Argemiro Ferreira
Obama e Lula ficaram muito à vontade na Casa Branca, em março, com a ajuda do sociólogo e intérprete Sérgio Ferreira.
Na edição de domingo do Estado de S.Paulo, uma nova entrevista do professor Luiz Alberto Moniz Bandeira, cientista político e historiador, concedida ao jornalista Wilson Tosta (leia a íntegra AQUI). Moniz Bandeira (foto abaixo, à esquerda) é autor de alguns estudos fundamentais para quem se interessa pela América Latina e, em especial, pelo relacionamento dos países da região com os EUA.
Ainda em 1973 escreveu Presença dos Estados Unidos no Brasil - Dois Séculos de História, hoje um clássico. Nos anos seguintes, publicou Brasil-Estados Unidos: A Rivalidade Emergente, 1950-1988 (1989), Brasil, Argentina e Estados Unidos - Conflito e Integração na América do Sul, da Tríplice Aliança ao Mercosul (1993), As Relações Perigosas: Brasil-Estados Unidos, de Collor a Lula (2004) e, mais recentemente, Formação do Império Americano: Da Guerra Contra a Espanha à Guerra no Iraque (2005), entre outros livros sobre questões internacionais (saiba mais AQUI).
Na entrevista do Estadão, ao ser perguntado por Tosta sobre o sucesso da relação do governo Obama com os países da América Latina, Moniz Bandeira explicou que dependerá do papel do Brasil como liderança regional. Encarando Obama como “muito inteligente e perspicaz”, reconheceu que “Lula preside uma superpotência astuta como nenhum outro gigante emergente, conforme já escrevera a revista Newsweek esta semana. Ele sabe que Lula, de forma não declarada, se contrapõe à influência dos EUA sem o radicalismo de Hugo Chávez”.
Elite de olhos azuis ainda no poder
Na sua análise, o cientista político brasileiro também observou que há algum tempo os EUA já estavam perdendo o domínio sobre a América do Sul, que o Brasil sempre considerou como sua área de influência. Perguntado sobre os objetivos dos EUA em relação ao Brasil, disse que Obama (a foto o mostra na Cúpula das Américas) demonstra que deseja melhorar as relações com os países da América Latina e, “dentro desse contexto, um entendimento mais estreito com o Brasil reveste-se de fundamental importância para a política exterior americana.
Os dois países constituem as duas maiores massas geográficas, demográficas e, apesar da assimetria, econômicas do hemisfério. Nenhum pode prescindir do outro”.
O entrevistador quis saber ainda sobr a mudança dos EUA, que tinham até agora uma política externa marcada pelo unilateralismo. “A eleição de Obama, um negro, representa mais um sintoma do declínio político do império americano, até então governado por uma elite branca, anglo-saxônica e protestante - a elite ‘loira, de olhos azuis’, que controla o sistema financeiro e à qual o presidente Lula se referiu como responsável pela crise econômica mundial. Essa elite fracassou. Mas não significa que tenha perdido o poder”, afirmou Bandeira.
Brasil não é polo da esquerda moderada?
De acordo com a análise, “os EUA têm de prestigiar o Brasil, mas não tentam criar nenhum ‘polo da esquerda moderada’ em contraposição ao presidente venezuelano e ao bolivarianismo. Lula mantém um relacionamento muito bom com Chávez e quer que a Venezuela se integre como sócia plena do Mercosul”.
Para Bandeira, tem razão a revista Newsweek ao ressaltar que a eventual aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul não significa endosso das políticas de Chávez, mas uma forma de contê-lo por meio das obrigações do bloco comercial, como o respeito à democracia e a proteção à propriedade. É isso que certos setores políticos no Senado não entenderam”.
O atual prestígio internacional de Lula ficou claro no destaque dado a ele nas últimas semanas por Newsweek. Na edição com data de 30 de março foi publicada entrevista (ilustrada pela foto à direita, de Kue Bhui) dada por ele ao jornalista Fareed Zakaria (leia AQUI), colunista da revista e muito atuante também na TV. E na edição com data de 27 de abril, que teve Lula na capa, o perfil do presidente coube ao competente Marc Magolis (leia AQUI), um dos melhores correspondentes estrangeiros que atuam no Brasil (a foto na página interna foi a que aparece abaixo, à esquerda, feita por Joedson Alves para a Getty Images).
O esforço contra o embargo de Cuba
O Brasil e todos os demais países da América Latina, como também destacou, “já demonstraram de forma assertiva que não aceitam a continuidade do estado de beligerância que persiste nas relações entre EUA e Cuba, submetida a um embargo desumano, injusto e inútil há quase meio século. Mas não depende do Brasil. A questão é muito complexa”.
Para Obama, conforme o cientista político deixou claro, “não é simples terminar o embargo imediatamente, sobretudo por causa das implicações de política interna, como a força eleitoral da comunidade cubana. Da mesma forma e, em larga medida pela mesma razão, não é simples para o presidente cubano, Raul Castro, deixar o poder e convocar eleições em Cuba nos moldes pretendidos pelos EUA.
O entrevistador Wilson Tosta do Estado de S. Paulo quis saber se o Brasil pode tirar proveito da mudança na política dos EUA. Na avaliação de Moniz Bandeira, “a mudança na política externa americana resultou do enfraquecimento econômico, moral e político dos EUA, cuja hegemonia na América Latina desaparece em decorrência do fracasso das ditaduras militares e do insucesso das políticas neoliberais”. Moniz Bandeira assinalou que não foi o crescimento da esquerda e sim o enfraquecimento da influência americana na região que possibilitou o surgimento de governos como o de Chávez.
Fonte:Blog do Argemiro Ferreira.
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