A identificar o "petróleo" que mais preocupa
por Robert L. Hirsch [*]
O "petróleo" mundial tem sido definido de diferentes modos por diferentes entidades. A International Energy Agency (IEA, da OCDE) e a Energy Information Administration (EIA, do governo dos EUA) definiram-no como o total de hidrocarbonetos líquidos – incluindo petróleo bruto, lease condensates [NT] , líquidos de gás natural, petróleo pesado, areias betuminosas, biocombustíveis e ganhos de processamento em refinarias. Nos seus estudos pormenorizados, Colin Campbell tem utilizado as seguintes categorias: 1) petróleo e gás convencionais; 2) petróleo pesado (<17,5 graus API) e betume; 3) petróleo extraído do xisto (obtido por aquecimento de rochas-fonte imaturas); 4) tight oil (também conhecido como petróleo de xisto, extraído por fracturação hidráulica de formações rochosas a que faltem adequadas porosidades e permeabilidades naturais); 5) petróleo de águas profundas (>500m); 6) petróleo polar; e 7) líquidos de gás natural (NGLs) de instalações de gás. Outros analistas optaram por utilizar o conteúdo energético como meio de diferenciação entre "petróleos convencionais" e líquidos com conteúdo energético mais baixo, tais como NGLs e biocombustíveis.
Estas e outras definições têm valor em diferentes contextos, mas desde há muito não estou satisfeito com elas no contexto da explicação para o público da tragédia iminente do "pico petrolífero". Também sinto que a expressão "pico petrolífero" tem inconvenientes, devido aos vários modos como a expressão tem sido definida. Prefiro a frase menos atraente "o iminente declínio dos combustíveis líquidos mundiais para os transportes", porque quando o declínio tiver início o mundo será confrontado com escassez de combustível para transportes e escalada de preços, o que serão as tragédias acerca das quais muitos na "comunidade do pico petrolífero" têm estado preocupados. Há alguns meses, perguntei a alguns colegas sobre definições alternativas de "petróleo" para melhor descrever a expressão de um modo que possa fazer mais sentido para um público mais vasto. Kjell Aleklett, professor de física na Universidade Uppsala, Suécia, sugeriu combustíveis utilizados para transportes produzidos em refinarias. Esse conceito impressionou-me e considerei-o como potencialmente utilizável e a prosseguir com ele. Para encurtar uma história longa, acredito que é uma tese convincente que o declínio dos combustíveis para os transportes mundiais marcará um grande ponto de viragem nas economias modernas, devido à importância dos mesmos para actividades humanas essenciais. A taxa de declínio inicial tem sido estimada por vários analistas e está aberta à incerteza, devido à miríade de variáveis envolvidas. A taxa de declínio a longo prazo ditará o grau de dano económico. Se for rápida, digamos de 3 a 5 por cento ano, provavelmente será catastrófica, mas se for inferior a 1 por cento por um período razoável, provavelmente poderá ser acomodada sem consequências graves. Os dados sobre a produção das refinarias mundiais estão disponíveis em várias fontes. Uma delas – a BP Statistical Review – apresenta a seguinte decomposição dos produtos das refinarias: destilados leves , consistentes de gasolinas para aviação e motores e destilados leves como matéria-prima;destilados médios , consistentes de querosenes para jacto e para aquecimento, e gasóleo (incluindo bancas marítimas); fuel óleo , incluindo bancas marítimas e petróleo bruto utilizado directamente como combustível; e outros , consistentes de gás de refinaria, GPL, solventes, coke de petróleo, lubrificantes, betume, cera, outros produtos refinados, combustível de refinaria e perdas. Esta decomposição conduz-nos a um longo caminho rumo ao isolamento dos combustíveis para transportes mas não até o fim. Os destilados leves e médios e os fuel-óleos abrangem os seguintes combustíveis para transportes: gasolinas para motores e aviação, jet fuel e gasóleos incluindo bancas marítimas. A categoria de "outros" inclui produtos geralmente não utilizados como combustíveis para transportes. As áreas problema incluem destilados leves para matéria-prima, querosenes para aquecimento e petróleo bruto não utilizado directamente como combustível para transporte, e os biocombustíveis, os quais, ainda que em pequena quantidade, precisam ser acrescentados como o único combustível de transportes não produzido em refinaria de petróleo. Ao reflectir sobre esta abordagem, o analista britânico Chris Skrebowski destacou os seguintes pontos: "Os seus destilados leves incluem light distillate feedstock (LDF) os quais para você e eu é nafta e não combustível para transportes. Grosseiramente, metade da nafta é utilizada como uma matéria-prima petroquímica e a outra metade como reformer feedstock para fabricar uma combinação de gasolina. Mas para evitar dupla contagem, assumo que eles só contam os números da gasolina acabada. Tipicamente, a nafta petroquímica representa cerca de 5% do barril do produto mas pode ser mais ou mais baixa.
A partir de uma análise que fiz utilizando dados da EIA e seguindo Skrebowski, assumi que 75 por cento da produção total mundial das refinarias será provavelmente uma boa primeira estimativa da produção mundial de combustíveis para transportes. Utilizando dados da BP Statistical Review, de Junho de 2012, estimei a produção mundial de combustíveis para transportes no período 2001-2011. Comparando isso com os dados da BP para a "Produção total (mundial) de petróleo", obteve-se o gráfico abaixo.
Dentre as conclusões deste exercício preliminar destacam-se as seguintes:
[NT] Lease condensates: Líquidos provenientes de furos de gás natural e que condensam à temperatura ambiente. |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
PETRÓLEO - O "petróleo" que mais preocupa.
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