domingo, 26 de abril de 2009

A CHINA E A BELA HISTÓRIA DA SENHORA WANG

Diz o renomado pesquisador Armen Mamigonian (USP/UFSC), que o caráter longevo da formação social chinesa tem grande importância. Por exemplo, a posição geográfica da China, sitiada no extremo-Oriente foi fator de proteção às invasões; distintamente, as conquistas de Alexandre atingiram o Egito, a Mesopotâmia, a Pérsia, a Índia - não a China, distante demais.

Por Sérgio Barroso, no O Jornal

Ameaçada pelas invasões tártaras, especialmente por mongóis e manchus, havia já construído a Grande Muralha no século 4 a.C. As invasões tomaram então rumos da Índia, Rússia e Europa ocidental; anos depois a China “absorveu” mongóis e manchus. Para Mamigonian (A China e o Marxismo — Li Dazhao, Mao e Deng, 2007), além, o florescer chinês combinou a expansão da agricultura intensiva do arroz, filosofias civilizatórias e tolerantes e a formação de uma administração pública impulsionadora dum precoce Estado nacional (séc. 3 a. C.).

A Grande Muralha... A Longa Marcha. Na China tudo é imenso; a sua história é intensamente sinuosa e larga. Entre 1934 e 1936, o Exército Vermelho, força militar da estratégia da revolução chinesa, do Partido Comunista da China, marchou por 14 províncias (estados) por cerca de 12 mil quilômetros, cruzando do sul ao noroeste do país. A sublevação, que mobilizou mais de cem mil camponeses e trabalhadores, teve como marco a guerra de resistência contra a invasão japonesa. Forjou-se depois uma aliança entre o Kouamitang (governo da burguesia e latifundiários) com o exército de Mao Zedong, contra a ocupação japonesa (1937-1945).

Em 2005, nas comemorações de 60 anos daquela epopeia, disse o atual presidente Hu Jintao disse: “A vitória da Grande Marcha do Exército Vermelho demonstra plenamente... o elevado heroísmo dos comandantes e combatentes do Exército Vermelho de desafiar as dificuldades e perigos e lutar pela independência da Nação e libertação do povo”.

Pois bem. Sun Shuyun, graduada em Beijing (Pequim) e Oxford, conseguiu encontrar a melhor maneira de resgatar a vivência e a história singularíssimas de sobreviventes protagonistas da Grande Marcha. Em A Longa Marcha — A História do Mito Fundador da China Comunista (Arquipélago, 2007), essa produtora de cinema e tevê inicia uma “caminhada”, através das memórias da formidável senhora Wang Quanyuan, a quem encontrou então com 91 anos.

Meados de outubro de 1935. A colheita dos arrozais já havia sido feita e uma música avançara sobre a aldeia de Shi, província de Jiangxi, sul da China. “Ninguém está cansado demais para cantar! Continuem o trabalho”, gritara a jovem Wang. Ela insistira ainda para que repintassem as palavras de ordem que a chuva borrara: “Abaixo os proprietários de terras e a nobreza! Vida longa aos comunistas”.

Em 1931, Wang apaixonou-se pelo governo (soviete) de trabalhadores e camponeses fundado por Mao, em Jiangxi. Ingressara no departamento da juventude e mulheres do soviete. “Irmãos e irmãs, avôs e avós; o Exército Vermelho encontra-se agora... com muitas pessoas sendo feridas. Mas numa guerra se perde e se ganha... Vocês são fortes. Querem ser massacrados pelo resto da vida? Se não querem, juntem-se agora ao Exército Vermelho”, discursou Wang naquela noite, iluminada por gigantescas tochas de bambu. “Não tenham medo, nós vamos vencer”, afirmou.

Wang foi das 30 mulheres entre 86 mil homens que desde o Primeiro exército chegou a comandante do único regimento feminino! “Você era feliz?”, perguntou-lhe Shuyun: “Com tantas pessoas sofrendo, como era possível ser feliz? Eu não poderia”. Sua confiança na verdade era inabalável.
Fonte:Site O Vermelho.

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