domingo, 4 de maio de 2014

POLÍTICA - O telhado na reeleição de Dilma.

O telhado na reeleição de Dilma

Por Renato Rovai, em seu blog:

A pesquisa Sensus publicada nesta semana na capa da revista IstoÉ que traz o governador Aécio Neves com 23,7% dos votos e Dilma com 35% parece ser mais algo produzido ao gosto do freguês e para criar uma onda do que um produto sério. E já há vários elementos que podem levar a essa conclusão, como o registro da mesma depois do levantamento de campo ter sido feito. De qualquer forma, o Datafolha já registrou nova pesquisa e em breve esse resultado poderá ser cotejado.

A pesquisa Sensus, porém, não é o problema. O buraco é mais em cima. O número de pessoas que começa a achar que a reeleição pode ter subido no telhado se ampliou demais no circuito petista e governamental. Mesmo na ressaca de junho de 2013, quando a popularidade da presidenta despencou, havia menos gente temerosa em relação à reeleição do que atualmente. Hoje, a maioria ainda acha que “vai dar”, apesar das dificuldades. Mas já há um grupo razoável pensando no dia seguinte. Ou seja, em como será o Brasil governado pela oposição.

Na avaliação desses mais pessimistas, o governo subestimou a oposição e não entendeu o recado das ruas e a mudança da expectativa política. Ficou mais preocupado em conduzir a burocracia e com o pragmatismo das alianças do que em redesenhar um novo pacto com os setores populares para se credenciar como líder deste processo de mudança que todas as pesquisas indicam ser o desejo da ampla maioria dos brasileiros. E que pode ser liderado por Dilma, na opinião de boa parte deles.

Ao não ter se colocado como líder deste processo, a presidenta teria deixado um espaço vazio que vem sendo ocupado pela oposição, mas não pelos candidatos de oposição. Há aí uma contradição que permite ao governo retomar o protagonismo. As demandas por mudança vem crescendo desde junho passado e o discurso da oposição tem sido mais eficiente para dialogar com esse campo. Mas os candidatos da oposição ainda não se credenciaram como confiáveis para liderar esse processo. É neste novo espaço vazio que Dilma pode retomar as cartas do jogo.

Mas para que isso viesse a acontecer, a presidenta precisaria não só sinalizar com a defesa da reforma política, como fez no encontro do PT, mas ao mesmo tempo iniciar um processo com sinais claros de mudança na cultura política da condução do governo. Teria de, como se diz no popular, partir para cima. Enfrentar interesses poderosos e dar sinais fortes de que seu segundo mandato já estaria começando agora, para que a parte do eleitorado que está achando que sua reeleição levaria o país a quatro anos de mais do mesmo, renovasse o compromisso político com o petismo e não aceitasse correr o risco de mudar com Aécio ou Eduardo Campos.

A operação não é fácil. E para que venha a acontecer depende única e exclusivamente de Dilma. Ela tem que estar convencida de que é esse mesmo o caminho e precisa achar que terá condições de enfrentar o processo de quebra de ovos para tentar fazer o omelete desejado. Os sinais que Dilma precisará dar para mostrar que vai liderar a mudança precisarão contrariar muitos grupos políticos, em especial setores do PMDB. E isso pode fazê-la perder apoios.

Mas de qualquer forma, o fato é que hoje a reeleição de Dilma já não é dada como favas contadas tanto no governo quanto por quem o defende. Há uma clara preocupação com a queda de popularidade da presidenta e com o mau humor atual dos eleitores. E se esse sentimento crescer muito, muita gente começará a pular do barco. Ou seja, isso também precisa ser levado em conta por aqueles que acham que tudo é pragmatismo político. E que dois e dois sempre resultam em quatro. Pode ser também 22. E em política, nem sempre a operação é de soma quando se opera com sentimentos difusos. O cenário político do Brasil pós-junho de 2013 mudou significativamente, mas hoje já há gente achando que aquilo já é coisa do passado.

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