Entrevista histórica: viva o Brasil de Lula.
Urariano Motta.
Se acham exagerado o título, saibam que pensei antes em outro, talvez pior, que prefiro deixar como subtítulo: “Nunca antes na história houve um presidente como Lula”. E perdoem, se não compreendem, o tom ufanista. Pois quero dizer: na manhã desta quarta-feira 24 de novembro, o Presidente Lula deu uma entrevista aos blogueiros sujos, os sujos assim chamados por Serra, mas que na verdade formam um conjunto de jornalistas eleitos no I Encontro Nacional de blogueiros progressistas.
Não fosse a circunstância desse encontro, raro, único, de um Presidente “baixar-se” a uma coletiva de mais de duas horas para os expulsos da grande imprensa que se julga jornalística, não fosse, já nesse encontro, o reconhecimento do poder de informar de uma nova mídia, que faz o jornalismo com que todo estudante sonha, não fossem essas coisas tão extraordinárias, haveria as revelações que o Presidente Lula trouxe em vários momentos da coletiva.
Por exemplo: “Eu trabalho com muita informação, mas não preciso ler as coisas que eles escrevem”. Tento, um gol de placa de Lula, porque ao dizer isso o presidente lembrava a desinformação de todos os dias, o pavor criado por falsas gripes aviárias, o terror das manchetes e jornais e tevês que jogavam o Brasil no olho da crise norte-americana, enquanto o presidente fazia um pronunciamento em rede nacional para estimular o consumo, as compras, o emprego, para que o fantasma dos Estados Unidos não fizesse sombra ao Brasil. Que vergonha, formadores de opinião...
Em outro gol de placa, o presidente marcou (cito de memória): “na imprensa do Brasil, ninguém vai saber o que aconteceu no Brasil com o meu governo. O futuro leitor tem que ler as revistas inglesas, francesas, os jornais alemães, e, acima de tudo, vocês, a internet”. Com razão, mais uma vez. Já em artigo anterior, publicado em abril de 2006 sob o título “A imprensa e Lula em 2106”, eu chamava a atenção para a dificuldade dos historiadores em saber o Brasil 100 anos depois:
“Então o nosso historiador do futuro faz uma impressionante descoberta. Em 2006, na imprensa brasileira todos os fatos, todas as coisas, todos os acontecimentos, fossem do mar, da terra, do ar, do pensamento, dos répteis, das temíveis cobras corais, dos peixes até o mico-leão-dourado, todos os reinos e possíveis ocorrências se relacionavam, sempre, com o governo Lula. Para mal, of course... Até chegar a este extremo:
Nada se compara ao incidente de uma peçonheta cobra-coral que atravessou o caminho do presidente em 2003, o historiador viu em um jornal documento. Acontecera em Buíque, Pernambuco. Um agricultor, para defender o seu presidente, matou a cobra a pau. Pergunta de matéria do Estado de São Paulo:
‘Morte de cobra em Buíque foi crime ambiental?’..."
Mas nada se comparou à exploração obscena, na Rede Globo, na Folha de São Paulo, do acidente com o avião da TAM em 2007, quando morreram mais de 200 pessoas. Na tevê, recebíamos uma telenovela do horror, com os dramas, lágrimas e fogo, enquanto nos jornais líamos artigos e editoriais responsabilizando o presidente, o grande criminoso, autor da tragédia. Gritava a Folha em irresponsabilidade histérica:
"Duzentas pessoas estão mortas, duzentas famílias choram suas perdas, a maior cidade brasileira convive com os escombros à margem de uma de suas avenidas mais movimentadas, o País está aturdido com a tragédia de dramaticidade acentuada por ter sido anunciada e o cidadão que, embalado pelos números de pesquisas, se pretende a síntese do Brasil, tira o corpo fora.
Ontem, 48 horas depois do segundo sinistro aéreo gravíssimo em 10 meses de exposição do colapso do setor aéreo, o presidente Luiz Inácio da Silva ainda examinava a conveniência de se dirigir à Nação hoje, quatro dias depois... Estas sim (é que são, as pesquisas) o termômetro das ações do Palácio do Planalto, que trata como cidadãos de segunda pessoas que supõe sejam de primeira classe porque viajam de avião, lêem jornais, compram ingressos para ir ao Maracanã, vivem do trabalho, não estão entre o público alvo das esmolas oficiais."
Hoje, à distância, podemos ver que, de fato, o Presidente Lula é o autor indireto dessa tragédia. A saber: a tragédia da grande mídia do Brasil. Com ele a imprensa dos grandes jornais e tevês baixou a um nível jamais visto, mais baixo e pior que as sacanagens históricas de David Nasser e Assis Chateaubriand.
Espero que tenham compreendido enfim o tom de aparência ufanista do título e deste artigo
Fonte: Direto da Redação.
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