quinta-feira, 8 de maio de 2014

GEOPOLÍTICA - A ofensiva americana.

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Nazanín Armanian (*)
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Nem em seus melhores anos de imperialismo Washington tinha se atrevido a atuar como um suicida: enquanto planeja um enfrentamento direto com a Rússia na Ucrânia, Barak Obama visita seus aliados asiáticos (Japão, Coreia do Sul, Malásia e Filipinas), no marco de sua política de “Volta à Ásia”, para conter o avanço da China no mundo. A batalha ocorre entre China e Japão (ou EUA?), pelo controle do estratégico Mar Oriental da China (reclamado por Pequim quase em sua totalidade) que, além de ser rota do fornecimento de energia e de outras mercadorias, é o depósito de grandes recursos naturais, de gás e de petróleo; pela soberania das rochas militarizáveis Diaoyu/Senkaku, e também pelo Estreito de Malaca, que une o Mar da China Oriental com o oceano Indico e a Europa (ver: Y ahora, a por China). Com sua propaganda anti-China, os EUA pretendem assustar seus vizinhos, reforçando as instalações militares que possuem na região, além de exercer pressão sobre tais países para que ingressem na OTAN.

Trata-se do avanço dos chamados “caçadores de dragões” da administração Obama sobre os “amigos do Panda”: contenção e enfrentamento em vez de acordos com o gigante asiático.

Até o momento, Washington tinha se centrado em cortar o abastecimento de energia para seu rival econômico (da Líbia, do Irã ou do Sudão, entre outros). Agora, entretanto, está planejando outras opções possíveis de uma guerra: segundo o Wall Street Journal, sob o nome  AirSea battle, o Pentágono planeja aumentar as operações de vigilância perto da China, deslocar aviões de caça e usar mísseis para destruir a infraestrutura militar do inimigo e enviar um porta-aviões ao Estreito de Taiwan.

O jornal esconde que Washington, além disso, costuma usar grupos terroristas para desestabilizar o país que já caiu em desgraça. Do mesmo modo que o massacre que aconteceu recentemente na Ucrânia por criminosos coincidiu com a presença de John Brennan, diretor da CIA, e de Joe Biden, vice-presidente dos EUA, em Kiev, o atentado em uma estação de trem em Xinjiang, região muçulmana da China, na fronteira com o Afeganistão e com o Paquistão (ambos aliados de Washington), aconteceu depois da viagem de Obama pela Ásia.

Pinçar a partir do Cáucaso

A linha vermelha que Moscou impôs para si própria, que corresponderia a considerar “o ataque aos cidadãos russos na Ucrânia como um ataque à própria Rússia”, pode se transformar em uma armadilha mortal para Putin. É justo o que Washington busca: envolvê-lo em uma longa guerra de desgaste na Ucrânia para, desta maneira, prejudicar sua economia, reduzir seu peso nas relações internacionais (agora que a Rússia tinha se transformado em mediadora dos conflitos como o do Irã e da Síria), parar o processo de melhora de sua relação com os Estados ex-soviéticos, privar a Velha Europa de um sólido sócio comercial (e de vender a eles seu excedente de gás), obrigando os europeus a participarem de sanções econômicas contra Moscou e inclusive a entrar em guerra contra seu próprio provedor de gás. E, como não, dar um novo protagonismo à OTAN.

O Pentágono vai deslocar mais paraquedistas na Polônia, na Estônia, na Letônia e na Lituânia. Enviará um navio de guerra ao Mar Negro e, em alguns meses, vai realizar a manobra da Operação Tridente com a Ucrânia.

Putin pode pedir a presença das forças de paz internacionais para proteger os civis ucranianos, sejam ou não falantes de russo (ver: EEUU planea desmantelar la Federación Rusa), e prestar assistência a Síria ou a outras fronteiras de seu país %u200como com a Geórgia, parceira do Ocidente%u200, de onde novos golpes estão sendo preparados.

A morte, em janeiro, do autoproclamado emir do Emirato del Cáucaso, o terrorista checheno Doku Khamatovich Umarov, desencadeou fatos destacáveis:

1) Que seu sucessor é um daguestanês chamado Alí Abú-Muhammad, que está transformando um movimento nacionalista checheno em um movimento islâmico e, portanto, capaz de acolher milhares de jihadistas de outras nacionalidades.

2) Já não se trata de islamizar o Cáucaso Norte e a independência da Chechênia, mas de estabelecer um Estado autônomo islâmico sunita do Mar Negro ao Mar Cáspio.

Com o objetivo de minar a segurança nacional da Rússia, estão agindo contra os gaseodutos, redes de transporte e lugares turísticos no interior da Federação Russa. Este grupo coopera com o Frente Al Nusra, da Síria, e os mujahidin do Tartaristão, ambos na linha da Al Qaeda.

A disputa entre Rússia e Geórgia pela soberania de Abecásia e na Ossétia do Sul continua aberta e em qualquer momento pode se transformar em um novo conflito bélico, talvez depois do próximo setembro, quando a Geórgia já tiver se transformado em membro da OTAN.

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O que chama atenção nos últimos cenários tensos são: a presença do fator gás-petróleo e suas rotas, de indivíduos com bandeiras patrióticas, nacionalistas ou religiosas, e de tratados de defensa mútua entre os EUA e algum vizinho do país perseguido: Polônia, limítrofe com a Ucrânia; Turquia, que compartilha fronteira com a Síria e o Cáucaso; e Japão, nas proximidades da China.

Os EUA pretendem impedir que a integração econômica entre a Ásia e a Europa (a Ucrânia ia fazer uma ligação entre a União Eurasiática e a UE) seja feita com o controle de fluxo de energia no mundo e que esta seja comercializada em dólares. Os que se opuserem serão castigados duramente.

Barak Obama, quem os Neocon acusam de analfabeto na política internacional, se lançou em uma façanha titânica, brincando de roleta russa com a China.

A avareza voltará a estourar o saco, assim como a miopia política da Casa Branca reforçará as relações militares entre China e Rússia (enquanto a aliança entre EUA e UE se enfraquece nestes conflitos). Esses países já preparam manobras navais conjuntas no Mar Oriental da China para finais de maio, entre outros projetos defensivos.

(*) Nazanín Armanian é iraniana e residente em Barcelona desde 1983, data em que se exilou de seu país. É licenciada em Ciência Política e leciona em cursos on-line da Universidade de Barcelona. É também colunista do jornal on-line Publico.es.


Tradução: Daniella Cambaúva

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