quarta-feira, 17 de setembro de 2008

ELEIÇÕES AMERICANAS - Candidatura contra-corrente.

Larry Holmes

Cynthia McKinney, uma corajosa ex-congressista negra eleita pelo Estado da Geórgia, tornou-se numa das mais importantes activistas e líderes da esquerda norte-americana e dos movimentos progressistas no país. A sua militância contra a guerra no Iraque, pela destituição do presidente George W. Bush, em defesa das vítimas do furacão Katrina e na denúncia do papel do governo no desalojamento de milhares de pessoas, valeu-lhe o rótulo de “demasiado negra e radical” para passear nos corredores do Congresso. Por esse motivo, foi expulsa não uma, mas duas vezes pela direcção do Partido Democrata, o qual, tal como o congénere Republicano, é um partido do imperialismo. O ano passado, McKinney cortou definitivamente os laços com os Democratas.

A 12 de Julho último, McKinney e a activista de origem latina Rosa Clemente, foram escolhidas pelo Partido Ecologista para se candidatarem à presidência e vice-presidência dos EUA, respectivamente. A nomeação por parte dos ecologistas coloca McKinney nas assembleias de voto de 20 Estados. Isto não é coisa pouca num país onde a classe dominante montou um sistema que levanta enormes obstáculos ao surgimento de argumentos eleitorais independentes e alternativos aos dos dois maiores partidos.

A campanha protagonizada por McKinney vai buscar grande parte das suas propostas ao programa provisório do ainda embrionário Partido da Reconstrução, formado por activistas de Nova Orleães e do Golfo do México, os quais, junto com grupos de todo o país, exigem justiça para os sobreviventes do Katrina e a reconstrução das regiões da Costa Sudeste da América do Norte.

O programa reivindica, entre outras coisas: igualdade de direitos para os negros norte-americanos; realojamento dos deslocados do Katrina; políticas eficazes de emprego, saúde e habitação; fim da política racista e da repressão policial; fim do complexo prisional-industrial; retirada imediata do Iraque.

McKinney declarou-se igualmente contrária à ocupação do Afeganistão e a qualquer envolvimento dos EUA num ataque ao Irão, e expressou claramente a sua solidariedade para com a luta do povo palestiniano. Quanto às questões envolvendo o Zimbabué e o Darfur, a candidata pôs a nu os contornos reaccionários da intervenção de Washington no continente africano.

Contradições e potencialidades

A Campanha de McKinney vai enfrentar grandes dificuldades na medida em que esta eleição presidencial apresenta aspectos que a diferenciam das antecedentes. Barack Obama é o primeiro negro a ser nomeado candidato por um partido do sistema, e, assim, pode mesmo vir a ser o primeiro presidente negro dos EUA. Muitos estão compreensivelmente entusiasmados com a hipótese, particularmente os afro-americanos. Independentemente do quanto Obama se possa a aproximar das posições da direita conservadora, certo é que os eleitores negros se vão mobilizar procurando concretizar uma esperança que a maioria julgava impensável há apenas um ano atrás.

Para além dos eleitores negros, muitos votarão em Obama por razões que, consideradas no contexto histórico norte-americano, são progressistas. Muitos outros não vão votar em Obama pelo inverso, ou seja, porque o seu nome induz que o candidato é muçulmano, ou simplesmente porque é negro.

Raça, ou o que muitos de nós chamamos de “questão nacional”, joga nas eleições deste ano um papel central. A possibilidade de triunfo de Obama pode ainda ser um sinal de que o período político dominado pela reacção ultraconservadora, que provocou fortes recuos entre a classe trabalhadora e enfraqueceu o movimento revolucionário, está a chegar ao fim.

Acresce um lado negativo a estes desenvolvimentos contraditórios. Caso Obama venha a ser eleito, o que é ainda de todo incerto, a classe dominante nos EUA terá um político negro que os pode ajudar a salvar o conturbado império. Uma administração com Obama como face de um Estado imperialista pouco ou nada muda no fundamental da questão, mas enquanto mistificação assinala toda uma nova situação.

Independentemente de quem venha a ganhar as eleições, a magnitude da crise mundial do imperialismo, centrada nos EUA, vai desafiar todas as forças que partilham uma orientação socialista, anti-imperialista e comprometida com as classes trabalhadoras. As condições materiais para o ressurgimento do movimento operário e da luta dos trabalhadores nos EUA pode em breve atingir níveis próximos dos registados na década de 30. A luta não pode ficar confinada à arena eleitoral, especialmente quando os capitalistas dominam inteiramente esse processo.

A campanha de McKinney lança as bases para uma aliança radical entre latinos, negros, asiáticos, nativos americanos, sindicalistas e progressistas, imigrantes e sectores afectos à luta pelo socialismo, e apresenta um enorme potencial de crescimento. Pode ajudar a trazer para as ruas uma linha política de luta de massas.
Origem: Avante!
Fonte: Blog Informação alternativa.

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