Pizzolato
A fuga de Henrique Pizzolato traz um efeito colateral interessante nos debates em torno do Mensalão.
Subitamente,
por conta do “drible da vaca” (expressão de um leitor do DCM) dado em
Joaquim Barbosa, Pizzolato ganhou holofotes que jamais tivera estes anos
todos.
Os
holofotes ampliaram consideravelmente o volume de sua voz. Agora, é
enorme a curiosidade das pessoas pelo que ele tem a dizer. E ainda mais
importante: pelos documentos que tem a mostrar.
Um
vídeo que começa a circular pela internet merece ser visto com calma.
Uma das maiores evidências da relevância do conteúdo é que até a Folha
falou sobre ele.
Numa reunião do PT da qual participam líderes como Genoino e Suplicy, Pizzolato é chamado à frente para falar do Mensalão.
Ou
ele é um ator extraordinário, ou ali está um homem revoltado e
atormentado com um julgamento que pode passar para a história como o
maior embuste jurídico nacional.
Pizzolato, no vídeo, lamenta que “até petistas” tenham acreditado nas “mentiras da mídia”.
Ele
contesta a espinha dorsal das acusações: a saber, que houve desvio de
dinheiro público. Segundo os acusadores – essencialmente alguns juízes
do STF e mais a mídia --, o dinheiro do mensalão (cerca de 74 milhões de
reais) era do Banco do Brasil.
Foi
isso que JB disse em suas catilinárias inumeráveis vezes. E Pizzolato,
como diretor de marketing do BB, teria sido o arquiteto do desvio.
O jornalista Raimundo Pereira foi uma das raras figuras, antes da fuga, a examinar os documentos que Pizzolato tem.
Segundo
Pereira, há provas cabais da existência de quase 100 eventos em que
foram gastos os 74 milhões. O STF, lembra Pereira, trabalhou o tempo
todo com a tese de que não houve evento nenhum, na verdade. Tudo seria
mentira para justificar o dinheiro alegadamente desviado.
Pereira
cita um desses eventos. Era uma feira de arte africana que o Banco do
Brasil montou no país, depois de ela fazer sucesso na Alemanha. “Foi
gasto nela 1,4 milhão”, diz Pereira.
Pereira
afirma também que a Receita devassou vinte anos fiscais de Pizzolato.
“Tudo que encontraram foi a inclusão como dependente de uma madrasta que
cuida dele desde que ele tinha cinco anos”, diz Pereira.
Raimundo
Pereira publicou uma defesa de Pizzolato na revista Retratos do Brasil,
antes das sentenças. Ele acusou textualmente o então procurador-geral
da República, Roberto Gurgel, e Joaquim Barbosa de “manipulação”.
Mas ninguém ouviu Pereira então, e muito menos Pizzolato.
Agora a cena mudou.
Por caminhos imprevistos, a palavra de Pizzolato ganhou potência. É ouvida e repercute.
Caso
a justiça italiana investigue a documentação de Pizzolato, que poderá
ocorrer? Se ele tem papeis que desmentem a tese do desvio de dinheiro
público, na Itália não haverá Barbosas ou Gurgeis, ou Globos e Vejas,
capazes de influenciar o curso das investigações.
Pizzolato era um coadjuvante no caso do mensalão, diante de figuras chave do PT como Dirceu e Genoino.
Não mais.
Seu
caso passa, agora, a ter uma importância extraordinária por ter o poder
de trazer quem sabe luz a um episódio repleto de sombras.
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