Do Blog Tijolaço.
“De repente, não mais que de repente”. E para sempre.
Por Carla M.
Antes de descrever o significado do processo eleitoral de 2010 para mim, é necessário que me apresente e conte um pouco sobre a minha relação com a política.
Meu nome é Carla, tenho 34 anos. Cresci numa família de classe média (mais baixa do que alta), estudei num dos melhores colégios de Belo Horizonte (apesar de ser carioca, cresci em BH) – meus pais sempre se esforçaram para que a educação de seus filhos fosse a melhor possível. Sempre convivi com pessoas ricas, de tradicionais famílias mineiras. Contudo, isso nunca fez de mim uma adolescente fútil (por ir na onda dos colegas) ou revoltada (por não poder ter o que os colegas tinham). Muito pelo contrário, meus pais, dentro de suas limitações, nunca me deixaram faltar nada e, desde que me entendo por gente, colocaram o chão bem firme sob meus pés. Eu sempre tive a noção do tamanho dos nossos passos.
Contudo, apesar de tanta realidade e consciência sempre me rondando, preciso confessar que o posicionamento deles sempre foi um tanto reacionário… Aquele do discurso aprendido, e sempre repetido, de que “O Brasil não tem jeito…”, “Nunca vai dar certo…”, “Político é tudo igual…” (E, na maioria das vezes, era assim mesmo. Bom, estou me adiantando. Deixa eu continuar a narração sem me atropelar…).
Portanto, lá estava eu, crescendo, tornando-me adolescente e ganhando ciência do mundo ao meu redor.
Quando o Collor foi “deposto”, lá fui eu pras ruas, com a cara pintada. A bem da verdade, eu queria mesmo matar aula. Mas, lá ia eu.
Depois, quando chegou o FHC e sua lábia sociológica, eu até cheguei a acreditar. Seria meu primeiro voto. A primeira oportunidade de votar para eleger o Presidente do meu país.
Minhas opções eram, basicamente, o sociólogo galã e o operário “comunista e analfabeto”. Nem era assim que eu o enxergava, até porque, nunca tinha olhado pra ele de fato.
Resultado: anulei meu voto. Meu primeiro voto como cidadã consciente e cumpridora de seus deveres civis foi um retrato da minha consciência política: NULO.
Confesso, sem nenhum orgulho, que mantive assim por mais um bom tempo. Mesmo sendo uma pessoa tão antenada e tão bem informada sobre tantos outros aspectos, política simplesmente não me interessava.
Mantive-me (não totalmente) alienada. Na verdade, mais alheia do que alienada. Escolhi não me aprofundar, não conhecer. Escolhi a ignorância.
Em 2006, a segunda eleição do Lula, não posso dizer que tenha acontecido por ajuda minha. Já de volta ao Rio, no dia da votação do segundo turno, a praia estava tão deliciosa, imagina se perderia meu tempo para exercer minha cidadania… Paguei a multa depois.
Mas as mudanças na vida da gente se passam em questão de segundos. Às vezes, reverberam por muito tempo depois, mas o “clic” é num ímpeto.
E, desta forma, deu-se a minha tomada de consciência política.
Uma pessoa muito querida, com quem tenho uma convivência diária, ajudou-me bastante neste processo. Ela me mostrou uma outra realidade. Uma realidade que me foi privada por anos (privada dos meus pais também, hoje compreendo isso).
E assim, “de repente, não mais que de repente”, tirei dos olhos o véu da ignorância, do desconhecimento, da desinformação. Enxerguei os fatos como são, não como sempre ouvi dizer que fossem.
Decidi entender o que foi que Lula fez em seus oito anos de governo. Sim, pois não era possível ver o mundo todo respeitando aquele operário “comunista e analfabeto”, ouvir da boca do Obama: “Ele é o cara”, assistir o Brasil atravessar a maior crise econômica mundial (desde 1929) e sair quase ileso, e continuar acreditando que ele fosse apenas um operário “comunista e analfabeto”.
Decidi conhecer, estudar, pesquisar: CONSCIENTIZAR-ME.
E a tomada de consciência política é um caminho sem volta. Uma vez que nos posicionamos politicamente, nos posicionamos perante a vida. Ideologicamente.
Não que eu não pudesse viver uma vida inteira sem esta consciência. Claro que poderia. Meus pais viveram. Muitas outras pessoas também. Outras ainda viverão. E isso não torna ninguém melhor ou pior. Apenas diferente.
E, a partir deste momento, em que se posiciona perante o mundo, perante a vida, não é mais possível apertar o “OFF” e voltar ao desconhecimento. Ter consciência política, seja sob qualquer orientação, é um processo definitivo.
E passei por isso a pouquíssimo tempo. Tenho 34 anos, como já disse, e só abri os olhos aos 33. Bom, como se diz por aí: “antes tarde do que nunca!”
É assim mesmo. Ao mesmo tempo que passamos a sofrer por questões que nem existiam há bem pouco tempo atrás, é uma sensação tão boa conseguir enxergar matizes e nuances onde, antes, só havia o preto e o branco. Às vezes, um cinza…
Dói passar a enxergar problemas e atitudes antes desconhecidos, mas é tão reconfortante saber buscar as soluções em discussões embasadas pelo conhecimento e a gama enorme de argumentos que o nosso cérebro aprende (tão rapidamente!) a construir.
Pensar na política é pensar o mundo. Isso muda (ou resgata) uma pessoa para sempre.
Sob este prisma, é bastante fácil prever que as eleições de 2010 foram para mim o oposto das eleições de 1998 (Graças a Deus! Em todos os sentidos…).
Perceber que o trabalho do Lula foi tão bonito. Perceber que o povo hoje tem vez (e voz!). Que as possibilidades, de fato, podem se tornar reais. Que os sonhos se concretizam.
Apesar de ter sido a mais sórdida das campanhas (pelo menos desde que eu nasci), apesar de todas as baixarias, apesar de toda a boataria, apesar da bolinha de papel, apesar de ver a Religião ganhando ares de Inquisição, apesar do medo de não ver a Dilma lá, apesar de tudo isso, as Eleições de 2010 foram um deleite pra mim. Um dèbut no melhor estilo.
Ter tomado minha consciência política, definitivamente, num ano em que se consagrou Lula como o mais democrático e humano Presidente da nossa História; no momento em que eu percebi que o operário “comunista e analfabeto” foi o homem que, verdadeiramente, olhou para o povo deste país e o respeitou, ajudou e lhe devolveu a possibilidade e o direito de sonhar; no ano em que elegemos a primeira mulher Presidente do Brasil, uma guerrilheira (no melhor sentido da palavra, para ter suportado tão bravamente os ataques da oposição).
Ter aberto os olhos durante este processo eleitoral me faz sentir orgulho de ser brasileira por, finalmente, enxergar o quanto somos grandes, o quanto somos fortes, o quanto somos bravos.
E, absolutamente sem medo de ser feliz, entrego meus sonhos nas mãos da Dilma. Desejo a ela e a todos nós força e sorte na caminhada que, por muitas vezes, terá percalços, mas, enquanto providos de garra e fé na Democracia, seguiremos de cabeça erguida rumo ao futuro que nos espera de braços abertos.
Fonte: Blog Tijolaço.
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