João Victor Campos
(Diretor Cultural da AEPET)
Temos uma das maiores reservas de petróleo do mundo, no chamado pré-sal das bacias de Santos, Campos e Espirito Santo, graças a uma situação geológica única com que a natureza nos brindou na separação dos continentes africano e sul-americano. No estágio de golfo, dessa separação, formou-se uma bacia restrita, permitindo que uma espessa camada de sal se depositasse sobre os sedimentos continentais dessa fase, ricos em matéria orgânica, preservando destarte as rochas geradoras e os reservatórios.
A Petrobrás domina como nenhuma outra, a tecnologia para a exploração em águas profundas e ultraprofundas. Já desenvolvemos a tecnologia necessária para ultrapassar a barreira representada pela espessa camada de sal e testar os reservatórios abaixo situados. Prova disso, a Petrobrás em 8 poços perfurados na chamada área do `Cluster` da bacia de Santos, teve 100% de sucesso, aí incluídos os campos de Tupi e Iara, com estimativas de possíveis 12 bilhões de barris à serem acrescidos às atuais reservas de 13 bilhões de barris. Temos pessoal qualificado e dinheiro. A Petrobrás, no ano passado, teve lucro de cerca de 34 bilhões de reais. Não precisamos de sócios e/ou parcerias para explorar o Pré-Sal.
Na 9ª Rodada de Licitações da ANP, em 2007, o Presidente Lula tendo tomado conhecimento do potencial da área do Pré-Sal e do evento de Tupi, em reunião extraordinária do CNPE, no dia 8 de novembro de 2007, fez retirar 41 blocos que seriam ofertados, 26 dos quais só na área do pré-sal, área com risco geológico mínimo, verdadeiros bilhetes premiados.
A partir desse evento, o CNPE ficou incumbido de promover as mudanças no marco regulatório, que visam contemplar um novo paradigma de exploração e produção de petróleo e gás natural, respeitando os contratos em vigor.
Até o presente, decorridos cerca de um ano e meio, o CNPE não apresentou as tais mudanças, o que nos leva à crer que sérias modificações deverão ocorrer. A promessa do governo é de que seriam reveladas agora em abril de 2009.
Pelas últimas notícias veiculados nos órgãos da imprensa escrita e falada (TV), sobre pronunciamentos feitos por autoridades do atual governo, no que diz respeito a criação de uma nova estatal, cita-se aquela feita pela APN (Agência Petroleira de Notícias), onde a Ministra da Casa Civil, em recente visita à CNBB, teria abordado como será feita a exploração e, principalmente onde o governo pretende aplicar os recursos do pré-sal. Segundo a APN, a Ministra tem se mostrado uma ardorosa defensora da criação de uma nova estatal para administrar as reservas do pré-sal. E mais, ela argumenta que se tomou difícil para qualquer governo lidar com a Petrobrás, pois a empresa tem uma dimensão e uma dinâmica próprias que, muitas vezes, entram em choque com os interesses governamentais (sic).
Porque devemos lutar para preservar a Petrobrás e o Pré-Sal
1. A situação geológica é única, mas devemos lembrar que a outra metade do Pré-Sal, na separação, ficou com a África (será que com o mesmo potencial?).
2, As maiores reservas de petróleo/gás do mundo estão associadas à esforços compressionais, enquanto que as do pré-sal estão relacionadas à esforços distensionais.
3. As bacias terrestres de idade paleozóica, abrangendo cerca de 3 milhões de km2, após 55 anos de exploração, não tiveram resposta favorável, principalmente devido a falta de trapas proporcionadas por esforços compreSSlOnalS.
4. As bacias proterozóicas (São Francisco e Parecís) com cerca de 800 mil km2, apresentam estruturas resultantes de esforços compressionais. Na superfície ocorrem exsudações de gás, que deve se constituir no objetivo. O risco é alto mas já existem blocos arrematados, principalmente na de São Francisco. A ANP informa que está em andamento levantamentos sísmicos nessas bacias. Vamos torcer e aguardar.
5. A estimativa da Petrobrás para a área do Pré-Sal é de 80 bilhões de barris, enquanto que a da ANP é de 50 bilhões de barris, Qualquer que seja, somadas as atuais reservas de 13 biboe (bilhões de barris de óleo equivalente), representa uma fantástica quantia da ordem de trilhões de dólares. Isto no atual câmbio do dólar mas, acreditamos que será substancialmente aumentada quando este voltar a atingir um patamar de US$ 100,00/barril, que fatalmente advirá em função da diminuição das reservas mundiais. Lembramos que já atingiu US$ 147,00/barril, ano passado.
6. Hoje, infelizmente, 60% das ações da Petrobrás não são mais da União Federal. Portanto, caso a Petrobrás explore o Pré-Sal, mantidas as condições atuais, estaríamos assegurando aos acionistas privados 60% do lucro alcançado que por sua vez, tendo-se em conta que 25% do lucro é o que é dividido, significa que 15% do lucro (0,60x25) vão para mãos de outros que não o povo brasileiro. 15% de trilhões é o dinheiro que deixa de ser aplicado em favor dos brasileiros. A recompra das ações pela União, na crise financeira mundial que se estabeleceu no final de 2008, quando estas ações da Petrobrás atingiram níveis baixíssimos, não encontrou eco no governo federal.
7. Com a criação da Petrosal, fatalmente isto implicará na privatização da Petrobrás, pois pergunta-se: terá ela, Petrosal, recursos, estrutura, tecnologia e pessoal técnico especializado, terá condições de tirar uma só gota de petróleo do fundo do mar? Donde tirar isso senão da própria Petrobrás? Seus próprios idealizadores sabem que não e por isso dizem que ela não será operacional. Se não for, porque criá-la? A aparente preocupação do governo com a educação conforme aludido pelo Presidente Lula, pela Ministra Dilma Roussef, Ministro Lobão etc., parece esconder plano mais elaborado, daí a longa espera de ano e meio pelas tais mudanças do marco regulatório. Será que não é, este plano, esvaziar a Petrobrás para facilitar a sua privatização, tal como concebido pelo FMI, no governo FHC, que não chegou à concluir mas deu a largada, traduzida na venda de 37% das ações (ADR) na Bolsa de Nova Iorque?
8. Ainda, para ressaltar o papel preponderante da Petrobrás, vale mencionar que durante a vigência do Monopólio Estatal, que durou 44 anos (1954 a 1997), contando com o seu admirável corpo técnico, descobriu cerca de 400 campos de óleo, com 22.000 poços perfurados. Neste período, só ocorreu uma única descoberta feita por estrangeiros, o pequeno campo de gás no litoral paulista, o Campo de Merluza, durante a vigência dos contratos de risco do governo Geisel.
9. Hoje, temos 24.400 poços perfurados (ANP) contra 4 milhões de poços perfurados nos EUA. Os EUA tem 100 anos de exploração à nossa frente. Mesmo assim, lideramos o mundo no que diz respeito a exploração em águas profundas e ultraprofundas.
Vamos lutar pelo que é nosso, do povo brasileiro.
10. Atingimos a autossuficiência graças e redundante dos trabalhos da Petrobrás durante a vigência do Monopólio Estatal.
João Victor Campos é Diretor Cultural da AEPET.
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