Contratos das indústrias Labogen com governos tucanos chegam a R$ 164 mi; em São Paulo somam R$ 67 mi
por Conceição Lemes
Desde o desencadeamento da operação Lava Jato, em março, as indústrias Medicamentos Labogen e Labogen Química, do doleiro Alberto Youssef, preso na operação, estão na mídia. Ambas foram usadas para lavagem de dinheiro, segundo a denúncia do Ministério Público Federal no (Paraná MPF-PR).
Inicialmente, elas ganharam todos os holofotes, porque o deputado federal paranaense André Vargas (ex-PT, atualmente sem partido), foi flagrado pela Polícia Federal (PF) em troca de mensagens com Youssef. Ele seria suspeito de fazer lobby a favor das organizações Labogen no Ministério da Saúde na gestão de Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. O ex-ministro nega interferências e está interpelando judicialmente Vargas.
O fato é que:
1) Como a denúncia foi feita pelo MPF-PR, a mídia passou a impressão de que o esquema se restringia ao Paraná, até porque Youssef é de Londrina. Omitiu, assim, que as organizações Labogen estão sediadas em São Paulo.
2) Com base no que se sabe até agora, elas não têm contratos firmados com o Ministério da Saúde, desde o final do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Inclusive, balanço de 2001 da Labogen Química mostra que na época ela recebeu financiamento do Banco do Brasil e da Finep.
3) Em 1999, na gestão José Serra (PSDB), a Medicamentos Labogen fechou contratos no valor de R$ 30,8 milhões com o Ministério da Saúde, revelou o Tijolaço.Em valores corrigidos até março deste ano somam R$ 97,4 milhões.
4) Youssef é um dos doleiros envolvidos no maior escândalo do Brasil, o do Banco Estado do Paraná ou Banestado, que atinge fortemente a mídia e o governo FHC. Entre 1996 e 2002, mais de US$ 84 bilhões foram retirados indevidamente do Brasil via contas CC5 do Banestado.
Curiosamente, à medida que se descobrem ligações das indústrias Labogen com os tucanos, o noticiário sobre elas vai minguando. E talvez diminuam ainda mais.
Além de contratos com o Ministério da Saúde na gestão Serra, a Medicamentos Labogen vendeu diretamente para a Fundação Remédio Popular (Furp), do governo do Estado de São Paulo, de 1999 a 2005.
A Furp também firmou vários contratos com a Piroquímica Comercial, oficialmente de Pedro Argese Júnior. Só que ele é testa de ferro do doleiro Alberto Youssef, segundo o MPF-PR. Os contratos foram entre 1999 e 2007, consequentemente nos governos Covas, Alckmin e Serra.
Esses dados foram obtidos em levantamentos feitos no Sistema de Gerenciamento da Execução Orçamentária (Sigeo) e no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Até agora, pelo que apuramos, os contratos da Furp com a Medicamentos Labogen somam R$ 14 milhões; em valores corrigidos, aproximadamente R$ 28 milhões.
Os com a Piroquímica atingem R$ 20 milhões; em valores corrigidos, cerca de R$ 39 milhões.
Resultado: os contratos das indústrias Labogen e Piroquímica com os governos tucanos de São Paulo chegam a R$ 67 milhões.
Entretanto, eles não aparecem na denúncia do MPF-PR, que estranhamente só quebrou o sigilo das empresas denunciadas na Operação Lava Jato a partir de 2008.
Explico. No pedido ao MPF-PR ao juiz federal, solicitando o indiciamento da “quadrilha”, os promotores argumentam que em “data não precisada nos autos, mas sendo certo, que desde 2008 até 17 de março de 2014”, as pessoas listadas “integraram uma das organizações criminosas comandadas pelo doleiro Alberto Youssef”.
Ou seja, O MPF-PR diz que não foi possível identificar o início do esquema. O que é intrigante por várias razões:
1) Youssef é um velho conhecido do MPF-PR, já que operou no esquema de evasão de divisas no caso Banestado.
2)As empresas investigadas de Youssef já existiam antes de 2009. E se elas lavaram dinheiro depois, por que não teriam lavado antes?
3) Se os promotores não sabiam quando começou, por que não se investigou?
4)A denúncia do MPF-PR menciona a MO Consultoria, de São Paulo, criada em 2004. De 2009 a 2013, foram depositados na conta dessa empresaR$ 89,7 milhões.
Segundo o MPF-PR, a integralidade dos valores recebidos por ela é ilícita e correspondia à parte significativa do montante que foi ocultado pelas operações bancárias pulverizadas para outras empresas como sendo do doleiro Youssef. Entre as quais, Labogen Química, Labogen Medicamento e Piroquímica, que, de 6 de janeiro de 2009 a 20 de junho de 2013, foram abastecidas em R$ 21,3 milhões.
Considerando que o MPF-PR admite que a lavagem de dinheiro do esquema do doleiro Alberto Youssef passava pela MO por que não quebrou o sigilo dessa empresa de 2004 a 2008?
Sem contratos fechados não há corrupção.
Os firmados pelas organizações Labogen com governos tucanos já chegam a R$ 164 milhões: R$ 97,4 milhões (gestão Serra, no Ministério da Saúde) + R$ 67 milhões (Furp, nas administrações Covas, Alckmin e Serra).
Será que a mídia vai investigar esses contratos realmente existentes ou se calará como fez com o propinoduto tucano? Só o tempo dirá.
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