Os homens de Estado desfibram-se no mundo inteiro, enquanto os recursos naturais minguam, aumenta a pressão sobre o consumo e ressentimentos afloram. Cada povo procura voltar-se para seu espaço e sua história, a fim de reunir forças e cruzar o horizonte movediço. Enfim, o nacionalismo está de volta. A campanha eleitoral norte-americana é orientada para conter a erosão do poder do país, mediante novo pacto de coesão interna. McCain aposta nos marines e em Wall Street para ficar 100 anos no Iraque; Obama diz confiar na força do povo. A Europa titubeia. Não pode arrostar o novo Kremlin, senhor do fogo do gás, do petróleo e das ogivas nucleares. Já arriscou muito, em sua gratidão a Roosevelt e a Marshall, pela ajuda na guerra contra os alemães e na reconstrução continental. Há sinais de moderação de sua postura, como a conclusão dos representantes da OSCE de que os georgianos se prepararam intensamente para a invasão e cometeram crimes de guerra na Ossétia do Sul – de acordo com as informações de Der Spiegel.
É nesse contexto que devemos examinar os nossos problemas. Temos que escolher entre continuar na política de entrega dos recursos naturais aos estrangeiros, ou retomar o projeto nacional de desenvolvimento de Vargas e Juscelino. O neoliberalismo, sob a bênção polonesa do papa Wojtyla, contrariava o senso da realidade e já se encontra perempto. A Inglaterra passa pela pior fase de sua economia, desde o fim da II Guerra Mundial, destruída pela deregulation de Mme. Thatcher, e os Estados Unidos financiam a guerra e o desatino consumista de sua sociedade com dinheiro chinês.
Temos questões urgentes a serem resolvidas, como as da soberania sobre a Amazônia, o aproveitamento dos grandes recursos minerais, entre eles os das jazidas de petróleo situadas abaixo da camada de sal da costa atlântica, e a integração dos grupos culturais diversificados de nossa população que a insensatez pretende transformar em nacionalidades.
Os interesses privados, associados ao capital estrangeiro, mobilizam-se para se apoderar do petróleo subsalino. Não admitem que haja novas regras. Querem continuar extraindo o óleo e repassando ao Estado a reduzida participação de menos de 40% sobre os resultados, decidida pelo governo anterior, quando, em outros países produtores, ela passa de 80%. O governo pretende mudar as regras do jogo, mesmo porque o cacife agora é outro. O monopólio da União sobre o petróleo autoriza o Estado a decidir o que fazer dele. Poderá o governo, como maior acionista da Petrobrás, convocar o aumento da capital da empresa, e aportar o valor das novas jazidas, a fim de elevar sua participação e fortalecer o controle acionário, ou criar nova entidade, a fim de administrar o imenso manancial descoberto.
A Vale do Rio Doce também deve alinhar-se ao projeto nacional de desenvolvimento. A empresa, na ânsia de livrar-se da identidade nacional, mudou o nome que a vinculava a Minas e ao Brasil, e se desfez de seu logotipo. Quando se toca nos emblemas, há poderosos interesses políticos em causa. A empresa caminha, resoluta, para a desnacionalização, mediante alianças internacionais suspeitas. O Estado ainda detém o poder de veto sobre suas decisões, mediante uma golden share. É hora de acompanhá-la mais de perto e fazer valer essa prerrogativa, ainda mais porque está sendo financiada generosamente pelo BNDES.
Temos de enfrentar, também, o falso problema étnico no país, antes que ele sirva aos que pretendem insuflar conflitos internos, a fim de destruir nossa soberania. Os negros, mediante o senador Paulo Paim, reivindicam cotas de empregos. Pretendem que 46% das vagas em empresas com mais de 200 trabalhadores sejam a eles destinadas. E aqui chegamos ao domínio do nonsense: é quase impossível saber quem é negro, e quem é branco no Brasil, um país – graças a Deus! – de mestiços. Seria impossível estabelecer os direitos proporcionais à composição genética dos mulatos, dos cafuzos, dos mamelucos e dos albinos. A regra provocaria disputa irracional entre os trabalhadores a partir do matiz de sua pele.
O problema social no Brasil não está na divisão entre brancos e negros, e, sim, entre pobres e ricos, como sabemos todos – menos alguns.
Mauro Santayana (jornalista).
Fonte:AEPET.
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