Não despolitizem a política.
Marcos Pessoa
Em um país em desenvolvimento, com grande desigualdade social como o nosso não se pode querer ocultar a face política e ideológica das mudanças que se fazem necessárias para reduzir essa desigualdade, não se pode despolitizar uma campanha presidencial, tirar da disputa as raízes populares que induziram as aspirações por melhorias sociais, não se pode querer se apresentar como os novos gerenciadores da economia nacional ao estilo da elite tradicional, como quem quer dizer para essa elite: “Olha, nós somos iguais a vocês, apenas com um viés levemente mais social”. Enfim, não se deve, na busca de apagar um passado de arrogância sectária, se entregar a conciliação com as elites, cometendo o erro mais comum dos reformadores latino-americanos.
A direita sempre age politicamente, a sua ideologia é o conservadorismo, os seus métodos de ação perante aos adversários reformistas sempre é o de espalhar o medo das mudanças e de demonizar seus opositores, sempre foi assim e sempre será. Houve muita ingenuidade se alguém chegou a pensar que no contexto da atual eleição presidencial eles, a direita, iriam se ater ao debate comparativo sobre quem fez mais pelos pobres do país, assim como causa surpresa a “surpresa” de alguns frente a virulência dos membros da direita política nacional, os mesmos que compararam a atual campanha com a de 1989, como se fossem anormalidades, ignorando que sempre que houver um confronto direto com a direita a disputa será conduzida por eles nestes termos.
O erro daqueles que conduziram o governo Lula, ao lado do próprio, foi estratégico e não tático, ao acreditarem e cultivarem a despolitização do seu governo e crerem que também conseguiriam fazer seu sucessor nesse ambiente. Esses, mesmo que sejam vencedores, serão também um pouco derrotados pois tiveram que recorrer a politização e a mobilização das entidades representativas para garantirem a vitória de sua candidata. Aliás, que fique bem marcado que quem reagiu e deu a tônica para o ressurgimento de uma candidatura que começou a derreter no primeiro turno e parecia naufragar no segundo turno foram as mobilizações populares, os sindicatos, as entidades de classe, os artistas, os militantes voluntários nas ruas e na internet, tudo que o comando da campanha ou pelo menos parte dele desprezou ou fez questão de ignorar no primeiro turno.
Que esta campanha fique como exemplo da necessidade da politização para os governos de esquerda, a qual nunca deva ser abandonada pois ela é o ante-mural que nos protege contra o avanço da direita medieval, cínica e reacionária sempre disposta a destroçar os que se portam como ovelhas perto deles.
Fonte: Blog Tijolaço.
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