O Brasil atravessa um momento complicado, de perda de rumo.
Nos últimos anos, a orquestração da
opinião pública dependeu de dois discursos polarizadores: o da
presidência da República e o da chamada velha mídia (os quatro grupos
jornalísticos do eixo Rio-São Paulo que dominaram o mercado de opinião
nas últimas décadas, assumindo o papel da oposição).
Essa orquestração se dava em cima de uma partitura de fácil assimilação: a luta do “bem” contra o “mal”.
Do lado da mídia, o "mal" era
representado por um governo que ameaçava o país com o "chavismo", o
"castrismo", o "bolivarianismo" e outros mitos da guerra fria. Do lado
do governo e do PT, um país ameaçado pelo que ficou batizado como o PIG
(Partido da Mídia Golpista), com pitadas conspiratórias de forças
externas.
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Aí ocorre a implosão dos sistemas de
controle no mercado de opinião e no Parlamento. No mercado de opinião,
devido à explosão das redes sociais; no Parlamento, devido à falta de
coordenação política e à formação de maioria a qualquer preço.
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Hoje em dia, os sinais da falta de rumo estão em todos os pontos.
No governo Dilma Rousseff, a não ser a
bandeira das políticas sociais, não se percebe um rumo político, não
apenas nas políticas econômicas erráticas, mas em relação a temas
políticos, morais, a políticas de direitos humanos contemporâneas. O
senso de sobrevivência política se sobrepôs a qualquer princípio
político.
Na oposição midiática, não se vislumbra o
mais leve sinal de propostas alternativas, apenas a crítica
destemperada, radical, caricata de uma legião de Beatos Salú prevendo o
fim do mundo e o extermínio do mal e o fim das políticas sociais.
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O resultado é o advento de propostas obscurantistas de todos os naipes.
O Senado está a ponto de comprometer
quinze anos de batalhas pela educação inclusiva. Basta uma manifestação
ruidosa de defesa dos animais, para o Congresso colocar em risco todas
as pesquisas de vacinas do país, anunciando a votação, em regime de
urgência, de lei que proíbe testes clínicos em animais. Na Comissão de
Direitos Humanos, um pastor homofóbico conduz os trabalhos e os mais
ruidosos homofóbicos – como esse inacreditável Silas Malafaia – são
disputados por políticos de todos os partidos.
Por modismo, ganha força um movimento ambientalista contra qualquer forma de exploração racional de energia na Amazônia.
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Na disputa partidária, há uma ausência
de grandeza, de generosidade, que transformou a disputa política em uma
arena de gladiadores sem escrúpulos.
Vendo Fernando Henrique Cardoso celebrar
a desgraça dos adversários, à luz do calvário de José Genoíno, veio-me à
memória Mário Covas.
Se vivo fosse, provavelmente Covas
sairia de São Paulo, iria até Brasília e, desavenças políticas à parte,
levaria seu abraço a Genoíno. E todo militante tucano estufaria o peito,
de orgulho do seu líder, como os petistas, quando Lula abraçou FHC no
velório de dona Ruth.
É uma fase de transição. O país não é
mesquinho como parece ter se tornado nos últimos tempos. É questão de
tempo para que novos ventos surjam trazendo de volta o discurso da
mudança, da solidariedade e da pacificação nacional.
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