terça-feira, 30 de novembro de 2010

VENEZUELA - Chavez sugere renúncia de Hillary.

Chávez sugere renúncia de Hillary após vazamento do WikiLeaks.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou nesta segunda-feira (29) que o vazamento do site WikiLeaks deixou o "império desnudado", e disse que a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, deveria "pelo menos renunciar" ao cargo, dada a magnitude das revelações.

"O império foi desnudado. Eu não sei o que os Estados Unidos vão fazer. Quantas coisas estão saindo, como desrespeitam até seus aliados! Quanta espionagem!", expressou Chávez, durante um conselho de ministros transmitido pela emissora de TV estatal.

Segundo o presidente venezuelano, nos documentos, os EUA "se referem aos seus aliados de uma maneira insólita", e revelam "uma arremetida contra governos, pessoas e entidades internacionais".

"Os EUA são um Estado fracassado, ilegal, que joga fora todos os princípios da ética, o respeito por seus próprios aliados, e isso (os documentos que vazaram) o demonstra de maneira gigantesca", disse Chávez.

O líder venezuelano expressou que "é preciso felicitar os membros da WikiLeaks e seu diretor, Julian Assange, por sua coragem e valor". "Este homem (Assange) anda praticamente clandestino, dando declarações não se sabe a partir de onde, temendo inclusive por sua vida", disse.

Chávez criticou a reação da secretária de Estado norte-americana, que na segunda-feira condenou o que classificou como "roubo" de documentos pela WikiLeaks.

"(Hillary) deveria renunciar, é o mínimo que pode fazer. Deveriam fazer o mesmo todo esse emaranhado de espiões, de delinquentes que há no Departamento de Estado dos EUA. Deveriam dar uma resposta ao mundo, e não começar a atacar e dizer que foi um roubo", avaliou o presidente venezuelano.

Chávez se mostrou escandalizado porque os documentos revelados pela WikiLeaks indicam que Hillary supostamente mandou "realizar um estudo sobre o estado mental da presidente argentina", Cristina Kirchner, à qual expressou sua solidariedade.

"Alguém teria que estudar o estado mental da senhora Clinton", disse o governante da Venezuela, que assinalou ter chegado à conclusão que ela se acredita superior ao presidente dos EUA, Barack Obama. "Ela, como é branca, se sente superior ao negro", expressou Chávez.

Para o Chávez, outra coisa que ficou clara "é o imenso esforço dos Estados Unidos, do Departamento de Estado, para isolar a revolução bolivariana". O líder venezuelano ressaltou que o mundo deve dar uma "poderosa resposta ética, de rejeição contundente às atitudes dos EUA".

A Venezuela, por sua parte, fortalecerá o processo de integração regional e suas "alianças estratégicas" com a Rússia, China, e países aliados na Europa e na África, precisou Chávez.

A WikiLeaks divulgou mais de 250 mil documentos, alguns deles secretos, que se referem principalmente a comunicações do Departamento de Estado dos EUA, com mais de 270 embaixadas, consulados e missões diplomáticas do país em todo o mundo.

Com O Estado de S.Paulo

GUERRA DO RIO - O dia seguinte.

Cláudio Lembo.

De São Paulo.

As cenas dos últimos acontecimentos no Rio de Janeiro preocupam. Há em alguns meios de comunicação uma euforia juvenil pelas ações militares. São expressivas. Demonstram capacidade de ação.
Ocorre que, na outra ponta, se encontram pessoas fragilizadas pela situação e enfraquecidas pela dura realidade que as cercam. Não são os integrantes do tráfico.
Trata-se daquelas pessoas que compõem a comunidade e nela desenvolvem suas vidas e esperanças. Todas, em razão da generalização, são tratadas como delinqüentes.
Perigosa percepção. Tanta gente boa e trabalhadora. Sensata. Envolvida, porém, pela violência e por um preconceito generalista e inconseqüente. As questões sociais exigem mais do que armas.
Sente-se, nos episódios do Rio de Janeiro, a ausência de comissões específicas de parlamentares federais. Onde estão os representantes do povo no Congresso Nacional?
Até agora foram incapazes de conceber um grupo para acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos dos órgãos de segurança. Nada, absolutamente nada.
O Judiciário - federal e o estadual - certamente poderia ter instalado juizados nos locais afetados para receber eventuais registros de um Ministério Público até agora aparentemente ausente.
A mesma observação cabe à Defensoria Pública. Onde se encontra este novo órgão concebido pela Constituição de 1988? Há uma ausência das entidades significativas da sociedade.
Só contingentes militares. Nada de atividade social. Pessoas preparadas para enviar mensagens em situações de confronto. Apenas armas. Nenhuma atividade de solidariedade aos bons.
Esquecem os agentes da legítima ação contra os traficantes que há um dia seguinte e este diz respeito à comunidade como um todo. Os habitantes de todas as regiões precisam conviver em harmonia.
É própria das cidades a convivência civil. Aquela que permite a igualdade, ao menos formal, entre as pessoas. As armas são instrumentos transitórios. Pode-se resolver aparentemente um conflito.
Elas, todavia, jamais levam à paz. Esta é conseqüência da harmonia entre pessoas e da busca comum da felicidade. Este anseio não pode ser apenas de alguns. Para ser efetiva necessita ser de todos.
Falta, na fala das autoridades, a exposição do dia seguinte. Como serão tratadas as comunidades? Quais os investimentos a serem efetivados? Como se combaterá a ociosidade oriunda da ausência de escolas e trabalho?
As operações são necessárias em razão da violência atomizada que se espalhou pelo Rio de Janeiro. Mas o extermínio de alguns poderá contentar setores da sociedade. Não resolverá, porém, a questão.
Esta necessita de esforço conjunto de todas as esferas de Governo. Contentar determinados segmentos da sociedade, em detrimento de outros, não é boa política.
A política sadia é desapaixonada. Pensa no bem comum. Esquece diferenças. Compreende que todas as pessoas são iguais e merecem, em conseqüência, tratamento igualitário.
As exposições das autoridades, em grande massa, nas rádios e televisões apontam para o momento. Lembram comandantes de batalhas contra inimigos da Nação.
Jamais se lança palavra apaziguadora e sensata. A comunicação eletrônica, nestes momentos difíceis, deve ser usada para dirigir mensagens positivas à parte que se deseja reintegrar na sociedade.
Caso contrário, todos se tornam bravateiros em busca de fama transitória, Esta se transformará em veredicto histórico. Até hoje, acontecimentos sociais do passado são relembrados.
Aquilo que, no momento, parece heróico mostra-se com o afastamento do tempo patèticamente amargo. Basta reviver Canudos. O Rio de Janeiro é diferente, dirá alguém. Trata-se de criminalidade puro e simples.
É verdade. Mas mesma miséria que gerou inúmeros episódios pelo Brasil afora, no longo dos séculos, se encontra presente nos morros da cidade do Rio.
Valeira a pena pensar em recolher as armas. Procurar a paz. Os brasileiros não podem ser divididos por brasileiros. É preciso buscar - desesperadamente - a união de cada cidadão com o seu conacional.
Assim se construirá o futuro.


Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.
Fonte: Terra Magazine.

GUERRA DO RIO - "Gostem ou não gostem, a vitória foi do Lula".

Hélio Fernandes na Tribuna da Imprensa.Gostem ou não gostem, a vitória foi do Lula. Sem as Forças Armadas, principalmente o equipamento pesado da Marinha, nada teria sido feito. Tristeza, lamento, decepção, ninguém foi preso. Cabralzinho tentou “capitalizar”, não conseguiu.

Helio Fernandes

Foram 10 dias que abalaram o Rio. Desde o meio da semana passada, o ainda presidente Lula decidiu implantar a operação final contra os traficantes do Alemão. São os mais poderosos, os mais abrangentes, que controlavam os morros e as ruas, tinha início a batalha, perdão, a guerra.

Desde o domingo 21, (terminando anteontem, domingo 28) estava plantada a operação federal, comandada e preparada durante três dias pelo próprio Lula. Não se sabia de nada, este repórter só veio a saber dos detalhes no domingo, quase madrugada de ontem. Por isso só conto agora.

Depois de conversar pessoalmente com os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, Lula resolveu dar início à verdadeira operação armada. O presidente nem tomou conhecimento de Nelson Jobim, ele é Ministro da Defesa, mas cada Arma tem o seu Comandante, eles é que decidem. E decidiram diretamente com o presidente.

Basta verificar o fato que foi desprezado antes e que estava bem claro, ninguém concluiu, nem mesmo este repórter, trabalhando intensamente. Os 4 generais que apareceram fardados e não para atividades burocráticas, só falaram durante 5 minutos e desapareceram.

Não apareceram mais, o exibicionismo ficava por conta de Nelson Jobim. Disseram: “Estamos autorizados pessoalmente pelo presidente da República. Ele recomendou que não usemos armas, a não ser numa emergência”.

Esses militares do mais alto escalão, que surgiram para tornar públicas as ordens do presidente, (que constitucionalmente é o “Comandante-em-chefe das Forças Armadas”) desmascararam e desmoralizaram a participação de cabralzinho, que fazia força enorme para se colocar na cúpula de tudo.

Tudo acertado com os três comandantes militares, estabelecidos os mínimos detalhes da operação e da hierarquia, na segunda-feira, dia 22, Lula telefonou para cabralzinho, C-O-M-U-N-I-C-A-N-D-O o que ficara decidido, estabelecido, coordenado com os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica.

Cabralzinho levou um susto, a “inteligência” não o informara de coisa alguma. Quando recebeu o telefonema do presidente, cabralzinho não percebeu que era, tentou primeiro resistir e depois apelar: “Presidente, e a minha posição nisso tudo, como é que fica?”. E Lula, inflexível: “Já decidi tudo com os comandantes militares. Você faz o que achar conveniente, mas a Operação já está montada e será executada”.

Lula, junto com assessores, fazia questão de repetir as mesmas exclamações dos moradores: “Não aguento mais o domínio desses traficantes, será o GRANDE PRESENTE para a população do Rio, que vem sofrendo e sendo castigada por dezenas de anos”.

O presidente cumpriu inteiramente o que planejara, e as Forças Armadas executaram. As declarações mentirosas de cabralzinho (“pedi ao presidente Lula, AJUDA para ACABAR com os traficantes”), provocaram gargalhadas no Planalto.

A perplexidade do presidente se manifestou quando informado de que ninguém foi preso. Assombrado, ainda perguntou o que todo o Rio e o Brasil perguntavam: “Mas não garantiram na véspera, e no dia mesmo da invasão, (domingo, anteontem) que todo o Complexo do Alemão estava cercado, ninguém ENTRAVA ou SAÍA?

O presidente estava disposto a pedir explicações, foi desaconselhado. Achavam, muito justamente, que não era o momento de estimular ressentimentos, acelerar divergências, manifestar descontentamentos pretensamente hierárquicos.

Agora é hora de corresponder à SATISFAÇÃO, à ALEGRIA, ao CONTENTAMENTO do povo. Por exemplo: para onde irão os chefões que fugiram tranquilamente do Alemão? Além da droga, eles controlavam, comandavam e autorizavam os arrastões nas ruas de todo o Rio capital.

Se os arrastões continuarem, a prova de que estão ainda em ação. Se pararem, se não incendiarem mais ônibus e carros, é outra observação. Esse pessoal do Alemão, criou um grupo “especialista” em roubos de carros. Param os motoristas, geralmente de carros mais luxuosos. Perguntam: “Teu carro tem GPS?”. Se a resposta foi afirmativa, dão um tiro na testa do motorista, vão embora, sem levar o carro, facilmente localizável. Se o motorista diz que não tem GPS, mandam ele embora, roubam o carro sem maior atropelo. Roubo com conhecimento da alta tecnologia.

Perguntinha das muitas que envolvem cabralzinho com os traficantes, o crime organizado (?), o Poder paralelo: o TELEFÉRICO que está sendo construído na favela (um avanço para os moradores, se puderem se servir dele) tinha AUTORIZAÇÃO dos SENHORES dos MORROS?

Muitos meses de trabalho, observação, decisões, serão necessários. Como já disse lá em cima, é preciso explicar a fuga de TODOS OS CHEFÕES. E a seguir saber do comportamento deles a partir de ontem, e do tempo que virá.

As tropas das Forças Armadas podem ir embora, desde que o equipamento pesado seja mantido. É que tem que começar imediatamente o estabelecimento SOCIAL e TRABALHISTA de uma política de remuneração dos homens da Polícia Militar.

Conforme mostrei ontem, não podem continuar “recebendo” salários miseráveis, verdadeiramente escravos. Se o deputado Picciani, (derrotado, grande amigo de cabralzinho) é indiciado por EXPLORAÇÃO DE TRABALHO ESCRAVO, o Poder Público não pode cometer o mesmo CRIME.

***

PS – Muita coisa precisa ser explicada ao povão, saber se foi ESQUECIMENTO premeditado ou puro equívoco.

PS2 – Exemplo: sempre se soube e se divulgou, que no Complexo do Alemão, moram 400 mil pessoas. Ontem, oficialmente foi divulgado: “No Complexo do Alemão existem 13 mil residências, que serão vasculhadas nos próximos dias”.

PS3 – Alguma coisa não confere: 400 mil pessoas em 13 mil residências, aritmética e socialmente, dá 31 habitantes por cada casa de favelado. Mesmo para esse tipo de “moradia e moradores”, é impossível.

PS4 – Informação gravíssima, que deve ser apurada, investigada, punida: “Empreiteiras teriam construídos sofisticados túneis subterrâneos, por onde os bandidos fugiram”. Essas empreiteiras são as que TRABALHAM na construção do teleférico? Pode ser mais uma explicação para o acordo bandidos-governo-do-Estado-do-Rio.

PS5 – Detalhes bizarros e bizonhos que devem ser ressaltados. A televisão mostrou uma casa (APENAS UMA CASA) de luxo, e insistiam; “TEM ATÉ PISCINA”. Ha!Ha!Ha! A piscina é o mais barato numa casa. É só estabelecer o tamanho da piscina.

PS6 – Cavam um buraco, revestem, enchem de água e pronto. A penúltima casa do Leblon, com apartamentos já vendidos por 7 milhões e meio, com piscinas que não custam 1 por cento desse valor. No luxo da Barra, casas de 10 milhões, o preço da piscina, na mesma proporção.

PS7 – A piscina mostrada na televisão, é apenas um tanque. Mais tarde botaram dois garotos brincando ali, ficou visível a falta de conhecimento geral. E os T-R-A-F-I-C-A-N-T-E-S, ONDE ESTÃO?

POLÍTICA - O Quinta coluna Jobim.

O pior é que parece que a Dilma vai manter este tucano no governo.

WikiLeaks apresenta: Jobim, o quinta coluna.


A Folha de S. Paulo de hoje traz uma reportagem do Fernando Rodrigues a partir dos arquivos do WikiLeaks que dá bem a dimensão quão confiável é o nosso ministro da Defesa.

Enquanto o Itamaraty não falava grosso com a Bolívia e fino com os EUA, Nelson Jobim fazia o papel de porta-recados para o embaixador do Tio Sam. E criticava nossa política externa.

Entre uma conversinha e outra com o gringo de plantão, provavelmente ainda dava uma telefonada para o Serra para se gabar de sua coragem extrema.

Veja dois trechos da matéria da Folha:

“Telegramas confidenciais de diplomatas dos EUA indicam que o governo daquele país considera o Ministério das Relações Exteriores do Brasil como um adversário que adota uma ‘inclinação antinorte-americana’.
Esses mesmos documentos mostram que os EUA enxergam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, como um aliado em contraposição ao quase inimigo Itamaraty.”

“Num dos telegramas, de 25 de janeiro de 2008, o então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, relata aos seus superiores como havia sido um almoço mantido dias antes com Nelson Jobim. Nesse encontro, o ministro brasileiro contribuiu para reforçar a imagem negativa do Itamaraty perante os norte-americanos.
Indagado sobre acordos bilaterais entre os dois países, Jobim citou o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães.
Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, “Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países].”

O pessoal que faz o Vila Vudu tem me enviado emails com o título: Só o WikiLeaks salva! Acertaram na mosca. Ele pode vir a nos salvar de um ministro mais serrista do que muito tucano envergonhado.

Seria uma vergonha para o governo mantê-lo no cargo depois dessa, ondeficou claro qual o papel que desempenha no governo, o de quinta coluna da política externa brasileira.

Fonte: Blog do Rovai.

GUERRA DO RIO - Necessário controlar a corrupção de policiais.

Sem controlar a corrupção de policiais, o crime ainda continuará


"Sem controlar a corrupção na polícia e sem interromper a chegada das armas, provavelmente seremos obrigados a perder outros domingos assistindo a operações policiais heroicas pela televisão", analisa Michel Misse, chefe do Departamento de Sociologia da UFRJ e coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 29-11-2010.

Eis o artigo.

Vejo ainda agora, nesta tarde de domingo, os repetidos lances de uma histórica operação policial e militar, nos morros que cercam parte dos bairros da Penha e Olaria.

Canais de televisão transmitem, à náusea, as declarações de comandantes, delegados, secretários, comentaristas, repórteres e especialistas, informando-nos do momento histórico.

Uma força de 2.700 homens apreendeu grande quantidade de maconha, um bom número de armas e conseguiu a rendição de criminosos, naquela que já é apresentada como a "conquista do Alemão".

Não é a primeira vez que a polícia carioca adentra a região. Mas é certo que nunca antes uma ação policial nesta área contou com tão grande número de policiais e com o inédito apoio de blindados.

Da última vez que houve ação no Alemão, há quase três anos, para iniciar as obras do PAC, foram mortos 19 suspeitos. Desta vez, a operação tem sido conduzida com mais cuidado.

A cobertura midiática, que transmitiu o recado, não poderia tolerar outra alternativa que não esta, embora muitos telespectadores tenham torcido para um extermínio em massa dos criminosos.

Muitos ainda se perguntam se foi um golpe mortal no tráfico do Rio. Penso que não.

Nos últimos dois anos, só no Alemão, foram apreendidas 1.070 armas, efetuadas 1.200 prisões e 270 suspeitos mortos pela polícia.

Mas pode-se dizer que é a primeira vez que há uma "conquista de território" pelo Estado. Não é bem verdade e não se sabe se essa "conquista" será por muito tempo.

Trago essas questões não para diminuir a importância da operação, mas para argumentar para a complexidade de um problema que pode estar sendo reduzido a roteiro de filme de ação.

A reprodução e fortalecimento do tráfico de varejo no Rio sempre dependeram da oferta de proteção de policiais corruptos às redes de facções. Como também do tráfico de armas, que não é operado por amadores nem pelos traficantes de drogas que abastecem os morros.

Sem controlar a corrupção na polícia e sem interromper a chegada das armas, provavelmente seremos obrigados a perder outros domingos assistindo a operações policiais heroicas pela televisão.

Fonte:IHU

GUERRA DO RIO - Criminosos já estavam arrasados.

Criminosos já estavam arrasados, diz mediador.


Há 17 anos na mediação de conflitos em favelas do Rio, José Júnior, 41, coordenador do Grupo AfroReggae, tentou convencer traficantes do Complexo do Alemão a deporem as armas, tendo como interlocutores lideranças que defendiam seu assassinato.

A entrevista é de Plínio Fraga e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 29-11-2010.

Cartas apreendidas em agosto no presídio de Catanduvas (PR), destinadas a chefes do Comando Vermelho, pediam autorização para matá-lo. A polícia acredita que os autores foram os traficantes Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, e Fabiano Atanásio da Silva, o FB.

"Posso ser mal interpretado e é tudo o que os reacionários querem ouvir: eu não queria que os bandidos morressem. Não é um exercício de generosidade, bondade, mesmo com pessoas que tramaram contra mim e que poderiam me pegar como refém", disse.

Júnior diz como encontrou os traficantes: "O governo cansou os caras. Encontrei um grupo arrasado emocionalmente. Não demonstravam interesse no confronto."

Eis a entrevista.

Por que traficantes queriam matá-lo?

O que motivou a carta foram mediações que fizemos. 99% do que a carta diz é verdade no que diz respeito ao Afroreggae. Duas pessoas ficaram muito incomodadas. Uma delas havia me ajudado a mediar muitas coisas. Até enviar a carta, foi para mim um facilitador para mediar muitos conflitos. Foi uma decepção. Não que não esperasse uma coisa dessas do crime, mas dessa pessoa. Quando vem de alguém que você tem contato, que, mesmo sendo bandido, sempre teve uma postura de não ir para o confronto, gera uma decepção muito grande. Depois disso, acontecem esses ataques. E, por eu estar como alvo, sabia que, se a carta chegasse ao Marcinho VP, líder do CV na cadeia, ele não autorizaria que me matassem. Acho que ele não autorizou esses ataques também. Foi coisa de algumas pessoas do tráfico, não de todas.

Como decidiu ir negociar a rendição?

No início, me senti desmotivado a mediar por ser alvo. Anteontem recebi recados. Foram três telefonemas perguntando se existiria possibilidade de negociação. Eu disse que só a rendição completa e total. "Não existe uma alternativa?", me perguntou um deles. Primeiro, disse que não me cabia isso. Havia falado com o Allan Turnovski [diretor de Polícia Civil]. Ele disse que a polícia garantia que não esculacharia nem mataria ninguém, se eles se entregassem sem confronto.

Os traficantes, ficou claro agora, não queriam confronto. Sempre que fui mediar, nunca tinha sido alvo. Meus amigos policiais diziam que eu não deveria ir ao Alemão. Já que havia uma bronca contra mim.

Minha ida lá foi porque os moradores me pediam o tempo todo, os traficantes me pediam também. Posso ser mal interpretado e é tudo o que os reacionários querem ouvir: eu não queria que os bandidos morressem. A verdade é essa. Não é um exercício de generosidade, bondade, mesmo com pessoas que tramaram contra mim e que poderiam me pegar como refém. Eu fui para o risco. Deixei um e-mail até para o governador dizendo que eles não tinham responsabilidade e que eu assumia o risco.

O que encontrou?

O governo cansou os caras. Inteligentemente. Encontrei um grupo arrasado emocionalmente. Eles não demonstravam interesse no confronto naquele momento. Eu disse que a polícia tinha interesse de prender todos vivos, sem confronto.

Estavam conscientes do aparato militar. Foquei muito na vida e na morte. Disse que, se eles atacassem, iriam morrer. Fui falar das alternativas que tinham: se entregar ou se entregar. Abandonar as armas. É bom deixar claro o que é esta negociação. Não propusemos nada em troca.

Quando eles disseram que não se entregariam?

Ninguém falou isso. Várias pessoas se entregaram. Os caras tentam fugir. Não deu, se entregam.


Fonte:IHU

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

GUERRA DO RIO - "Vejo uma regressão ao momento do Tropa 1".

Entrevista com Luiz Eduardo Soares


O antropólogo Luiz Eduardo Soares, autor de Cabeça de Porco e Elite da Tropa 1 e 2, vê de forma positiva a operação de ontem no Complexo do Alemão, mas considera o debate sobre segurança "enviesado".

A entrevista é de Bruno Paes Manso e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Eis a entrevista.

Como o senhor avalia a operação de ontem no Alemão?

O trabalho está sendo feito com prudência e teve resultados positivos. O fato de parte dos suspeitos ter fugido diluiu a resistência e evitou um banho de sangue. A chegada do Estado ao complexo abre espaço para o avanço de políticas sociais que estavam sendo preparadas. Por outro lado, pode frustrar parte da opinião pública que esperava uma batalha final, uma espécie de desembarque na Normandia. E isso porque o tom da cobertura está equivocado.

Como o sr. avalia a cobertura?

O que mais me chocou foi o tom triunfalista nas TVs e revistas. Um dia de cão como quinta-feira apareceu como um dia histórico, de vitórias e grandes conquistas. As imagens, chocantes, contradiziam esse discurso. Mostravam as polícias entrando na Vila Cruzeiro e completavam: "Ninguém foi preso". A polícia não existe no Rio e tem sido parceira e sócia do crime. Não fosse esse apoio, o tráfico não teria alcançado o patamar atual. A banda podre é uma orquestra. É urgente reformá-la.

O sr. acha que existe um efeito pós-Tropa de Elite na forma como as pessoas estão assistindo a essas cenas?

Sinto uma regressão ao Tropa de Elite 1. O filme que agora está sendo projetado na cabeça da população é o primeiro. Era o momento de confronto entre polícia e tráfico, com o protagonismo do Bope e toda a polaridade entre bem e mal. Já o Tropa 2 é mais amargo, difícil de digerir porque traz questões mais complexas, mostra que o verdadeiro problema é outro.

Parece estranho ver o oficial que inspirou o Capitão Nascimento, Rodrigo Pimentel, também seu parceiro nos livros, comentando as ações do Bope diariamente. Como o senhor vê o desempenho dele?

O Pimentel, quando era policial, teve uma trajetória lúcida, crítica, e sempre se preocupou em refletir sobre a polícia. Por ser crítico e eloquente, acabou tendo a carreira trincada, foi preso e punido, situação que o conduziu a outro caminho na vida civil. Mas é natural que ele tenha o coração dividido porque tem amigos no Bope e há algo do caveira que continua. Afinal, ele passou por todos aqueles ritos de passagem. De um lado, há o espírito crítico; de outro, a identificação com sua própria trajetória. Isso pode contaminar as opiniões dele. Mas muito menos que os limites que a própria emissora estabelece por meio de sua linha editorial.

As questões essenciais estão passando ao largo?

Mais que passar ao largo, está havendo uma inversão das prioridades. Nós, em geral, pensamos pelo filtro do bem e do mal, do maniqueísmo mais simples, os mocinhos como oponentes dos bandidos, que seriam os maus. De um lado os policiais, de outro os traficantes. Ocorre que, no dia a dia, ao longo desse processo, essa distinção não existe. O tráfico tem essa dimensão por causa do apoio da polícia, que domina comunidades por meio das milícias.


Fonte:IHU

HISTÓRIA - Centenário da morte de Leon Tolstói

Centenário de morte de Leon Tolstói, mestre de Gandhi

Leonardo Boff *

Ocupando lugar central da sala de estar de minha casa há impressionante quadro de um pintor polonês mostrando Tolstói (1828-1910) sendo abraçado pelo Cristo coroado de espinhos. Ele está vestido como um camponês russo e parece extuado como a simbolizar a humanidade inteira chegando finalmente ao abraço infinito da paz depois de milhões de anos ascendendo penosamente o caminho da evolução. Foi um presente que recebi do então Presidente da Assembleia da ONU Miguel d’Escoto Brockmann, grande devoto do pai do pacifismo moderno. No dia 20 de novembro celebrou-se o centenário de sua morte em 1910. Ele merece ser recordado não só como um dos maiores escritores da humanidade com seus romances Guerra e Paz (1868) e Anna Karenina (1875) entre outros tantos, perfazendo 90 volumes, mas principalmente como um dos espíritos mais comprometidos com os pobres e com a paz, considerado o pai do pacifismo moderno.

Para nós teólogos, conta especialmente o livro O Reino de Deus está em vós escrito depois de terrível crise espiritual quando tinha 50 anos (1978). Frequentou filósofos, teólogos e sábios e ninguém o satisfez. Foi então que mergulhou no mundo dos pobres. Foi ai que redescobriu a fé viva "aquela que lhes dava possibilidade de viver". Tolstói considerava esta obra a mais importante de tudo o que escreveu. Seus famosos romances tinha-os, como confessa no Diário de 28/20/1895, "conversa fiada de feirantes para atrair fregueses com o objetivo de lhes vender depois outra coisa bem diferente". Levou três anos para terminá-la (1890-1893). Saiu no Brasil pela Editora Rosa dos Tempos (hoje Record) em 1994, com bela introdução de Frei Clodovis Boff, mas infelizmente esgotada.

O Reino de Deus está em vós, logo traduzido em várias línguas, teve enorme repercussão, gerando aplausos e acirradas rejeições. Mas a maior influência foi sobre Gandhi. Mergulhado também em profunda crise espiritual, acreditando ainda na violência como solução para os problemas sociais, leu o livro em 1894. Causou-lhe uma abissal comoção:"a leitura do livro me curou e fez de mim um firme seguidor da ahimsa (não violência)". Distribuía o livro entre amigos e o levou para a prisão em 1908 para meditá-lo. O apóstolo da "não-violência ativa" teve como mestre a Leon Tolstói. Este foi excomungado pela Igreja Ortodoxa e o livro vetado pelo regime czarista.

Qual a tese central do livro? É a palavra de Cristo: "Não resistais ao mal" (Mt 5,39). O sentido é: "Não resistais ao mal com o mal". Ou não respondais a violência com violência. Não se trata de cruzar os braços, mas de responder à violência com a não-violência ativa: com a bondade, a mansidão e o amor. Em outra forma: "não revidar, não retaliar, não contra-atacar, não se vingar". Estas atitudes verdadeiras possuem uma força intrínseca invencível como ensina Gandhi. Para o profeta russo tal preceito não se restringe ao cristianismo. Ele traduz a lógica secreta e profunda do espírito humano que é o amor. Toca no sagrado que está dentro de cada um. Por isso o título do livro O Reino de Deus está em vós.

Gandhi traduziu a nao-violência tolstoiana como não-cooperação, desobediência civil e repúdio ativo a toda servilidade. Tanto ele como Tolstói sabiam que o poder se alimenta da aceitação, da obediência cega e da submissão. Porque tanto o Estado quanto a Igreja exigem estas atitudes servis, desqualifica-as de forma contundente. São instituições que tolhem a liberdade, atributo inalienável e definitório do ser humano. No frontispício do livro lemos a frase de São Paulo:"não vos torneis servos dos homens"(1Cor 7,23).

Para Tolstói o cristianismo é menos uma doutrina a ser aceita do que uma prática a ser vivida. Ele está à frente e não atrás. Para trás parece que faliu. Mas à frente é uma força que não foi ainda totalmente experimentada. E é urgente praticá-la Profeticamente Tolstói percebia a irrupção de guerras violentas, como, de fato, ocorreram. A casa está pegando fogo e não há tempo para se perguntar se é preciso sair ou não.

Tolstói tem uma mensagem para o momento atual, pois os grandes continuam acreditando na violência bélica para resolver problemas políticos no Iraque e no Afeganistão. Mas outros tempos virão. Quando o pintinho já não pode mais ficar no ovo, ele mesmo rompe a casca com o bico e então nasce. Assim deverá nascer uma nova era de não-violência e de paz.

Fonte: ADITAL

ANOS DE CHUMBO - Os corpos de Vila Formosa.

Por Ivonildo Dourado

Ativistas apontam buscas em Vila Formosa como avanço de direitos humanos e de combate à tortura

Por: João Peres, Rede Brasil Atual


Duas frentes de escavações foram iniciadas nesta segunda-feira.

São Paulo – Ativistas de movimentos de defesa dos direitos humanos e familiares de desaparecidos políticos da ditadura militar comemoram o início das buscas por corpos no cemitério de Vila Formosa, na zona leste de São Paulo (SP). A procura no local, onde foram enterrados perseguidos políticos mortos pela tortura, foi iniciada nesta segunda-feira (29) e deve seguir pelo menos até o final desta semana.

Para Maria Auxiliadora Arantes, coordenadora-geral de Combate à Tortura da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o fato marca um importante passo no combate à tortura. "O resgate do passado é importante no sentido de que, em algum momento, possamos dar um basta (na tortura)", pontua.

"A tortura é uma forma ética e politicamente condenável. A permanente batalha contra a tortura é do campo da política e da memória e também da ética humana", defende Maria Auxiliadora. Além da Secretaria, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Instito Médico Legal participam das buscas.

O presidente da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Rodrigues Barbosa, considera que se trata de uma oportunidade para o país fechar um ciclo da história. "O Estado brasileiro tem o dever de fazer isso (buscar corpos de desaparecidos). A importância é de que as pessoas tenham o direito humano fundamental de enterrar seus parentes", insistiu.

O cemitério de Vila Formosa foi usado para enterrar presos políticos mortos em sessões de tortura durante o regime militar. Assim como ocorreu com o cemitério de Perus, onde uma vala comum foi descoberta em 1991, as buscas são parte da tentativa de se identificar ossadas.

Como o cemitério sofreu alterações desde a década de 1970 – segundo ativistas, com a finalidade de dificultar a localização dos jazigos de mortos pela ditadura – a tarefa é especialmente complexa. O primeiro local de escavações é o de uma estrutura de concreto de nove metros quadrados, localizada por equipamentos sonares. Acima desse objeto, pelo menos uma laje foi construída posteriormente, mas pode haver outras camadas de concreto.

Além da dificuldade de localização, é possível que o material não possa ser identificado, dependendo das condições de acondicionamento dos ossos – o que pode impedir a preservação do material genético. Ainda que não seja possível averiguar quem são as pessoas, a expectativa é que se possa, pelo menos, pressionar autoridades pela criação de um memorial das vítimas do regime autoritário no Brasil.

Comandante Jonas

Um dos corpos buscados é o de Virgílio Gomes da Silva, conhecido como Comandante Jonas, da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Em 1968, ele participou do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick. No ano seguinte, foi preso, torturado e morto por agentes do regime militar. Por documentos históricos, sabe-se que ele foi enterrado em uma vala clandestina na quadra 47 de Vila Formosa.

A viúva de Virgílio, Ilda Gomes da Silva, esteve no cemitério, mas não se manifestou sobre a esperança de localização do corpo do marido. Questionada por jornalistas se a busca poderia trazer conforto, ela respondeu: "Conforto nunca será. Teria se ele estivesse vivo ao nosso lado. Mas pelo menos vai ter um lugar para pôr uma flor, prestar uma homenagem".

Nesta segunda-feira (29), no que é considerada a segunda frente de buscas, os peritos encontraram o fim da quadra onde o corpo de Virgílio foi ocultado. Espera-se que o início dela seja descoberto nesta terça-feira (30). A área foi uma das que sofreu modificações desde o período autoritário.

Fonte: Luis Nassif

EUA - Posição da ultradireita republicana.

Ultradireita republicana declara guerra a governos de esquerda.

No dia 15 de novembro, representantes da ultradireita republicana e de partidos e organizações direitistas de países da América Latina se reuniram no Congresso dos EUA, em Washington, para organizar ações contra os governos de esquerda da região. O título do encontro era "Perigo nos Andes: ameaças à democracia, aos direitos humanos e à segurança interamericana". Os principais alvos dos direitistas republicanos são Cuba, Nicarágua, Venezuela, Bolívia e Equador.

Por Niko Schvarz, para o La República (Uruguai)

O encontro, realizado nos salões da Câmara de Representantes, foi caracterizado como uma declaração de guerra contra esses governos da nova América Latina. Os congressistas anfitriões republicanos fizeram o convite sob o alento das eleições de 2 de novembro, que lhes deu o controle da Câmara de Representantes, desbancando os democratas. E ficou claro que aspiram conduzir o governo a um enfrentamento aos governos mencionados, particularmente os da Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua (foi apresentada uma moção pedindo sua expulsão da OEA) e, é claro, Cuba. O título do encontro era "Perigo nos Andes: ameaças à democracia, aos direitos humanos e à segurança interamericana".

Quem deu a tônica foi a congressista Ileana Ros-Lehtinen, da máfia anticubana de Miami, que passará a presidir a Comissão de Relações Internacionais da Câmara de Representantes.

Ela disse que "agora, mais que nunca, é o momento de os Estados Unidos apoiarem seus amigos" e cooperar "com seus sócios na região para enfrentar o declínio das liberdades democráticas e os direitos humanos" por parte dos governos de Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador.

É preciso lembrar que a congressista apoia furiosamente o bloqueio contra Cuba e conclamou algumas vezes pela eliminação de Fidel Castro, interveio a favor de um indulto e da libertação do terrorista Orlando Bosch (responsável junto a Posada Carriles, entre outros atos, da explosão do avião da Cubana de Aviación em 1976) e apoiou o golpe de estado em Honduras.

Junto a ela estava Connie Mack, republicano pela Florida e próximo chefe do subcomitê de Relações Exteriores para o Hemisfério Ocidental (ou seja, que se ocupará especialmente da América Latina), que esboçou seu programa de ação nestes termos: "Espero que agora, que teremos uma nova maioria, enfrentemos de maneira frontal a Chávez, que é uma ameaça para a democracia na América Latina e o mundo". (O presidente venezuelano acaba de denunciar um plano para assassiná-lo, para o qual há cerca de US$ 1 milhão disponíveis para executar o conluio).

Entre os think-tanks organizadores deste sabá de feiticeiras ou reunião de bruxos no Capitólio se encontra a Fundação Heritage, da qual são membros proeminentes Otto Reich e Roger Noriega, que também puseram lenha no fogo. São dois velhos urubus, papagaios da política intervencionista dos EUA na América Latina. Otto Reich foi enviado especial para a América Latina do ex-presidente George W. Bush e Noriega foi vice-secretário de Estado para a região do mesmo presidente, o que acentua a convicção de que o objetivo do conclave é ressucitar a política do antecessor de Barack Obama e relação à nossa América.

Otto Reich apoiou o fracassado golpe de Estado de abril de 2002 na Venezuela e contribuiu para a legitimação do golpe em Honduras, em junho de 2009. Quanto ao cubano-estadunidense Roger Noriega, integrante de uma confraria com Otto Reich e o conhecido John Negroponte, foi embaixador dos Estados Unidos na OEA, esteve diretamente envolvido com o escândalo da operação Irã-Contras na Nicarágua e também na guerra civil em El Salvador no princípio dos anos 1980, junto aos esquadrões da morte e no assassinato de vários religiosos.

O cartel de participantes foi completado com personagens como: Luis Núñez, presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Bolivia, que promove a secessão desse departamento boliviano e integrou a conspiração paramilitar que projetou o assassinato de Evo Morales e terminou há dois anos com a morte do conspirador húngaro-croata Eduardo Rózsa Flores; o ex-presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada, responsável da Guerra do Gás, de outubro de 2003 e as sequelas de sua sangrenta repressão e que está fugido nos Estados Unidos, país que se nega a extraditá-lo para a Bolivia; o ex-candidato presidencial e ex-governador boliviano Manfred Reyes Villa, fugitivo da justiça; Guillermo Zuloaga, proprietário do canal venezuelano Globovisión, acusado de corrupção, também fugitivo da justiça e radicado em Miami.

Não podia faltar, é claro, a 'benemérita' Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), em cujo nome falou o presidente em fim de mandato Alejandro Aguirre. Esta lista está longe de ser exaustiva.

O embaixador venezuelano nos Estados Unidos, Bernardo Álvarez, disse com razão que esta reunião evidencia que em Washington há quem queira "apagar a luz das novas democracias latino-americanas", que a extrema direita da América Latina conta com o apoio de setores ppolíticos do país do norte do continente para "frear os ares integrantes que sopram na Pátria Grande" e que a "ideia é voltar ao cenário de desestabilização, mas este cenário está condenado ao fracasso".

Documento de Sante Fé

A Heritage Foundation, uma das organizadoras do conclave, é a mesma que, junto com o Grupo de Santa Fé (capital do Novo México) elaborou em maio de 1980 o Documento de Santa Fe 1, dirigido a Ronald Reagan e que continha as linhas mestras de um plano para o domínio unilateral da América Latina. Às vésperas da posse de George W. Bush, surgiu em janeiro de 2001 o 4º Documento de Santa Fe, que revive a Doutrina Monroe, com seu componente abertamente intervencionista e coloca em primeiro plano o poderio militar dos EUA. É com estes antecedentes que a Heritage Foundation participou na reunião do Capitólio.
Fonte: O Vermelho.

BLOGS - Como fica a mídia se Lula se tornar blogueiro?

Carlos Castilho: como fica a mídia se Lula se tornar blogueiro?

Caso o presidente Lula leve adiante a sua ideia de ingressar na blogosfera logo depois de passar o governo em janeiro, esta decisão representará a transformação da internet brasileira numa nova arena partidária, com muitas chances de ofuscar os debates parlamentares e reduzir ainda mais o papel da imprensa na mediação com o público.

Por Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa

A entrevista de Lula a blogueiros, no dia 25 de novembro, pode ser vista como o primeiro passo concreto nesta direção, marcando um novo espaço político onde o presidente vai interagir diretamente com os internautas, passando ao largo do seu próprio partido. Pode ser o que um amigo definiu como “Lula em estado puro”, sem o protocolo presidencial e sem os entraves institucionais.

Caso ele aprenda a manejar os segredos de um blog e do Twitter, o presidente poderá voltar ao estilo conversa em “porta de fábrica” que lhe trouxe tanta popularidade. Só que agora usando o espaço cibernético, cujo alcance é muitíssimo maior do que o megafone dos seus tempos de sindicato.

Se Lula inaugurou um novo estilo de governar durante os seus oito anos de presidente, ele agora pode promover mais uma inovação, ao criar um novo modelo de fazer política, sem a mediação da imprensa e dos partidos políticos. O contexto lhe é muito favorável já que vai sair do Planalto com a popularidade em alta e, mesmo fora do governo, tudo o que disser acabará na agenda política nacional, com ou sem blog.

É inevitável. Se não for Lula, pode ser qualquer outro político a empunhar o computador como ferramenta de comunicação, da mesma forma que Brizola usou a rádio para projetar-se no cenário político nacional, nos idos de 1961.

O ingresso de políticos na blogosfera é apenas uma questão de tempo, porque o sistema oferece vantagens demasiado atraentes para serem desprezadas. Para os políticos é uma plataforma barata e eficientíssima, por conta de seu alcance universal. Para o cidadão é ainda mais atraente porque lhe dá a possibilidade de intervir no debate, coisa que até agora era inviável.

Durante a campanha eleitoral de 2010, a blogosfera entrou em transe por conta das discussões contra e a favor de Lula. Vocês já imaginaram o que acontecerá quando e se o próprio Lula começar a postar sobre tudo e sobre todos?

Há, no entanto, uma outra cara da moeda. A polarização inevitavelmente gera uma guerra informativa em que a verdade é sempre a primeira vítima. Já tivemos um pouco disso na última campanha eleitoral, mas o fenômeno pode se tornar ainda mais intenso, caso a polêmica entre lulistas e antilulistas se transfira de corpo e alma para o espaço cibernético, onde as limitações são muito menores.
Fonte: Observatório da Imprensa.

EUA - Embaixadas funcionam como centros de espionagem.

Embaixadas funcionam como centros de espionagem dos EUA.

As embaixadas dos Estados Unidos na América Latina funcionam como centros de vigilância por ordens do Departamento de Estado, segundo revelaram os documentos secretos publicados no domingo (28) pelo site WikiLeaks, que revelam os "esforços" de Washington em isolar diplomaticamente o presidente venezuelano e pedem informações sobre a saúde mental da presidente argentina.
Segundo revelam os 250 mil documentos vazados pelo site, alguns comunicados revelam os "esforços para cortejar países da América Latina para isolar o venezuelano Hugo Chávez".

Das 251 mil mensagens reveladas pelo WikiLeaks, 4.155 se referem à Venezuela, apontou o jornal britânico The Guardian.

Do mesmo modo se menciona nos documentos "as suspeitas que a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, desperta em Washington, a ponto de que a Secretaria de Estado chega a pedir informações sobre seu estado de saúde mental".

Em todos os documentos, estão em evidência "as pressões permanente que se exercem sobre os diferente governos, desde o Brasil à Turquia, para favorecer os interesses comerciais ou militares dos Estados Unidos".

O comportamento de algumas embaixadas é quase de caso de polícia, e a solicitação do Departamendo de Estado a sua embaixada em Assunção é uma exemplo disso, acumulando dados físicos dos aspirantes à presidência do Paraguai nas eleições de abril de 2008.

Uma das mensagens publicados contém dados biométricos, impressões digitais, fotografias, escanerização de íris, dados do ADN e "outras singularidades" da então ministra da Educação, Blanca Ovelar, do ex-vice-presidente Luis Alberto Castiglioni, do ex-general Lino Oviedo e de Fernando Lugo, atual presidente.

A Secretaria de Estado solicita informação a sua delegação em Assunção sobre a corrupção oficial, a lavagem de dinheiro, as relações do Paraguai com a Cuba, Venezuela, China, Taiwan e Rússia.

Um ponto que chama a atenção é a soicitação de informação sobre a existência de jazidas de hidrocarburetos na região do pantanal paraguaio.

Da mesma forma, solicita-se informação sobre a construção de mesquitas no país, que faz fronteira com Argentina, Brasil e Bolívia.

A informação desejada pelo Departamento de Estado alcança todos os aspectos da política, da economia e das relações sociais latino-americanas.

Reações

A correspondente da TeleSur em Washington, Aurora Sampeiro, reportou que o governo e os cidadãos dos Estados Unidos reagiram de modo diverso diante da revelação de mais de 250 mil documentos.

Segundo a correspondente, o feriado de Ação de Graças comemorado no fim de semana teve influência na velocidade de resposta dos cidadãos, que tendem à passividade ante os temas políticos do país, e geralmente adotam a versão oficial de seu governo.

"Neste domingo recebemos comunicados do Pentágono, da Casa Branca e do Departamento de Estado dirigidos a reverter os danos que o vazamento teoricamente ocasionou aos Estados Unidos, que já vinha fazendo comunicados tentando antecipar a publicação dos arquivos secretos, dizendo que os documentos eram falsos".

A diferença fundamental, segundo Aurora, entre os primeiros vazamentos da WikiLeaks e o atual, é que pela primeira vez foram revelados assuntos que envolvem outros países em relação à política externa dos EUA.

Da redação, com agências
Fonte: O Vermelho.

EUA - A indústria dos planos de saúde.

A indústria dos planos de saúde contra Michael Moore

Depois da realização do documentário "Sicko", uma denúncia contra o sistema privado de saúde nos Estados Unidos, executivos de empresas de planos de saúde decidiram desencadear um plano contra o trabalho de Michael Moore. Um estudo recente da Faculdade de Medicina de Harvard indicou que quase 45 mil estadunidenses morrem anualmente (um a cada doze minutos) principalmente porque não têm seguro de saúde. Mas para o grupo de pressão das empresas, a única tragédia seria a possibilidade de uma verdadeira reforma do sistema de saúde. O artigo é de Amy Goodman.

Amy Goodman – Democracy Now

Michael Moore, ganhador do Oscar como melhor documentarista, faz excelentes filmes que, em geral, não são consideradas obras de suspense que gerem a sensação de estar “à beira do abismo”. Tudo isso poderia mudar a partir de uma denúncia feita por um informante do noticiário de Democracy Now, segundo a qual executivos de empresas de planos de saúde pensaram que talvez fosse necessário por em marcha um plano para “atirar Moore pelo precipício”.

O informante era Wendel Potter, ex portavoz da gigante dos planos de saúde Cigna. Potter mencionou uma reunião de estratégia industrial na qual se tratou do tema de como responder ao documentário “Sicko”, de Michael Moore, produzido em 2007, filme que critica a indústria de seguros de saúde dos Estados Unidos. Potter me disse que não estava seguro da gravidade da ameaça, mas acrescentou em tom inquietante: “Ainda que não tenham pensado em fazer isso literalmente, para ser honesto, quando comecei a fazer o que estou fazendo, temi por minha própria saúde e bem estar; talvez tenha sido paranoia, mas essas empresas jogam para ganhar”.

Moore ganhou um Oscar em 2002 com seu filme sobre a violência armada intitulado “Bowling for Columbine”. Logo depois fez “Fahrenheit 9/11”, um filme sobre a presidência de George W. Bush que se transformou no documentário de maior arrecadação na história dos Estados Unidos. Quando Moore disse a um jornalista que seu próximo trabalho seria sobre o sistema de saúde estadunidense, a indústria de planos de saúde tomou nota.

A associação comercial Planos de Seguro de Saúde dos Estados Unidos (AHIP, na sigla em inglês), principal grupo de pressão das empresas do setor, teve um enviado secreto na estreia mundial de “Sicko” no Festival de Cannes, na França. O agente saiu rapidamente da estreia e foi participar de uma teleconferência com executivos da indústria, entre eles Potter.

“Tínhamos muito medo”, disse Potter, “e nos demos conta de que teríamos que desenvolver uma campanha mais sofisticada e cara para conseguir rechaçar a ideia da cobertura de saúde universal. Temíamos que isso realmente despertasse a opinião pública. Nossas pesquisas nos diziam que a maioria das pessoas estava a favor de uma intervenção maior do governo no sistema de saúde”.

A AHIP contratou uma equipe de relações públicas, APCO Worldwide, fundada pelo poderoso escritório de advogados Arnold & Poter, para coordenar a resposta. A APCO formou o falso movimento de base de consumidores “Health Care America” para contrapor a prevista popularidade de “Sicko”, o filme de Moore, e para gerar medo em torno do chamado “sistema de saúde dirigido pelo governo”.

Em seu recente livro “Deadly Spin: An Insurance Company Insider Speaks Out on How Corporate PR is Killing Health Care and Deceiving Americans” (Giro mortal: um informante explica como as relações públicas das empresas de seguros estão acabando com o sistema se saúde e enganando os estadunidenses) Potter escreve que se encontrou “com um filme muito comovedor e eficaz na hora de condenar as práticas das empresas privadas de seguros de saúde. Várias vezes tive que fazer um esforço para conter as lágrimas. Moore conseguiu entender bem qual é o problema”.

A indústria de seguros anunciou que sua campanha contra “Sicko” havia sido um rotundo sucesso. Potter escreveu: “AHIP e APCO Worldwide conseguiram introduzir seus argumentos na maioria dos artigos sobre o documentário quando nenhum jornalista havia investigado o suficiente para descobrir que as empresas tinham fornecido a maior quantidade de dinheiro para a criação da Health Care America. De fato, todos, desde a cadeia de notícias CNN até o jornal USA Today, referiram-se a Health Care America como se fosse um grupo legítimo.

O jornal New York Times publicou um artigo, uma espécie de resenha de “Sicko”, na qual citava o porta voz da Health Care America dizendo que isso representava um passo na direção do socialismo. Nem esse jornalista, nem nenhum outro que tenha visto, tentaram tornar público que, de fato, este movimento estava financiado em grande medida pelas empresas de seguro da saúde.

Moore disse que Potter era o “Daniel Ellsberg dos Estados Unidos corporativo”, uma referência ao famoso informante do Pentágono cujas revelações ajudaram a por fim à guerra do Vietnã. A corajosa postura de Potter gerou um impacto no debate, mas a indústria dos planos de saúde, os hospitais e a Associação Médica Estadunidense continua debilitando os elementos do plano que ameaça os seus lucros.

Um estudo recente da Faculdade de Medicina de Harvard indicou que quase 45 mil estadunidenses morrem anualmente (um a cada doze minutos) principalmente porque não têm seguro de saúde. Mas para o grupo de pressão das empresas, a única tragédia seria a possibilidade de uma verdadeira reforma do sistema de saúde. Em 2009, as maiores empresas do setor destinaram mais de 86 milhões de dólares à Câmara de Comércio dos Estados Unidos para que esta se opusesse à reforma do sistema de saúde. Este ano, as cinco maiores seguradoras do país aportaram uma soma de dinheiro três vezes maior tanto para candidatos republicanos como para democratas com a intenção de fazer retroceder ainda mais a reforma da saúde. O representante democrata por Nova York, defensor do sistema de saúde público, declarou no Congresso que “o Partido Republicano é uma subsidiária que pertence por completo à indústria de seguros”.

“Provavelmente estarão a favor da retórica das empresas privadas quando afirmam que necessitamos ter mais ‘soluções baseadas no mercado’ (como eles dizem) e menos regulações, que, sem dúvida, são o tipo de coisa que os republicanos vão tratar de conseguir porque regulação é o que essas empresas não querem”, disse Potter.

A indústria de seguros da saúde não está desperdiçando seu dinheiro. Moore disse: “Neste informe estratégico compilado pelas empresas acerca do dano que “Sicko” poderia ocasionar, há uma linha que basicamente diz que no pior dos casos o filme poderia desencadear um levante populista contra as companhias. Essas empresas, em 2006 e 2007, já sabiam que os estadunidenses estavam fartos das empresas de seguros com fins lucrativos e que um dia o povo poderia se levantar e dizer ‘isto terminou’. Este é um sistema enfermo: permitimos que as empresas lucrem a nossa custa quando ficamos doentes!”

Isso é estar doente de verdade.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Fonte: Agência Carta Maior.

MÍDIA - Os donos da mídia estão nervosos.

A Veja andou atrás do blogueiro Renato Rovai querendo saber como foi feita a articulação para que o presidente Lula concedesse uma entrevista a blogs de diferentes pontos do Brasil. Estão preocupadíssimos.

Laurindo Lalo Leal Filho

O blogueiro Renato Rovai contou durante o curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, realizado semana passada no Rio, que a Veja andou atrás dele querendo saber como foi feita a articulação para que o presidente Lula concedesse uma entrevista a blogs de diferentes pontos do Brasil. Estão preocupadíssimos.

À essa informação somam-se as matérias dos jornalões e de algumas emissoras de TV sobre a coletiva, sempre distorcidas, tentando ridicularizar entrevistado e entrevistadores.

O SBT chegou a realizar uma edição cuidadosa daquele encontro destacando as questões menos relevantes da conversa para culminar com um encerramento digno de se tornar exemplo de mau jornalismo.

Ao ressaltar o problema da inexistência de leis no Brasil que garantam o direito de resposta, tratado na entrevista, o jornal do SBT fechou a matéria dizendo que qualquer um que se sinta prejudicado pela mídia tem amplos caminhos legais para contestação (em outras palavras). Com o que nem o ministro Ayres Brito, do Supremo, ídolo da grande mídia, concorda.

Jornalões e televisões ficaram nervosos ao perceberem que eles não são mais o único canal existente de contato entre os governantes e a sociedade.

Às conquistas do governo Lula soma-se mais essa, importante e pouco percebida. E é ela que permite entender melhor o apoio inédito dado ao atual governo e, também, a vitória da candidata Dilma Roussef.

Lula, como presidente da República, teve a percepção nítida de que se fosse contar apenas com a mídia tradicional para se dirigir à sociedade estaria perdido. A experiência de muitos anos de contato com esses meios, como líder sindical e depois político, deu a ele a possibilidade de entendê-los com muita clareza.

Essa percepção é que explica o contato pessoal, quase diário, do presidente com públicos das mais diferentes camadas sociais, dispensando intermediários.

Colunistas o criticavam dizendo que ele deveria viajar menos e dar mais expediente no palácio. Mas ele sabia muito bem o que estava fazendo. Se não fizesse dessa forma corria o risco de não chegar ao fim do mandato.

Mas uma coisa era o presidente ter consciência de sua alta capacidade de comunicador e outra, quase heróica, era não ter preguiça de colocá-la em prática a toda hora em qualquer canto do pais e mesmo do mundo.

Confesso que me preocupei com sua saúde em alguns momentos do mandato. Especialmente naquela semana em que ele saía do sul do país, participava de evento no Recife e de lá rumava para a Suíça. Não me surpreendi quando a pressão arterial subiu, afinal não era para menos. Mas foi essa disposição para o trabalho que virou o jogo.

Um trabalho que poderia ter sido mais ameno se houvesse uma mídia menos partidarizada e mais diversificada. Sem ela o presidente foi para o sacrifício.

Pesquisadores nas áreas de história e comunicação já tem um excelente campo de estudos daqui para frente. Comparar, por exemplo, a cobertura jornalística do governo Lula com suas realizações. O descompasso será enorme.

As inúmeras conquistas alcançadas ficariam escondidas se o presidente não fosse às ruas, às praças, às conferências setoriais de nível nacional, aos congressos e reuniões de trabalhadores para contar de viva voz e cara-a-cara o que o seu governo vinha fazendo. A NBR, televisão do governo federal, tem tudo gravado. É um excelente acervo para futuras pesquisas.

Curioso lembrar as várias teses publicadas sobre a sociedade mediatizada, onde se tenta demonstrar como os meios de comunicação estabelecem os limites do espaço público e fazem a intermediação entre governos e sociedade.

Pois não é que o governo Lula rompeu até mesmo com essas teorias. Passou por cima dos meios, transmitiu diretamente suas mensagens e deixou nervosos os empresários da comunicação e os seus fiéis funcionários, abalados com a perda do monopólio da transmissão de mensagens.

Está dada, ao final deste governo, mais uma lição. Governos populares não podem ficar sujeitos ao filtro ideológico da mídia para se relacionarem com a sociedade.

Mas também não pode depender apenas de comunicadores excepcionais como é caso do presidente Lula. Se outros surgirem ótimo. Mas uma sociedade democrática não pode ficar contando com o acaso.

Daí a importância dos blogueiros, dos jornais regionais, das emissoras comunitárias e de uma futura legislação da mídia que garanta espaços para vozes divergentes do pensamento único atual.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

Fonte: Agência Carta Maior.

POLÍTICA EXTERNA - A imprensa brasileira e resistência ideológica.

A política externa brasileira, liderada pelo ministro Celso Amorim desde 2003 é um dos setores mais elogiados pela esquerda, base de sustentação do presidente Lula desde 2002 e mesmo entre aqueles grupos que se desgarraram para a oposição a partir de 2005. Por outro lado é o setor mais criticado tanto pela direita política quanto pela imprensa muito influenciada pelos interesses norte-americanos. Acusam-nos de praticar uma política ideológica, como se esse adesismo não tivesse forte carga ideológica. Par a direita, só há ideologia na esquerda. Mas essa resistência, quase teimosia, descamba muitas vezes pra o ridículo. E é justamente uma revista americana que desnuda essa relação.

Segundo a revista "Foreign Policy", Amorim foi ao lado da ex-ministra do Meio Ambiente e candidata a presidência Marina Silva, listado entre os 100 maiores pensadores globais de 2010. Mais do que estar entre os 100, o recordista em tempo no cargo de ministro das Relações Exteriores aparece em sexto lugar, atrás apenas de personalidades como Bill Gates e Warren Buffett (empatados em 1º) e Barack Obama (3º). Não é pouca coisa.

No entanto nos editoriais dos grandes jornais brasileiros, Amorim é tratado como um bastião do antiamericano quase infantil. Para o Estadão, por exemplo, o Brasil pratica uma "diplomacia da provocação. Para o jornal paulista, "a fixação antiamericana do Itamaraty é um chavismo de segunda."

Não bastasse a megalomania que a orienta, o presidente parece convencido de que a projeção do País no mundo será tanto maior quanto mais a política externa brasileira se caracterizar pelo contencioso com os EUA, para além das divergências normais no relacionamento bilateral. Essa tolice é insuflada por um antiamericanismo reminiscente dos anos Geisel, sob a ditadura militar. Confundindo diplomacia assertiva com a busca de pretextos para criar marola, o Itamaraty só muito raramente se esforça para minimizar ostensivamente os atritos com Washington.

Para o Instituto Millenium, "diferente do que se espera de uma diplomacia madura e verdadeiramente pragmática, a atual postura da política externa brasileira demonstra estar sendo pautada por um evidente antiamericanismo. Não se trata de um posicionamento independente, mas sim de confronto."

Mas pra a "Foreign Policy" não é bem assim. Na contramão do pensamento conservador nacional, para montar seu ranking, a publicação ficou de olho no que chamou de "ascensão do resto" - países que passaram de figurantes a protagonistas na cena global. E a "diplomacia impaciente" do Brasil tem muito a ver com essa promoção, segundo a "FP". O "astuto e urbano" diplomata brasileiro é exaltado por seguir um caminho independente, sem fazer oposição radical aos Estados Unidos, "como a velha esquerda da América Latina", nem abaixar a cabeça para os americanos. Para a "FP", Amorim ajuda a transformar o Brasil em um "global player" e isso parece incomodar muita gente.

David Rothkopf, editor da "FP" já havia escolhido Amorim o melhor chanceler do mundo. Rothkopf destaca entre muitas causas, sua batalha para transformar os BRICs de uma sigla em uma importante colaboração geopolítica, trabalhando com seus colegas da Rússia, da Índia e da China para institucionalizar o diálogo entre os países e coordenar suas mensagens. Além do fortalecimento do G20.

Nada ilustra quanto evoluiu o Brasil ou quão eficaz é o time Lula-Amorim quanto os eventos das últimas semanas. Primeiro, os países do mundo largaram o G8 e abraçaram o G20, garantindo ao Brasil um lugar permanente na mesa mais importante do mundo. Em seguida, o Brasil se tornou o primeiro país da América Latina a ganhar o direito de sediar as Olimpíadas. Ontem o Financial Times noticiou que a "Ásia e o Brasil lideram na confiança do consumidor", um reflexo da reputação que o governo vendeu eficazmente (com a maior parte do crédito indo para o ressurgente setor privado brasileiro).

E nesta semana as notícias sobre o encontro do FMI-Banco Mundial em Istambul mostraram a institucionalização do novo papel do Brasil com um acordo para mudar a estrutura do FMI. De acordo com o Washington Post de hoje: "As nações também concordaram preliminarmente em reestruturar a estrutura de votação do Fundo, prometendo dar mais poder aos gigantes emergentes como o Brasil e a China até janeiro de 2011".

Nada mal para alguns dias de trabalho. E embora seja o ministro da Fazenda que representa o Brasil nos encontros do FMI-Banco Mundial, o arquiteto dessa marcante transformação no papel do Brasil foi Amorim.

A imprensa no Brasil noticia esse reconhecimento internacional com um misto de surpresa e indignação. Tentam falar em nome dos interesses estrangeiros e são abruptamente desmentidos por publicações desses mesmos países, que veem na política externa brasileira um instrumento de afirmação nacional e não de enfrentamento. O Brasil não deve caminhar pelo caminho mais fácil, confortável. Adquiriu nesses últimos anos musculatura para alçar voos mais altos, negociando com os "donos do mundo" como parceiros e não como subordinados.

Marina Silva divide a 32ª colocação com outras três líderes de partidos verdes: Cécile Duflot (França), Monica Frassoni (Bélgica) e Renate Künast (Alemanha). Após o fiasco na cúpula climática em Copenhague, em dezembro passado, "2010 se transformou no ano dos verdes e, mais especificamente, das mulheres verdes", afirma a "FP". Marina teria "surpreendido a todos ao forçar um segundo turno na corrida presidencial de seu país", alcançando a votação mais expressiva do PV no Brasil.
Fonte: Blog do Alê.

FUTEBOL - Muricy, a vitória do caráter.

Eu como tricolor, endosso totalmente as palavras do Kotscho.

Muricy na decisão: vitória do caráter.

Compartilhe: Twitter No futebol, tem gente que é campeão por sorte e outros que deixam de ser por azar. Não é o caso dele. Pelo sexto ano consecutivo, mostrando que não depende de sorte nem de azar, o técnico Muricy Ramalho chega à rodada decisiva do Brasileirão em condições de levar o time treinado por ele ao título.

Até agora, ele conquistou o tri com o São Paulo (2006-7-8), e perdeu com o Internacional (naquele campeonato polêmico de 2005, vencido pelo Corinthians, com jogos anulados por causa do juiz ladrão) e o Palmeiras, no ano passado.

No caso de Muricy, qualquer que seja o resultado de domingo, além do reconhecido talento e da capacidade de trabalho do treinador, esta será a vitória do sujeito de caráter sobre a malandragem que impera no nosso futebol.

No ano em que São Paulo e Palmeiras entregaram jogos para se vingar do Corinthians, que fez a mesma coisa no ano passado, contra o Flamengo, Muricy teve a coragem de recusar o convite da CBF para assumir o comando da seleção brasileira e cumprir até o final seu contrato com o Fluminense _ algo inédito na cultura do leve vantagem em tudo. Por ironia do destino, o beneficiário do vexame de São Paulo e Palmeiras foi o Fluminense e, o grande prejudicado, o Corinthians.

Se vencer e levantar o caneco de 2010, o que é o mais provável, pois o seu Fluminense vai pegar o já rebaixado Guarani jogando em casa, Muricy será tetracampeão brasileiro e terá todos os motivos do mundo para dar uma banana aos seus críticos, na imprensa e nos clubes, a começar pelos diretores do São Paulo que nunca se conformaram por não poder mandar no time enquanto ele era o treinador.

Feliz da vida nos vestiários depois do jogo de domingo, cansado de ver seu time perder um caminhão de gols até chegar à vitória, Muricy foi humilde ao falar do momento que está vivendo:

“Não pensei que estaríamos nesta situação. Temos que ser realistas. Há três anos esta equipe luta para não cair. Não sou exemplo para ninguém, a não ser para meus filhos, mas ninguém segura ninguém no futebol”.

Num campeonato brasileiro que não mostrou nenhum grande time e nenhum grande jogador, o grande destaque ficou fora do campo.

Fonte:Balaio do Kotscho.

GUERRA DO RIO - Os bandidos fugiram. Houve acordo?

Hélio Fernandes na Tribuna de Imprensa online.

Mas a surpresa, a estranheza e a perplexidade, deixam margem para especulações. No sábado, às 8 horas da noite, um dos coronéis que “chefiava” a operação, dizia: “Demos prazo aos bandidos para se entregarem até meia-noite. Se não se entregarem, começaremos a invasão”.

Um repórter não comprometido (existem, desde que fiquem longe dos “proprietários”) perguntou, “e se eles fugirem?” Resposta: “Não podem fugir, o Complexo do Alemão está todo cercado”. No dia seguinte, (ontem) ninguém foi preso, todos fugiram. Mas como e por onde?

Começou então a circular: foi feito acordo, os grandes traficantes “desapareceriam”, não seriam presos, mas deixariam de atuar. (Antonio Santos Aquino, sempre bem informado, deu até os nomes de quem poderia ter participado das conversas e negociações). A verdade é que ninguém dos que movimentam BILHÕES foi preso.

Recapitulando; por volta das 4 da tarde de sábado, uma “oferenda” surpreendente e rigorosamente inexplicável. O traficante Zen, do primeiro time, foi preso e apresentado triunfalmente, era o único.

Tentativa de explicação: esse bandido, cruel e sanguinário, covarde implacável, é um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, barbaramente torturado. Mas esse Zen, que estava FORAGIDO há anos, sem que ninguém o encontrasse, o que foi fazer no Complexo do Alemão, na véspera e no dia da invasão?

O que diziam e com insistência: a “inteligência” das policiais sabia há muito onde estava esse Zen. Não quiseram prendê-lo a não ser numa emergência, que chegou ontem. Segundo informes, ele não estava no Alemão, foram buscá-lo e entregaram por caminhos diversos, para dar impressão de que estava no Alemão. E a “cobertura” da Globo, “terminava” gloriosamente.

E NINGUEM FALAVA NAS MILÍCIAS

Mas nada terminava aí, exatamente como a chamada invasão. Ninguém dava uma linha sobre as milícias, como se elas não existissem. Mas fontes me confidenciavam; “Helio, você não pode jogar fora uma existência de apaixonado pela informação, acreditando no que sugerem ou espalham como INVASÃO VITORIOSA”.

Acrescentou: “Tome nota, Helio, As milícias, ligadíssimas a Sergio Cabral, desde os tempos do Panamericano, receberiam aquele território enorme do Alemão e se implantariam ali. Os moradores, sempre enganados, mudariam de donos”.

E terminava: “Os milicianos não permitiriam DROGA, e como são menos cruéis, exaltam mais a alma de negociante e são ótimos em divisão, seriam os grandes vitoriosos”. (Pode não acontecer, mas não é hipótese surrealista).

Havia um clima de velório, abatimento, não prenderam ninguém importante? Então, depois da “falcatrua” prisional praticada contra um dos assassinos de Tim Lopes, desenterraram um episódio menor da véspera. E a TV concordou em retumbar, já havia sido recompensada. Um garoto assustado, simples “olheiro”, foi levado pela mãe (a TV Globo disse que foi o pai) à delegacia, explicaram: “Isso é prova de que TODOS CONFIAM na polícia”. Ha!Ha!Ha!

domingo, 28 de novembro de 2010

ECONOMIA - O retorno da mestra.

Maria da Conceição: o retorno da mestra.

O diagnóstico da professora é agudo e preciso. A continuidade desse modelo é arriscado e potencialmente explosivo. A política monetária em que o Banco Central oferece a maior taxa de juros do planeta é um suicídio em termos econômicos, além de promover uma grande injustiça social.

Paulo Kliass

Por ter completado 80 anos no mês de abril passado, o ano de 2010 foi recheado de homenagens à economista Maria da Conceição Tavares. Palestras, debates, publicação de livros e textos da professora, enfim, um conjunto de eventos para celebrar uma data especial, para uma pessoa ainda mais especial. Economista com uma visão crítica do pensamento conservador e militante política comprometida com a causa democrática e a defesa dos interesses da maioria do povo, Conceição sempre proporcionou o Brasil com suas análises e propostas perturbadoras e radicais do fenômeno econômico e social, pois vai justamente em busca das raízes daquilo que pretende estudar.

A mais recente cerimônia para festejar tal fato ocorreu em mesa realizada durante a 1ª Conferência sobre o Desenvolvimento, patrocinada pelo IPEA, em Brasília, no dia 26 de novembro. Solicitada a falar sobre o tema “Macroeconomia e desenvolvimento”,a mestra aproveitou o momento para abordar também o tema da conjuntura atual e as opções de política econômica para o Brasil enfrentar a crise. A exposição da professora veio se somar às declarações e depoimentos que ela tem dado ao longo dos últimos meses.

O retorno da mestra ao centro do debate tem sido essencial para aqueles que procuram saídas alternativas ao receituário econômico ortodoxo. Isso porque ao longo dos últimos anos, Conceição acabou optando por uma espécie de “silêncio forçado”. Apesar de muitos não concordar com tal opção política, não é muito difícil compreender a escolha da professora. Considerada como uma das principais formuladoras de temas econômicos no interior do PT, Conceição era vista por parte dos analistas como uma das pessoas que jogariam um papel estratégico no governo, quando Lula ganhou as eleições ainda lá em 2002.

No entanto, a roda da história tomou outros rumos e o presidente eleito optou por Palocci, Meirelles, a “tchurma” do setor financeiro e toda a ortodoxia que marcou a política econômica na maior parte de seus 8 anos de governo. No início, Conceição ainda buscou uma reflexão crítica, apontando alternativas ao que considerava uma opção equivocada da equipe de Lula. Porém, à medida que sentia se consolidar a opção conservadora no interior do governo, ela optou por um “voto de silêncio” e não mais criticava publicamente a condução da economia sob as regras do modelito neoliberal.

Porém, como que por uma triste e trágica ironia, foi necessário o surgimento de uma crise internacional mais profunda, com as proporções que vimos a partir de 2008, para que as visões alternativas de natureza estruturalista e heterodoxa se impusessem no debate das opções de política econômica. Seja no interior dos países mais ricos, seja no plano das relações econômicas internacionais, seja até mesmo no debate a respeito de alternativas para o Brasil. À falência do receituário neoliberal, foram sendo trazidos para os próprios meios de comunicação assuntos até então considerados como pecaminosos e proibitivos: “desenvolvimento econômico”, “política industrial”, “necessidade da presença do Estado na economia”, “necessidade de regulação da atividade econômica”, “incapacidade do mercado em encontrar sempre as soluções mais eficientes”, entre tantos outros temas até então relegados às profundezas de um “index prohibitorum”.

E Conceição, para além de discorrer sobre sua vinda de Portugal para o Brasil, sobre sua participação nos governos progressistas anteriores ao golpe de 64, sobre suas experiências com a CEPAL de Raul Prebisch e Celso Furtado, sobre sua intimidade com o tema do desenvolvimento, também tratou do momento atual. E ofereceu a todos os presentes na mesa da Conferência suas propostas para que o Brasil consiga atravessar o momento da crise externa, com o menor risco de sofrer conseqüências negativas. E aí, o menu dos pontos a serem tratados não apresenta muita novidade: risco do setor externo deficitário, perigo da continuidade da atual política cambial da nossa moeda valorizada, prejuízos da política monetária de juros elevadíssimos, necessidade de estabelecer maior controle sobre os movimentos do capital especulativo.

O diagnóstico da professora é agudo e preciso. A continuidade desse modelo é arriscado e potencialmente explosivo. A política monetária em que o Banco Central oferece a maior taxa de juros do planeta é um suicídio em termos econômicos, além de promover uma grande injustiça social. Transfere renda orçamentária para os setores mais privilegiados do País, ao tempo em que limita recursos para as despesas essenciais na área social. Além desse caráter perverso da política de juros elevados, ela assegura alta rentabilidade ao capital especulativo do resto do mundo, que para cá se dirige em grande quantidade. O ingresso desse tipo de recursos em moeda estrangeira, por sua vez, pressiona o mercado dito “livre” do câmbio. Uma elevada oferta de dólares em nosso mercado interno promove uma valorização artificial do nosso real frente à moeda norte-americana e demais moedas estrangeiras.

Com isso nossas exportações ficam prejudicadas e as importações de bens estrangeiros ficam estimuladas. O resultado é a redução do superávit na Balança Comercial. E uma preocupação crescente no Balanço de Pagamentos, que começa a ficar perigosamente deficitário. A previsão do próprio BC é de um rombo de US 50 bilhões para esse ano que se encerra. Para tanto contribui, entre outros fatores, a redução dos valores dos investimentos diretos estrangeiros e o aumento das remessas para o exterior na forma de juros e lucros.

Enquanto a maior parte dos chamados “especialistas do mercado” retomam a cantilena da “necessidade imperiosa” de redução dos gastos públicos e da necessidade de elevar ainda mais (!!!) a taxa de juros na próxima reunião do COPOM, a professora confirma as alternativas há muito tempo apresentadas pelos economistas que procuramos fugir da lógica dos interesses puramente financistas. Tanto mais que nas últimas semanas tem-se aprofundado um sentimento e um conjunto de medidas que estão sendo corretamente resumidos na classificação de uma “guerra cambial” em escala planetária.

Cada país ou região tenta resolver a crise sob seu ponto de vista e não há solução negociada. E o fracasso da recente reunião do G-20 na Coréia demonstrou que não há alternativa a ser acordada entre os países mais ricos no curto prazo. A China mantém sua moeda indexada ao dólar norte-americano. Os Estados Unidos promoveram uma emissão de sua moeda no valor de US$ 600 bi, que será absorvida pelos agentes econômicos e logo em seguida direcionada aos países em desenvolvimento. A taxa de juros SELIC continua a fazer do Brasil um dos locais de maior rentabilidade no mundo. Mais dólares para cá, maior valorização cambial. Assim, o mecanismo da chamada “liberdade cambial” fica ainda mais perverso para nossa economia, em termos de emprego e crescimento da indústria nacional. Com a enxurrada das importações, reforça-se o movimento da desindustrialização.

O caminho passa, nos ensina Conceição, pelo estabelecimento de regras de controle na conta de capitais. O Brasil não pode aceitar passivamente pagar a conta pelas medidas protecionistas adotadas pelos países mais ricos. Ou seja, devemos adotar medidas de auto proteção, sim! A primeira delas seria a exigência de um período mínimo de permanência do capital estrangeiro que para cá deseja se dirigir, bem como a elevação dos impostos sobre os mesmos, para reduzir a atratividade das aplicações de caráter puramente especulativo. A diminuição desse volume de recursos externos deve reduzir a tendência à valorização do real frente ao dólar. Caso contrário, o governo deve adotar outras medidas com tal objetivo.

Além disso, ao contrário de cortar despesas de custeio, as reduções no orçamento do governo federal devem ser nos gastos financeiros. Para tanto, a medida deve vir no sentido da redução da taxa de juros SELIC e na ação sobre as instituições financeiras para reduzir seu “spread” e oferecer juros mais baixos para o tomador final. Com isso, haverá redução no volume de despesas de natureza financeira, aliviando o conjunto das contas fiscais.

Finalmente, a mestra lembra aos analistas que os próprios manuais de economia e as experiências de política monetária em outros países oferecem o mecanismo do depósito compulsório para se conter um eventual excesso de demanda e evitar a retomada do processo inflacionário. Ou seja, se houver algum risco de que tais medidas estimulem demasiadamente o nível de consumo, o governo pode obrigar os bancos a elevarem ainda mais seus níveis de depósito obrigatório junto ao Banco Central, o que gera menos recursos monetários na sociedade. Com isso, mantém-se algum grau de equilíbrio no setor real, sem que a sociedade no seu conjunto seja obrigada a pagar a conta por meio de aumento nas despesas públicas, que ocorreria caso houvesse um aumento ainda maior da já elevada taxa de juros SELIC.

Para finalizar, cabe agradecer à professora por seu retorno ao debate e por suas análises e sugestões sempre tão preciosas para os que não se deixam enganar pela retórica dos defensores dos interesses da banca e do sistema financeiro. Com isso,podemos dizer que existem sim alternativas a serem implementadas em termos de política econômica. Basta haver vontade política.

Obrigado, Conceição!



Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10

GUERRA DO RIO - As diferentes batalhas do Rio.

Mauro Malin, Observatório da Imprensa

“Há no cenário da criminalidade fluminense diferentes lógicas que interagem e tornam complexa a análise, mais ainda a síntese que deve ser feita continuamente pelos meios de comunicação. Nas dobras do noticiário, movido a fatos graves e "sensacionais" (na acepção original, de causar sensação, emoção), abrigam-se algumas informações preciosas. Cabe apontá-las aqui para que não sejamos conduzidos, como leitores, ouvintes, telespectadores e internautas, pela lógica necessariamente improvisada do noticiário, embora ancorada em conceitos e preconceitos antigos.

Em primeiro lugar, o que se viu na quinta-feira (25/11) na Vila Cruzeiro foi uma reação da polícia fluminense a uma série de atos de terrorismo praticados no Grande Rio. Não foi uma ação que fizesse parte especificamente de um planejamento estratégico, embora a hipótese de "entrar na favela" esteja sempre no horizonte. Na própria Vila Cruzeiro foram feitas incursões em 2002 e em 2007, sem que o bastião local tenha sido desmontado.

Em segundo lugar, existe agora uma política de segurança pública mais consistente, da qual são expressões mais visíveis as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, cujo próprio nome indica uma carga simbólica relevante, uma atenção constante à comunicação com a população, por intermédio da mídia, uma harmonização das diferentes instituições policiais e uma colaboração com forças militares e com o Judiciário. Esse ponto é importante, porque cria um ambiente de respaldo à ação policial, que, segundo as declarações do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, não tem a finalidade de matar ou ferir, mas não pode deixar de revidar a agressões, produzindo também sua cota de violência.

Em terceiro lugar, nesses momentos de conflito desaparecem do radar as "bandas podres" das polícias e dos poderes Legislativo e Judiciário. Mas é preciso não perdê-las de vista. Ao longo de décadas, tiveram um papel importantíssimo no processo e continuam rendosamente ativas.

Em quarto lugar, e isso passou batido no noticiário de sexta-feira (26), o que está por trás da colaboração do governo federal ‒ que há muito é incapaz de manter controle sobre a entrada de armas militares e drogas no país ‒ com o governo do estado do Rio tem nomes e datas: Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016. Trata-se de dois grandes eventos de massa que têm dimensões negociais (nos dois sentidos) e políticas autoevidentes.

Discurso abandonado

Em quinto lugar, quem imagina que o governador Sérgio Cabral Filho comanda a política de segurança pública de caso pensado deve ter em mente que ele fez campanha, em 2006, prometendo que a ação policial no Rio não seria mais baseada em incursões de "caveirões". Nos últimos dias de dezembro daquele ano, entretanto, bandidos puseram fogo num ônibus interestadual sem deixar que os passageiros saíssem antes. Houve numerosas vítimas, e uma delas foi a política de segurança que estava na cabeça e no discurso de Cabral Filho.

Ele começou 2007 com um discurso guerreiro. Hoje, aos "caveirões" se somam blindados da Marinha. Isso é dito aqui sem subestimar o papel das Forças Armadas, dos "caveirões" (às vezes manipulados por grupos criminosos) e de forças especiais de polícia, como o Bope. O poder de intimidação das forças públicas que investiram contra a Vila Cruzeiro em 25/11 fez a diferença (isso depõe a favor do uso de blindados e de outros meios capazes de promover a dissuasão). Em 2007, a incursão policial foi feita por 1.500 homens, provocou 19 mortes e não permitiu o controle do "território" pelo Estado. Agora, os bandidos fugiram levando suas armas, não conseguiram responder ao revide policial-militar.”

GUERRA DO RIO - Criminalização da pobreza.

Marcelo Freixo: segurança pública reforça criminalização da pobreza.

Comentário do blog: A única divergência deste blog diz respeito à opinião do deputado sobre as UPP's. As Unidades de Polícia Pacificadora têm diminuido a ostentação de armas e poder dos traficantes, além de serem bem aceitas, a princípio, pelos moradores. O primeiro passo é a retirada da ocupação territorial do tráfico. Em seguida, a 'pacificação' poderá ajudar, e muito, na provisão de recursos como hospitais, escolas, etc. De todo modo, a crítica do Freixo serve de atenção para os próximos passos nas instalações de novas UPPs.


Em entrevista a Terra Magazine, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), conhecido pelo combate às milícias afirma que a ação da polícia carioca nas favelas reforça "a criminalização da pobreza" e não enfrenta o crime organizado. Ele será enfrentado, diz Freixo, "onde há o lucro (com a ilegalidade), que não é na favela".


- A favela é a mão de obra barata. É a barbárie - diz o deputado, elencando a Baia da Guanabara e o Porto como locais onde há o tráfico de armas e onde lucra o crime organizado.


Freixo foi presidente da CPI das Milícias, que investiga a ligação de parlamentares com grupos paramilitares. Por conta disto, o deputado chegou a ser ameaçado de morte. Leia abaixo a íntegra da entrevista:

O senhor é conhecido pelo combate às milícias. Em alguma medida, esses ataques podem interferir no comportamento delas?

Marcelo Freixo - Esses ataques não tem nada a ver com milícias, são reações às UPPs, que não atingiram as milícias em nada. Não há nenhuma área atingida pelas milícias que tenham sido ocupadas pelas UPPs. Pelo contrário.


Sobre esses ataques...

Esses ataques são do varejo da droga, que é muito menos organizado do que se imagina. Representam o crime da lógica da barbárie, da violência. Não são pessoas que têm referência com o crime organizado, porque a organização não faz parte de sua cultura de vida. É a barbárie pela barbárie. Então, os ataques não vêm do crime organizado, que deve ser enfrentado de uma outra forma.


Que forma?

Se quiser enfrentar o crime organizado tem que ir para a Baia da Guanabara que é por onde as armas entram. Aí, sim. Ali tem a operação financeira do crime organizado para o tráfico de armas. Isso não se enfrenta no Rio de Janeiro.


O senhor afirma que se trataram de atos bárbaros, sem uma organização. Mas esses ataques estavam sendo comandados pelo Comando Vermelho e pelo Amigo dos Amigos.

São facções da barbárie. É o crime organizado dentro das cadeias. São grupos que só são organizados de dentro das cadeias. Muito mais dentro do que fora. O crime organizado é onde tem dinheiro e poder, que não é o caso das favelas, onde fica a pobreza e a violência. A tradicional política de segurança do Rio, perpetuada há 11 anos, enfrenta as favelas com uma ação letal. Em 2007, o mesmo governo (Sérgio) Cabral entrou no Complexo do Alemão, matou 19 e saiu. Como está o Complexo do Alemão hoje? Igual. Esse tipo de ação é muito ineficaz. Se é para enfrentar o crime organizado, tem que ser onde ele lucra, que não é na favela. A favela é a mão de obra barata, e é a barbárie. É preciso ir à fonte do financiamento e aonde passam as armas. Essa é a escolha política que até hoje o governo Lula não fez.


Como o senhor avalia a implementação das UPPs?

As UPPs representam um projeto de cidade e não de segurança pública. O mapa das UPPs é muito revelador: é o corredor da Zona Sul, os arredores do Maracanã, a zona portuária e Jacarepaguá, região de grande investimento imobiliário. Então, são áreas de muito interesses para o investidor privado. O Estado, portanto, retoma - militarmente - este território. A retomada é militar para permitir um projeto de cidade, que é a cidade Olímpica de 2016. Para toda cidade Olímpica tem cidades não-Olímpicas ao redor.


Dentro desse cenário que o senhor chama de "barbárie", e somando a ele esses ataques recentes, o senhor acredita que fica de ônus ao morador da favela?

Esses momentos reforçam o processo de criminalização da pobreza no Rio, o que é muito perigoso. Hoje, todas as operações policiais no Rio acontecem nas favelas. Todas. Não há nenhuma na Baia da Guanabara, nem no Porto, que é por onde entram as armas e onde funciona - verdadeiramente - o crime organizado. Então, reforça-se esse processo de criminalização das áreas pobres.
Fonte:Blog Pragmatismo Político.

sábado, 27 de novembro de 2010

GUERRA DO RIO - A posição do Observatório das Favelas..

Enviado por Luis Nassif.


Por Raquel.

Não é só o Rio de Paz que pensa assim.

Observatório de Favelas: http://www.observatoriodefavelas.org.br

Nota do Observatório sobre acontecimentos no Rio

Em virtude dos últimos acontecimentos na região metropolitana do Rio de Janeiro, o Observatório de Favelas repudia todo e qualquer ato de violência, seja ele oriundo das organizações criminosas ou de instituições do Estado. Consideramos um retrocesso na política de segurança pública uma retomada da intervenção policial pautada pela lógica do confronto e pelo discurso da “guerra”. Diante do quadro atual, é fundamental que a polícia atue priorizando a inteligência, a estratégia e, sobretudo, a valorização da vida de toda a população, sem exceção.

A sensação de insegurança generalizada tem provocado um clamor, por parte de diversos setores sociais, por intervenções duras das forças policiais. Parte da população espera inclusive que a polícia entre nas favelas para matar. O risco que corremos diante desse quadro é o da legitimação social de práticas como o uso abusivo da força, execuções sumárias e outras formas de violações de direitos.

O número de mortes registrado nos últimos dias e o uso ostensivo de equipamentos bélicos aponta para um panorama extremamente preocupante. A letalidade não pode de forma alguma ser apresentada como critério de eficiência da atuação policial, nem como "dano colateral" de uma operação. Nada justifica a perda de vidas em uma intervenção do Estado. Não podemos ver a repetição de ações como a ocorrida em junho de 2007, na operação que ficou conhecida como “Chacina do Alemão”. Na ocasião, 19 pessoas morreram, muitas com indícios de execuções sumárias.

Em um momento como este, os moradores das áreas atingidas pela atuação das forças de segurança sofrem uma série de violações de direitos. Têm cerceados direitos fundamentais como o de ir e vir e o acesso às escolas, por exemplo. .

É imprescindível que a ação do Estado tenha como foco a garantia da segurança e a proteção da vida dos moradores de todas as áreas da cidade. Infelizmente, o que presenciamos é que os efeitos da violência atingem de forma mais contundente a população que reside nas áreas mais pobres da cidade, o que tem sido um traço histórico das operações policiais realizadas no Rio de Janeiro. E isso tem que acabar.

GUERRA DO RIO - Lins prevê chacina no Complexo do Alemão.

Após ocupação da Vila Cruzeiro, Paulo Lins prevê chacina no Complexo do Alemão no RJ

Por: Nicolau Soares, especial para a Rede Brasil Atual


Paulo Lins critica truculência contra "bandido preto e pobre" sem ação semelhante contra ricos (Foto: Carol Reis/Fórum das Letras)
São Paulo – "A polícia ocupou as favelas, monitorou a transferência dos criminosos para o Complexo do Alemão, e agora vão matar todo mundo", prevê o escritor carioca Paulo Lins, autor de Cidade de Deus. Para ele, os movimentos da polícia conduzem a situação para uma "grande chacina". Para Lins, os 96 incêndios em veículos e arrastões desde domingo (21) no Rio de Janeiro, atribuídos ao crime organizado, "deram o motivo" para o que ele chama de massacre. O maior problema é que isso pode não resolver o problema da segurança no Rio.

"No governo de Sérgio Cabral, desde o início, mata-se muita gente. E no Brasil não tem pena de morte, essa é a minha ressalva", afirma. "Não acho que vão pegar esses criminosos, prender, apresentar a sociedade, levar para presídio e recuperar esses homens; eles vão matar", prevê em entrevista à Rede Brasil Atual. O escritor revela ter ouvido relatos de moradores da comunidade de Cidade de Deus, na zona oeste da cidade, onde Lins cresceu, de execuções sumárias pela polícia de pessoas já rendidas. "Eu já vi isso a minha vida toda. Vai acontecer uma 'bela chacina' e gerar mais ódio", lamenta.

O escritor se diz favorável à ocupação das comunidades e à política de instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas condena a forma como foram implantadas. "A ocupação em si é louvável, tem de ocupar, prender os bandidos, tirá-los de circulação, até porque eles aliciam outros jovens, servem de exemplo. Tirá-los de circulação é boa ideia, mas tem que prender, não matar", diz.

"Nas primeiras favelas (em que foram implantadas UPPs) houve conflito entre polícia e tráfico. Depois, os policiais começaram a avisar publicamente que iam ocupar a favela, e os bandidos passaram a sair antes. Eles foram para outras, para a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Toda essa movimentação foi monitorada, o Estado sabia que esses bandidos estavam ali. E agora vai acontecer uma chacina", reitera.

Lins destaca que os ataques feitos pelos crime organizado não provocaram vítimas fatais. "Só a polícia matou, inclusive com bala perdida. O mais marcante para mim foi uma criança de 15 anos que morreu com uma bala perdida. Se acontecesse na zona sul (área nobre da cidade), a imprensa toda estava falando nisso. Como ela é pobre, mora na favela, é visto como normal, como vítima de guerra", acusa. Segundo a Polícia Militar, até quinta-feira (25), o saldo das operações é de 192 pessoas presas, 25 mortos e três policiais feridos.

Excessos

Ele considera errada a estratégia da polícia, que se apoia em violência que seria desnecessária. “Quando prenderam o (narcotraficante) Elias Maluco, eles não deram um tiro. Acontece que o Estado é burro e tinha que ser inteligente. Eles vão matar 50, 100 bandidos e vão achar mais mil, isso não resolve", critica.

"Matar bandido preto e pobre não é coisa nova no Brasil, o país vem fazendo isso há muitos anos e não resolveu nada. Vai gerar mais ódio, mais rancor, e vão aparecer mais bandidos se não tiver uma política de prevenção", defende. “Ou então, deveria ter política de extermínio de bandido rico também. Se a pena de morte valer para bandido pobre, tem que valer também para bandido rico, inclusive bandido político. Bandido rico nem preso vai”, dispara.

O apoio da população às ações do Estado é esperado por Lins nessa situação de medo. “Lógico que vai aprovar, a população civil esta acuada pelos bandidos, com medo desses incêndios. A imprensa faz parte da sociedade e apoia também. Mas realmente esse foi um motivo que deram para se fazer uma chacina e 'limpar' a cidade", diz.

Ação social

O escritor defende a presença do Estado nas comunidades por meio de ações sociais, especialmente de educação. "O Estado tem que dar suporte de educação, cultura e esporte para a população toda, como existe para a classe média", compara. "O pessoal na periferia é revoltado, há uma revolta social muito grande. Tem de melhorar o salário do trabalhador, é o filho dele que entra para a criminalidade. Não se fala agora em escola boa, e o parâmetro para isso já existe, é só pegar a escola de classe media, que é exemplo", questiona.

Para isso, o poder público precisaria "tomar o domínio das cadeias" por meio de um processo de humanização do sistema carcerário e investimento na recuperação dos presos. "Não adianta transferir presos. O Estado tem que retomar o domínio das cadeias e vai fazer isso com projetos de recuperação, com educação, médico, trabalho – sobretudo trabalho. Esse pessoal não pode ficar parado”, sustenta Lins.

Lins se diz contrário ao recrudescimento de penas contra lideranças das facções criminosas. "Tem de fazer essas pessoas enxergarem o quanto é importante o trabalho, a produção. É isso que tem de fazer, não endurecer mais. Isso é conversa fiada", afirma.

Fonte: Rede Brasil Atual.

GUERRA DO RIO - a hora da desassociação criminal.

Rio de Janeiro: a hora da desassociação criminal.



–1. O preparado jornalista André Trigueiro me fez uma pergunta fundamental. Isto no importante momento em que as forças de ordem conseguem impor, - para pantagruélica felicidade dos cidadãos comuns de bem-, derrota aos integrantes das facções delinquenciais, reunidas no Rio de Janeiro numa “confederação criminal”. Confederação que segue o modelo horizontalizada da Camorra napolitana e das Tríades chinesas.

Como na televisão as respostas devem ser curtas e o entrevistado precisa ter o poder da síntese, chamei a atenção, –com base na experiência internacional e no Direito Primial intuído no século XIX pelo jurista alemão Rudolf Von Ihering— para o instituto italiano da Desassociação.


O crime organizado de matriz mafiosa usa crianças e jovens como massa de manobra.

Essa situação é bem mostrada em livros e filmes. Por exemplo no livro best-seller Gamorra de Roberto Saviano. E no dramático documentário Camorra, da cineasta romana Lina Wertmuller (nascida em 1926, mas de 50 filmes, como, por exemplo e recordistas de bilheterias, “Mimì metallurgico ferito nell’onore”, “Scherzo del Destino”; “12 registi per 12 città”; Pasquoalino Settebellezze (1975).

No filme-documentário de Wertmuller mostra-se a Camorra, por ordem dos chefões, a injetar drogas em crianças, para viciá-los e escravizá-los. Lógico, para depois virarem vendedores de drogas e olheiros nos bairros controlados. Hoje, em Scampia e Secondigliano, em Nápoles, são os jovens armados que são colocados na linha de frente de combate.

Como todos sabem, os jovens, –nas comunidades onde o crime organizado detém controles de território e social–, são atraídos pelo poder, lucro e protagonismo na comunidade. São os “soldados” da base da hierarquia.

Ora, as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) voltam-se à retomada de espaços físicos (territórios) o controle social. Em síntese, o morador recupera a cidadania, a liberdade ambulatória e as liberdades públicas. Os jovens das facções criminosas, no entanto, migram para outras áreas, na certeza de que continuarão a sobreviver do tráfico de drogas.

Não existe no projeto de UPPs previsão para instituição, por lei, da “desassociação”. Ou seja, a possibilidade de o jovem mudar de lado e ser beneficiado. Tudo condicionado ao ingresso em programas ressocializadores, de educação à legalidade democrática. Uma assistencia para mudar de vida: não estou a propor PAC para os soldados da criminalidade. O certo, é que as cadeias e presídios ficarão abarrotadass desses jovens, caso exitosa a repressão que está em curso.

–2. 1. Na Itália, –quando do combate às Brigadas Vermelhas e outras organizações eversivas–, percebeu-se ( e é contado no livro Le Due Guerre do magistrado Giancarlo Caseli, que é o juiz que combateu o terror e a máfia siciliana) que uma quantidade enorme de jovens, - usados como massa de manobra–, estavam presos e receberiam penas altíssimas. Então, criou-se o instituto jurídico da desassociação: dá para imaginar um jovem de 18 anos condenado à pena de 30 anos de prisão como sairá do cárcere ?

Em tempo: a Itália vivia uma normalidade democrática quando começou o movimento terrorista, cuja principal organização tinha o nome de Brigadas Vermelhos. O presidente era o socialista Sandro Pertini ( foi preso pelos fascistas ao tempo de Mussolini e dividiu a cela com o notável Antonio Gramnsci). O combate ao terrorismo deu-se, como observava o respeitado e saudoso Pertini, dentro da legalidade, sem normas ou cortes de exceção.

Para se desassociar, bastava o interessado enviar ao magistrado uma declaração de que havia deixado a organização criminosa especial a que pertencia. Aí, o jovem era colocado em liberdade e o processo criminal arquivado.

–3. Para o sucesso das UPPs não há outra saída. Volto a afirmar: com o sucesso das operações repressivas e a difusão, pelo Estado, de um programa de desassociação (com emprego ou seguro desemprego) muitos jovens mudariam de lado. Até no meio do embate.

4. No processo penal brasileiro, (e foi uma luta de 20 anos para se chegar a esse ponto e onde fui taxado de visionário muitas vezes) adotou-se o modelo italiano da “delação premiada” (colaboradores de Justiça).

Instalou-se na legislação o chamado “direito premial”. Com efeito, pode-se criar, também, um prêmio à dessasociação. Não é racional encher as cadeias com um “exército” de jovens, microtraficantes, e que servem à criminalidade organizada pré-mafiosa..

5. Registro. Na Itália, ainda não se aplicou a desassociação aos casos de Máfia (só delação premiada aos “pentiti”-arrependidos).

Os candidatos à desassociação, — e que insistem numa legislação a respeito, são os “ex-chefes” mafiosos que estão em regime de cárcere duro e completamente isolados das suas organizações, ou seja, Cosa Nostra, ´Ndrangheta, Camorra, Sacra Corona Unita.

Todos estão condenados e são londas as suas penas de privasão de liberdade. Um dos interessados no instituto da desassociação é Totó Riina, sanguinário chefe dos chefes. Riina responde por 600 homicídios, como mandante e ficou foragido 23 anos, sem tirar o pé da Sicília e sem perder o governo da organização.

Para esses velhos mafiosos, por evidente, não dá para se cogitar em desassociação.

– Walter Fanganiello Maierovitch–
Fonte: Blog Sem Fronteiras.