Um drama familiar
Brecht,
num de seus melhores momentos, falou que o pior analfabeto é o
analfabeto político, que aqui vou tratar por AP, por razões de espaço e
de facilidade.
O
AP, como sublinhava Brecht, facilita a vida da direita predadora, da
plutocracia empenhada apenas em acumular moedas. O AP é facilmente
manipulado pelos poderosos.
No
Brasil, como se fosse miolo de pão para pombos, a direita – pela sua
voz, a mídia corporativa – arremessa ao AP denúncias de corrupção, quase
sempre infladas ou simplesmente inventadas.
E o AP é assim manipulado como se estivesse com uma coleirinha. Veja, Globo e Folha são mestras na arte de manobrar o AP.
Penso
nisso tudo ao ver o drama pelo qual passa José Genoino. Mal saído de
uma cirurgia delicada no coração, Genoino foi preso por um capricho de
Joaquim Barbosa, um heroi do AP.
A
filha de Genoino, Miruna, numa entrevista ao blogueiro Eduardo
Guimarães, fez um pedido singelo. Pediu aos brasileiros que não se
deixassem contaminar pela trinca suprema da canalhice jornalística
brasileira – Veja, Globo e Folha.
“Tudo que meu pai fez, desde que saiu do Ceará, foi lutar por justiça social”, disse Miruna.
Compare
isso ao que vem fazendo, sistematicamente, Veja, Globo e Folha. É o
oposto. A mídia corporativa teve e tem uma contribuição bilionária na
construção de um país abjetamente desigual.
Em
1964, a mídia tramou contra a democracia e saudou entusiasmadamente a
ditadura que mataria tantos brasileiros e colocaria no topo da lista dos
ricos as famílias que controlam o noticiário que chega à sociedade.
Dez
anos antes, a mídia levou Getúlio Vargas ao suicídio. Nas duas
ocasiões, e em várias outras, o AP foi brutalmente manipulado pela
imprensa.
O
apelo falacioso, cínico e indecente da “corrupção” sempre funcionou.
Repito: era e é o miolo de pão atirado aos pombos, ou ao AP.
Agora, vejo na internet alguns leitores dizerem o seguinte: “Pela primeira vez os poderosos estão na cadeia.”
Pobres APs.
Genoino poderoso? Ora, basta olhar seus bens: uma casa modesta no Butantã, bairro classe média de São Paulo.
Poderosa é a Globo, poderosa é a Veja, poderosa é a Folha, mas o AP é enganado, intoxicado mentalmente por elas.
A Globo, por exemplo, deve bilhões à Receita Federal, um crime que dá cadeia e repulsa coletiva em países socialmente avançados.
E o que acontece com ela? Seus acionistas não são presos, e sequer quitam as contas na Receita.
Pior: os múltiplos veículos da Globo cobrem a “corrupção” como se a empresa fosse São Francisco de Assis.
O
mesmo vale para a Veja e para a Folha. Seus jornalistas rottweilers
fingem desconhecer que o dinheiro público é que ergueu a fortuna
assombrosa de seus patrões.
Os cofres do BNDES e do Banco do Brasil sempre foram frequentados pelas empresas de mídia como se fossem lupanares.
Os
jornalistas fingem desconhecer também – ou é ignorância apenas – que
vigora na mídia uma absurda reserva de mercado que veja a empresas
estrangeiras entrar no Brasil.
Pesquise
na Veja, na Folha e na Globo o número de reportagens que clamam por
mercado aberto. Mas para os outros. Na sombra, elas conseguiram manter
um privilégio inacreditável: a reserva.
Vou
contar um pequeno exemplo de assalto ao dinheiro público por parte da
mídia. Na era de FHC, quando todos os anunciantes obtinham descontos
enormes das empresas de mídia, apenas as estatais pagavam a tabela
cheia.
Importante: estatais federais, estaduais e municipais.
Dinheiro – muito dinheiro -- que deveria construir hospitais e escolas acabava na Globo, na Veja, na Folha etc.
Isso é poder. Isso é corrupção.
E então o pobre Genoino, com sua casa que é menor que a sala dos Marinhos, dos Civitas e dos Frias, é o “corrupto”.
Miruna pede que as pessoas não acreditem na Globo, na Veja e na Folha.
O AP acredita.
Mas
eles são cada vez menos, como se pode ver pelos resultados das
eleições, e pelas sistemáticas quedas de audiência da Globo, da Veja e
da Folha.
O brasileiro acordou, e a internet tem um papel decisivo nisso, ao oferecer visões alternativas à voz rouca das ruas.
O AP é um ser extinção, como a própria mídia que o manipula.
E
isso é uma notícia extraordinariamente boa para os brasileiros que,
como o DCM, querem que o Brasil seja tão avançado socialmente como a
Escandinávia.
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