão dominante completamente a lista de países que perdem
milionários, representando perdas de 1,2 milhão, ou 98% do total global.
Figura .
Indivíduos com riqueza líquida elevada
Figura 4. Estimar o padrão de riqueza dos que possuem mais
de US$1 milhão exige um alto grau de engenhosidade porque em altos níveis de
riqueza as fontes de dados habituais – inquéritos familiares oficiais – se
tornam muito menos confiáveis. Ultrapassámos esta deficiência através da
exploração de regularidades estatísticas para assegurar que a riqueza do topo
extremo é consistente com os registos anuais da Forbes de bilionários globais e
outras listas de dados publicadas em outros lados. Isto produz estimativas
plausíveis do padrão global de activos possuídos na categoria alto valor líquido
(high net worth, HNW) dos US$1 milhão a US$50 milhões, e na categoria ultra
alto valor líquido (ultra high net worth, UHNW) dos US$50 milhões para cima. Se
bem que a base da pirâmide de riqueza seja ocupada por pessoas de todos os
países em várias etapas dos seus ciclos de vida, os indivíduos HNW e UHNW estão
fortemente concentrados em regiões e países particulares, e tendem a partilhar
estilos de vida razoavelmente semelhante, participando nos mesmos mercados
global por bens de luxo, mesmo quando residem em continentes diferentes. Também
é provável que as carteiras de riqueza destes indivíduos sejam semelhantes,
dominadas por activos financeiros e, em particular, acções em companhias
públicas comerciadas em mercados internacionais. Por estas razões, utilizar
taxas de câmbio oficiais para avaliar activos é mais adequado do que utilizar
os níveis de preços locais. Estimamos que há agora 31,4 milhão de adultos HNW
com riqueza entre US$1 milhão e US$50 milhões, a maior parte dos quais (28,1
milhões) fica na amplitude US$1-5 milhões (ver Figura 4). Este ano, pela
primeira vez, mais de dois milhões de adultos estão no valor entre US$5 milhões
e US$10 milhões, e mais de um milhão têm activos na amplitude dos US$10-50
milhões. Dois anos atrás a Europa tornou-se brevemente a região com o maior
número de indivíduos HNW, mas a América do Norte recuperou a liderança e agora
representa um número muito maior: 14,2 milhões (45% do total), a comparar com
10,1 milhões (32%) na Europa. Os países da Ásia-Pacífico excluindo a China e a
Índia têm 5,2 milhões de membros (17%) e estimamos que haja agora mais de um
milhão de indivíduos HNW na China (3,6% do total global). Os restantes 804.000
indivíduos HNW (2,5% do total) residem na Índia, África ou América Latina.
Indivíduos com riqueza líquida ultra elevada
Figura 5. À escala mundial estimamos que haja 98.700
indivíduos UHNW, definidos como aqueles cuja riqueza líquida excede os US$50
milhões. Destes, 33.900 valem pelo menos US$100 milhões e 3.100 têm activos
superiores a US$500 milhões. A América do Norte domina as classificações
regionais, com 48.000 residentes UHNW (49%), ao passo que a Europa tem 24.800
indivíduos (25%) e 14.200 residem em países da Ásia-Pacífico, excluindo a China
e a Índia. Dentre países individuais, os EUA vão à frente por uma margem enorme
com 45.650 indivíduos UHNW, equivalente a 45% do grupo (ver Figura 5) e quase
oito vezes o número na China, a qual está em segundo lugar com 5.830
representantes (5,9% do total global). Este ano a Suíça (3.460) subiu para o
quarto lugar saltando o Japão (2.890) e o Reino Unidos (3.190), mas ainda por
trás da Alemanha (4.500). O número de indivíduos UHNW no Japão realmente caiu
este ano. Os números no Canadá, Hong Kong e Rússia subiram, mas não tão rápido
como em outros países, de modo que eles desceram um lugar ou dois nas
classificações. Uma forte amostragem de indivíduos UHNW também é evidente na
Turquia (1.210), a qual subiu um par de lugares, e na Índia (1.760), Brasil
(1.700), Formosa (1.370) e Coreia (1.210), todos os quais mantêm suas posições
nas classificações por país do ano passado.
Conclusão
Diferenças em haveres pessoais de activos podem ser
detectadas através de uma pirâmide de riqueza, na qual milionários estão
situados no estrato do topo e as camadas da base são preenchidas com pessoas
mais pobres. Comentários sobre riqueza muitas vezes centram-se exclusivamente
na parte do topo da pirâmide, o que é lamentável porque US$40 milhões de
milhões de riqueza familiar é possuída nos segmentos da base e médios, e
satisfazer as necessidades destes possuidores de activos pode muito bem
conduzir a novas tendências no consumo, na indústria e na finança. O Brasil,
China, Coreia e Formosa são países que já estão a ascender rapidamente através
desta parte da pirâmide de riqueza, com a Indonésia logo atrás e a Índia a
crescer rapidamente a partir de um baixo ponto de partida. Ao mesmo tempo, o
segmento do topo da pirâmide provavelmente continuará a ser o mais forte
condutor das tendências de fluxos e investimento de activos privados. Nossos
números para meados de 2013 indicam que há agora mais de 30 milhões de
indivíduos HNW, com mais de um milhão localizado na China e 5,2 milhões a
residirem em outros países da Ásia-Pacífico além da China e Índia.
Fortunas cambiantes
No cume da pirâmide, cada um 98.700 indivíduos UHNW agora
vale mais de US$50 milhões. As fortunas recentes criadas na China levam-nos a
estimar que 5.830 chineses adultos (5,9% do total global) agora pertencem ao
grupo UHNW, e um número semelhante são de residente no Brasil, Índia ou Rússia.
Apesar da haver pouco informação confiável sobre tendências ao longo do tempo
nos dados da pirâmide de riqueza, parece quase certos que a riqueza tem estado
a crescer mais rapidamente no estrato do topo da pirâmide desde pelo menos o
ano 2000 e que esta tendência continua. Por exemplo: o total global de riqueza
cresceu 4,9% desde meados de 2012 a meados de 2013, mas o número de milionários
no mundo cresceu 6,1% durante o mesmo período, e o número de indivíduos UHNW
ascendeu em mais de 10%. Parece portanto que a economia mundial permanece
propícia à aquisição e preservação de fortunas de grande e média dimensão.
[*] Excerto de Global Wealth Report 2013, elaborado por
Hans-Ulrich Meister e Robert S. Shafir, do Credit Suisse Research Institute,
64p., Outubro/2013. O seu texto
integral pode ser descarregado aqui (2121 kB).
Este documento encontra-se em http://resistir.info/ .
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